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O poder destrutivo de Odebrecht

2017-03-03 01:30:00
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Regra geral nas investigações do tipo que vêm sendo conduzidas, o depoimento de Marcelo Odebrecht teve mais vazamentos que adutora consertada pelo Cid Gomes (PDT). O que veio a público confirma o que já vinha sendo dito. E é muito grave. Se confirmadas, as denúncias têm potencial para derrubar o governo Michel Temer (PMDB). Por menos que isso, muito menos, Dilma Rousseff (PT) sofreu impeachment. A própria ex-presidente, entretanto, também se complica muito com as declarações do maior empreiteiro do País.


Odebrecht confirmou repasses ilegais tanto a PT quanto a PMDB na campanha de 2014. Isso já tinha dado para perceber pelo que se comprovou na Lava Jato. Caso isso seja provado, desmonta-se a tese da defesa de Temer de desmembrar seu processo e o de Dilma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Não havia como votar em Dilma sem votar em Temer, e vice-versa. Da mesma maneira, era ridículo imaginar que uma campanha recebera recursos ilegais e a outra não. Era uma campanha só. Todavia, essa discussão nem importa mais, a se levar em conta o que afirma o empreiteiro. As duas pontas beberam da corrupção na mesma fonte. Ex-presidente e seu vice foram beneficiados por esquema fraudulento de licitações.


Há leituras de que Temer se safou no depoimento de Odebrecht. Pode-se até fazer ginástica jurídica para assim entender. Porém, o que foi afirmado compromete a chapa pela qual foi eleito e implica a participação do PMDB na campanha. Houve abuso de poder econômico do qual os eleitos se favoreceram. A vontade do eleitor foi distorcida, manipulada. O envolvimento direto com o crime, nesse caso, não é imprescindível. Quando um prefeito é cassado por compra de voto, não é necessário que o candidato estivesse distribuindo dinheiro pessoalmente, nem mesmo que tivesse conhecimento. O crime eleitoral é o bastante para anular os votos. É o caminho natural em relação à chapa Dilma/Temer.


Porém, entendo que a complicação em relação ao presidente é maior.


O PAPEL “GENÉRICO” DE TEMER

As informações vazadas apontam que Temer se reuniu com o empreiteiro, mas não tratou de valores. A tarefa teria ficado a cargo de Eliseu Padilha (PMDB), ministro licenciado da Casa Civil. O envolvimento do hoje presidente nas conversas já é grave o bastante. Que não tenha tratado de detalhes, nem mesmo feito pedidos diretos, é natural e não o livra de culpa. O pedido genérico que teria sido feito, em jantar na residência oficial, é escandaloso o bastante. Solicitação feita, encaminhou aos operadores para tratar dos pormenores. Há digitais do presidente do crime relatado por Odebrecht.

[FOTO1] 

O PAPEL DE DILMA

As primeiras informações indicam que Dilma, igualmente, saberia dos pagamentos feitos no Exterior, por intermédio do marqueteiro João Santana. A narrativa de um golpe injusto contra a ex-presidente inocente fica seriamente abalada caso isso se comprove. Escrevi aqui várias vezes que não penso que a argumentação oficial para o impeachment fosse motivo para tirar Dilma do poder. Usou-se pretexto para realizar o desejo político de mudar o governo. Do ponto de vista jurídico, um absurdo. O que não significa que não havia motivos para tirar Dilma. Penso haver muitas indicações de que razões existem. Bem diferentes, é verdade, das usadas no impeachment.

INTERMEDIÁRIOS PETISTAS

Os relatos apontam envolvimento de Antonio Palocci e Guido Mantega como intermediários do Planalto na era petista. Mesmo os petistas mais crédulos parecem ter se convencido de que Palocci estava mesmo enrolado. Isso depois de ele ser alçado duas vezes à condição de ministro mais poderoso do governo, queridinho dos mercados, e em ambas ter desmoronado devido a escândalos. Odebrecht complica também o homem da guinada desenvolvimentista durante os anos de maior popularidade do governo Lula, que caiu quando a economia degringolou sob sua gestão, no governo Dilma.

AS RAZÕES DO IMPEACHMENT

Se havia fatos tão graves contra Dilma, por que ela foi afastada por justificativas tão questionáveis? Fácil entender. O Congresso Nacional não teria cara para mergulhar nas investigações da Lava Jato, tampouco para condenar presidente por isso. Afinal, as cabeças coroadas do Poder Legislativo e as principais forças políticas ali representadas estão enroladas até o pescoço.

 

Érico Firmo

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