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A estrela de Tabby e a esfera de Dyson

2017-09-10 00:00:00
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Por José Evangelista

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A sonda espacial Kepler, lançada em 2009 para procurar planetas extrassolares, já descobriu milhares deles. Uma das técnicas usadas para esse fim consiste em observar variações na luminosidade da estrela quando um planeta passa entre ela e a sonda. Essa passagem causa uma pequena depressão na curva de luminosidade da estrela. São variações pequenas, em geral menores que 2% da luminosidade normal e são periódicas, já que causadas por um planeta em órbita.


Pois em 2015, a astrônoma Tabetha Boiajian (chamada de Tabby pelos colegas) descobriu que uma das estrelas vistas pelo Kepler tinha um comportamento muito estranho. As depressões na luminosidade dessa estrela são bem mais fortes que o usual, chegando a 20%. Além disso, não são periódicas, logo não são causadas por um planeta. Nenhuma de 500 outras estrelas na vizinhança apresenta comportamento similar.


E tem mais: outros astrônomos, intrigados com o comportamento fora do usual dessa estrela, logo descobriram que sua luminosidade total está diminuindo gradualmente com o passar do tempo. Desde sua descoberta, o brilho total da estrela já caiu quase 4%, o que é inexplicável.

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O comportamento inusitado dessa estrela, que ficou conhecida como “estrela de Tabby”, causou enorme interesse na comunidade astronômica e logo começaram a surgir explicações para ele. Vejamos algumas consideradas mais promissoras


1 – Um enxame de cometas estaria circulando a estrela. Como os cometas estariam espalhados em posições variadas, causariam depressões irregulares na curva de luminosidade. Mas há um problema: a luz da estrela necessariamente aqueceria os cometas e o calor gerado teria de ser dissipado como radiação infravermelha (calor). E não se detecta nenhum excesso de infravermelho na região da estrela. Além disso, essa hipótese não daria uma razão para a queda contínua da luminosidade total da estrela.


2- A própria estrela estaria apresentando essas variações. Realmente, algumas estrelas, muito raramente, têm esse tipo de comportamento. Mas as variações são muito menos intensas e só ocorrem em estrelas muito novas e quentes, o que não é o caso da estrela de Tabby, que é uma estrela de meia idade.


Enfim, todas as explicações naturais apresentadas são plausíveis, mas não são inteiramente conclusivas. Surgiu, então, uma explicação bem mais audaciosa: a estrela de Tabby estaria envolvida em uma esfera de Dyson.


Na década de 1960, o físico inglês Freeman Dyson argumentou que toda civilização tecnologicamente muito avançada precisaria, eventualmente, de mais energia do que aquela disponível em seu planeta de origem. A solução mais óbvia seria aproveitar por completo a energia emitida pela estrela central. Os alienígenas construiriam um sistema de enormes painéis para coletar a luz da estrela e transformá-la, pelo menos parcialmente, em energia utilizável. É claro que, passando pela linha entre a estrela e o telescópio Kepler, os painéis causariam depressões não periódicas na curva de luminosidade.


O problema com essa explicação é o mesmo que existe para o enxame de cometas: a ausência de radiação infravermelha. Placas coletoras, mesmo se feitas por altas tecnologias, não podem fugir das leis da física e teriam sempre de dissipar o calor gerado pela luz da estrela. Alguns proponentes da hipótese alienígena argumentam que é possível concentrar esse calor ou transformá-lo em radiação eletromagnética de qualquer outra frequência que seria, talvez, emitida em uma direção que não chegaria ao Kepler.


Por enquanto, todas as explicações, naturais ou não, estão na mesa e podem ser comprovadas ou eliminadas. Em maio desse ano, surgiram novas depressões na luminosidade da estrela de Tabby e as observações dos astrônomos se intensificaram. É possível que, em breve, tenhamos novidades mais consistentes.


É claro que a minha preferência — e, tenho certeza, da maioria de meus leitores — fica com a hipótese de uma esfera de Dyson, por mais improvável que seja no momento. Pelo menos até que algum astrônomo desmancha-prazeres apresente argumentos irrespondíveis para alguma proposta mais sem graça.


Resta esperar para ver.


Adriano Nogueira

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