Equipe cearense de Goalball sonha com torneios nacionais e busca patrocínios
Atualmente, o Goalball Bom Viver, realiza seus treinos às terças e quintas na quadra da escola João Mendes de Andrade, no bairro Granja Lisboa
07:30 | Jul. 09, 2025
Em uma modalidade na qual bolas com guizos guiam a percepção e linhas delimitam o espaço, o tato e a audição conduzem pessoas com diferentes níveis de deficiência visual a se encontrar na prática esportiva. Criado com o propósito de reabilitar soldados que participaram da Segunda Guerra Mundial, o Goalball evoluiu e se tornou uma das principais modalidades paralímpicas, principalmente no Brasil.
Contudo, apesar do crescimento da modalidade no cenário nacional, a dificuldade em praticar o esporte segue sendo relatada pelos paratletas, inclusive em Fortaleza. Entre eles, o técnico em Massoterapia, Sancler Venturynne.
Idealizador e também atleta do projeto cearense Goalball Bom Viver, Sancler relatou, ao Esportes O POVO, sua motivação para a criação e quais as dificuldades encontrou para movimentar o esporte em território cearense. Apesar disso, conseguiu dar vida à ideia, formou uma equipe e sonha com voos mais altos.
“O projeto foi idealizado a partir da vontade de ter um time mais profissional para jogar. Só que, aqui no Ceará, não existe nenhum local que tenha treinos focados nesse objetivo. Comecei, então, a sondar algumas associações que abraçassem a modalidade”, recordou.
“Foi quando, após bater em algumas portas, cheguei na Associação Bom Viver Brilhos Flores — para pessoas com deficiência —, localizada no bairro Granja Lisboa. Eu sabia que lá, financeiramente, não teriam como nos ajudar, pois eles não possuem recurso para custear os equipamentos de treinos e os insumos (como fitas e barbantes para marcação da quadra)”, completou.
Segundo ele, para participar das competições regionais e nacionais de Goalball, as equipes precisam estar filiadas à Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV). No entanto, a filiação só é possível caso a equipe esteja vinculada a alguma associação.
Planos maiores
Com a conquista da parceria, o projeto deixou o campo das ideias e ganhou vida na prática. Segundo relatos do idealizador, é na quadra da escola João Mendes de Andrade, no bairro Granja Lisboa, que, às terças e quintas, dez paratletas cearenses treinam em busca de seus sonhos.
“Aqui (no Ceará) existem várias pessoas que conhecem a modalidade, mas não possuem um local para treinar profissionalmente, montar uma equipe de alto rendimento. Temos atletas cearenses que, por gostarem demais desse esporte, vão para outros Estados para jogar”, relatou Sancler Venturynne.
De acordo com o idealizador do projeto, como o Ceará não tinha equipes da modalidade, era normal o êxodo dos jogadores. No entanto, com o advento do Goalball Bom Viver, eles agora sonham com duelos nacionais, e, quem sabe, até mundiais.
“Aqui é um dos lugares, se não for o único, que não tem essa modalidade profissionalmente e de alto rendimento. E olha que estamos falando de um dos, se não, o estado mais rico do Nordeste. Apesar disso, o nosso objetivo é competir no Regional Nordeste e, até mesmo, chegar no Brasileiro ou no Mundial”, projetou.
Treinador voluntário
Após a concepção do time, engajamento dos atletas e a conquista de um local para realizar os treinos, faltava uma peça: o treinador. Foi então que o educador físico Carlos Alexandre Alves do Nascimento embarcou na ideia.
Porém, conforme Sancler, uma das necessidades da equipe é conseguir recursos para auxiliar Carlos, tendo em vista que o trabalho do técnico é de forma voluntária.
“O nosso treinador hoje está fazendo um trabalho voluntário. É muito importante conseguirmos maneiras de pagar ou dar uma ajuda de custo para o nosso treinador, que hoje em dia nos treina com muita boa vontade, tirando dinheiro do bolso dele para colocar combustível para ir nos treinar de forma muito dedicada, além de nos incentivar muito”, exaltou Venturynne.
Além do suporte financeiro ao comandante, os atletas buscam outros educadores físicos que se interessam em trabalhar no projeto, também de forma voluntária. “Estamos também atrás de outros professores de Educação Física que queiram trabalhar com essas modalidades de forma voluntária. Sabemos que não é fácil. Mas seria bom também ter um treinador a mais”, ponderou.
Apoio aos atletas
Apesar do alto engajamento dos dez atletas que atualmente fazem parte do projeto, entre homens e mulheres, a ausência de materiais de treino também é uma dificuldade no dia a dia.
“Atualmente, dez atletas fazem parte do projeto, sendo cinco atletas no feminino e cinco no masculino, embora nem todos estejam indo aos treinos, por falta de equipamentos para proteção do treino”, lamentou Sancler.
Por ser um esporte em que, em muitos momentos, os jogadores estão com várias partes do corpo em contato com o solo, é de suma importância a utilização de proteções corporais, como joelheiras, cotoveleiras, óculos de venda e calça de goleiro.
“Esses equipamentos são fundamentais para proteção e o melhor desenvolvimento da modalidade. Por isso, ainda não fiz o convite abertamente para todos, pois não tenho como fornecer esses equipamentos de proteção”, explicou.
Por mais que o Goalball Bom Viver, desde seu início, passe por todas essas dificuldades, Sancler garante que, além dele, os atletas do projeto também seguem esperançosos e confiantes na participação da equipe em torneios nacionais.
“Eles (atletas), assim como eu, estão muito confiantes que iremos conseguir patrocínios para seguir em frente com esse projeto. Pois a vontade de todos que estão lá é que o time aconteça e que possamos ganhar as quadras do Brasil afora, representando o nosso Ceará”, afirmou.
Serviço
Projeto Goalball Bom Viver:
- Dias de trenos: Terças e quintas à noite
- Local: Escola João Mendes de Andrade, no bairro Granja Lisboa
- Contato: Sancler Venturynne - (85) 99222-8504
Goalball: conheça a modalidade
O Goalball é um esporte coletivo exclusivo para atletas com deficiência visual, criado na Áustria, em 1946, como uma forma de reabilitação para os soldados que estiveram na Segunda Guerra Mundial.
Para disputá-lo, cada equipe utiliza três jogadores (podendo ter até três reservas), distribuídos em uma quadra de tamanho 18x9 — mesmas proporções de uma quadra de vôlei —, que possui marcações táteis para orientação dos paratletas.
Durantes os dois tempos de 12 minutos, cada equipe tem por objetivo arremessar uma bola com guizo (sino interno) para o gol adversário e impedir gols defendendo com o corpo.
Por ser exclusivo para pessoas com deficiência visual, o esporte contém três categorias, definidas pela International Blind Sports Federation (IBSA), que diferenciam os paratletas, sendo elas B1, B2 e B3, de acordo com o nível de visão.
É importante ressaltar que, independentemente da classificação, todos os paratletas devem utilizar vendas opacas nos olhos, garantindo uma igualdade na competição, tornando o esporte focado em audição, tempo de reação e posicionamento.
O Brasil é destaque na modalidade tanto no masculino quanto no feminino: a seleção masculina é a atual tricampeã mundial e conquistou medalha de ouro em Tóquio-2020 e bronze nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024; a equipe feminina faturou o bronze na Paralímpiada de Tóquio-2020.