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Sim, senhor coronel

2017-10-29 00:00:00


Com uma goleada de 8 a 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a decisão de extinguir o TCM. O resultado configura uma importante vitória do grupo político de Ciro e Cid Gomes. Ao fim das contas, Domingos Filho foi a nocaute na segunda batalha da guerra política de 2018.
 


A primeira batalha foi a eleição para a presidência da Assembleia Legislativa. Para lembrar: Domingos bancou um nome e foi para a disputa. Nesse momento, estava em seu auge no TCM, fazendo articulação política às claras e já com um pé na presidência do órgão.
 


O bancado foi o deputado estadual Sérgio Aguiar, parente distante de Domingos e filho de outro conselheiro do TCM, Chico Aguiar. Atentem: tanto Domingos quanto Chico foram presidentes da Assembleia, continuaram fazendo política mesmo no TCM, comandam grupos políticos regionais e têm filhos com mandato.

 

Por pouco, Sérgio não saiu vencedor na Assembleia. Mesmo que o deputado fosse um cidista de carteirinha, seria a mais dura derrota imposta ao grupo dos Ferreira Gomes, que queria Zezinho Albuquerque fincando raízes no cargo. Mas, Governo é Governo. Caneta é caneta. Diante do risco, a Caterpillar ligou seus motores e avançou.

 

No fim das contas, Zezinho na cabeça. Porém, não foi o suficiente. Era preciso dar uma lição em Domingos, o ex-aliado que tentou dar dimensão ao seu próprio grupo em vez de apenas ser um componente do grupo ferreirista. O que fazer mais para que todos entendam quem manda? Simples, aniquila-se o TCM.

 

Dito e feito. Na tarde da última quinta-feira, em Brasília, oito ministros do Supremo colocaram um ponto final neste capítulo.

 

Resta a Domingos descansar no sétimo dia, refazer as forças e encarar as outras batalhas que se avizinham. E o que fez Sérgio Aguiar, o deputado que quis ser presidente da Assembleia sem o aval de Ciro? Aconselhado pelo pai, Sérgio se recolheu e voltou a ser um fiel escudeiro do grupo que detém a hegemonia da política cearense.

 

O relato mostra bem como a nossa política funciona. O poder do Governo continua determinando as coisas em nossas paragens. Como conta a piada, pode até mudar o governante, mas o modelo continuará esse. Esse modelo fica ainda mais marcante quando quem está no comando é um grupo político familiar formado por profissionais do ramo.

 

A propósito, o grupo continuará dando as cartas até que se instale mais uma vez o clima da mudança e os senhores eleitores resolverem substituir os plantonistas da vez.

 

PARTIDO HOSPEDEIRO

 

Por falar em poder, por onde anda o PT do Ceará? Tempos estranhos, não? Afinal, o governador é do PT, mas o PT não manda em nadica de nada no Governo. É apenas a legenda pela qual Camilo Santana se elegeu governador. Quem diria. O PT virou, para o grupo cirista e seus comandados, uma espécie de partido hospedeiro. Ou melhor, de aluguel.

 

Em troca da hospedagem, umas boquinhas administrativas. Pronto. Está resolvido. Nem a voz da deputada federal Luizianne Lins se ouve mais. A petista anda recolhida em Brasília em comissões relacionadas a velhas causas, digamos, feministas. Parece tolerar essa situação. Afinal, seu aliado Elmano Freitas é um fiel camilista na Assembleia.
 

Enfim, além de hospedeiro, o PT caminha célere para se manter apenas como sócio minoritário da capitania controlada pelo imperativo grupo ao qual o governador e o petismo parecem servir.

 

PSDB DO B
 

 

E o senador Tasso Jereissati? Pois é. O tucano aparenta estar se metendo numa disputa aparentemente sem volta e arriscada. A última notícia da noite da última sexta-feira, quando este texto estava em produção, apontava que o senador estaria disposto a enfrentar uma eleição interna pela presidência nacional do PSDB.

 

O PSDB não é disso não. Nem Tasso. Leitura: o veterano tucano e um grupo mais jovem do partido (cabeças pretas) vai para o enfrentamento seguindo uma linha clássica. Se ganhar, ótimo. Se perder, estão criadas as condições para deixar o partido.

 

A situação do senador não é confortável. Tasso votou para que Aécio Neves continuasse senador, mas trabalha com ardor para que Aécio deixe a presidência do PSDB. Ou seja, o mineiro até que serve para ser senador, mas não para presidir a sigla. Contraditório, não é?

 

Tasso comemora a maioria tucana na Câmara dos Deputados na votação da denúncia contra Temer. Porém, não conseguiu o único voto tucano cearense. No caso, o do deputado Federal Raimundo Matos.

 

Enquanto isso, no Ceará, o senador continua sendo pressionado a candidatar-se a governador. Um conjunto de difíceis decisões a serem tomadas entre abismos.
 

 

O POVO É SÁBIO
 

 

Por aí e alhures, tornou-se comum ouvir de, com todo o respeito, francos torcedores da era Lula-Dilma o seguinte comentário e suas variantes: “Cadê aquele povo que diz que foi para rua para combater a corrupção? Por que não estão na rua protestando contra Temer?”

 

Há uma certa ignorância misturada com esperteza nesse tipo de comentário. Milhões foram às ruas pelo impeachment de Dilma não somente pela corrupção que assolava o País, mas principalmente pelo descalabro administrativo que levou o Brasil à bancarrota e à maior recessão de sua história.

 

A corrupção é sempre um grande motivo para protestar, mas raramente é o principal. Em 2013, a principal bandeira das ruas era contra a precariedade dos serviços públicos. Em 2015/16, com a Lava Jato no ar, a corrupção desvendada aos borbotões foi leitmotiv das manifestações. Porém, a recessão cavalar determinou o andamento das coisas.
 


E por que não há protestos contra Michel Temer? Até que há. Um dia desses, depredaram Brasília. Porém, é manifestação de militante organizado. Os desorganizados não estão indo às ruas simplesmente porque o presidente e sua equipe econômica conseguiram tirar o País da recessão.

 

Então, prevalece o raciocínio do “deixa como está”. O que não significa apoio ao presidente. Pelo contrário. As pesquisas estão aí para comprovar que a grandiosa maioria apenas tolera a permanência de Temer como uma necessária passagem da agonia temporária. Isso, até a próxima eleição presidencial.

Fábio Campos

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