Análise: saiba os cuidados que o Ceará deve ter contra o intenso e agressivo La Guaira

O Esportes O POVO analisou as partidas do clube venezuelano e traçou as principais características táticas da equipe de Daniel Farías, que lidera o campeonato nacional

15:33 | Abr. 11, 2022

Time base do Deportivo La Guaira, adversário venezuelano do Ceará na Copa Sul-Americana. (foto: Fernando Oduber/Dvo La Guaira)

O Ceará joga contra o Deportivo La Guaira, da Venezuela, nesta terça-feira, 12, em duelo válido pela segunda rodada da fase de grupos da Copa Sul-Americana. Líder do Campeonato Venezuelano, com 14 pontos em sete partidas, a equipe treinada por Daniel Farías empatou a primeira rodada do torneio continental e vem de derrota para o Caracas no último sábado, 9, pelo Nacional.

Intenso e agressivo, o time do La Guaira promete um jogo difícil e pegado contra o Vovô. O Esportes O POVO analisou as partidas do clube venezuelano e traçou as principais características táticas da equipe.

Sistema tático

O Deportivo La Guaira joga em um 3-5-2 bem definido, com apenas um volante, Flores, e dois meias, Cumana e Herrera, mais adiantados. Nas alas, Silva e Ovalle formam uma linha de quatro com os dois meio-campistas mais avançados e também são opções na saída de bola pelas laterais com os três zagueiros. Os dois atacantes, Unrein e Bolívar, atuam centralizados, com o primeiro caindo mais para as pontas para servir de opção de passe.

Apesar de promover algumas mudanças na equipe titular, Daniel Farías não altera o sistema tático e muito menos o modelo de jogo, marcado pela entrega dos jogadores para recuperar a bola a todo momento e em todos os setores do campo.

Saída de bola

O Deportivo La Guaira realiza a saída de bola com os três zagueiros, Lamantía, Ramos e Aramburu, que têm boa qualidade para sair jogando, e contam com o auxílio do volante Flores, que fica posicionado à frente da linha de três defensores e é responsável por realizar a transição entre defesa e ataque, além de sempre criar linhas de passe para os alas quando são acionados no campo de defesa no início da fase ofensiva.

Quando há pressão na saída de bola e a equipe não tem a intenção de realizar o lançamento direto, é comum Flores receber auxílio de um dos zagueiros e o goleiro, Olses, realiza a saída de três, com mais uma opção de passe ao lado do camisa 8.

Com a participação do goleiro, o time cria superioridade numérica e reforça a segurança em caso de perder a bola na defesa.

Fase ofensiva

Durante a fase ofensiva, o Deportivo La Guaira forma um 3-1-4-2, com Flores recuado, posicionado à frente dos zagueiros e atrás dos meias, com a função de armar o jogo.

A escolha por um volante e dois meias posicionados à frente gera uma maior verticalização do jogo. Ou seja, durante a saída de bola ou na construção de jogadas, já com a equipe postada totalmente no campo do adversário, Cumana e Herrera são duas opções de passe que centralizam as ações ofensivas pelo meio e ainda atraem a marcação para o avanço de um dos alas.

Como é uma equipe que ataca sempre que tem a posse da bola, os dois meias à frente de Flores, junto aos atacantes também centralizados, facilitam a construção de jogadas. Quando acionados, o La Guaira consegue, na maioria das vezes, quebrar as linhas adversárias e atacar o adversário fragilizado.

Devido à qualidade na saída de bola, o time constrói com passes curtos e rápidos a partir do momento em que um dos homens de frente recebe a bola, incluindo os alas, que ao receberem apoio dos meias conseguem fazer com que a equipe progrida em velocidade.

Fase defensiva

Durante a fase defensiva, o Deportivo La Guaira estabelece um 5-3-2, com muito empenho na marcação de todos os jogadores, inclusive dos atacantes.

Quando o oponente está construindo o jogo no campo de defesa, o La Guaira realiza uma marcação em bloco com a linha de 5, que faz encaixes individuais quando um jogador de frente do oponente é acionado.

Porém, os homens de ataque pressionam a todo momento os defensores rivais que estão com a bola, realizando uma marcação que é conhecida como “zona pressionante”, na qual os jogadores do time de Daniel Farías coordenam as ações para ir em busca de recuperar a bola a todo instante, principalmente no setor defensivo do adversário, onde as chances de gol crescem em caso de uma eventual retomada da posse.

Como o time tem apenas um volante pelo meio auxiliando a defesa, essa marcação pressão exige bastante intensidade e preparo físico dos atletas. A zona pressionante tem a intenção não só de diminuir as ações dos adversários com a bola, induzindo ao erro de passe e a lançamentos longos, mas também de direcionar os oponentes ao lado do campo, onde a marcação é mais forte, buscando evitar as jogadas pelo centro, onde o atleta fica de frente para o gol.

Além de verticalizarem o jogo durante a fase ofensiva, os meias mais adiantados, Cumana e Herrera, também contribuem para pressionar os defensores do adversário, sufocando-os ainda no campo de defesa, setor no qual também contam com o apoio de Unrein e Bolívar. Dessa forma, Daniel Farías reforça a tese de que atacar bem é a melhor defesa.

Com a postura de pressionar a todo momento para encurtar os espaços dos adversários com a posse, na saída de bola o Deportivo La Guaira não é diferente. O time realiza os encaixes nos defensores e os obrigam a realizar lançamentos em busca dos companheiros de frente, na intenção de recuperar a bola e reiniciar a fase ofensiva.

Transições

Transição ofensiva

Adepto da marcação pressão, o time do Deportivo La Guaira aproveita muito o momento em que recupera a bola. Com muitos jogadores empenhados na recuperação da posse, o time consegue, em muitos momentos, retomá-la no campo adversário e atacar de forma rápida.

Enquanto constrói o jogo e em algum momento perde a bola, o time rapidamente realiza a pressão pós-perda a fim de reconquistar a posse o mais rápido possível e reiniciar a fase ofensiva. Quando a equipe está totalmente postada no campo de ataque, Flores é essencial para iniciar esse movimento, já que o volante, ao ver o companheiro perdendo a posse de bola, rapidamente avança para encurtar os espaços úteis do adversário nesse momento.

A construção rápida de ataque é mais eficiente durante os contra-ataques, onde os oponentes estão mais fragilizados defensivamente. Portanto, Daniel Farías ordena os jogadores a progredirem em velocidade. Posicionados na frente a todo momento, Unrein e Bolívar são geralmente acionados como referência, enquanto os demais companheiros saem em apoio aos atacantes em direção ao gol.

Transição defensiva

O Deportivo La Guaira, quando perde a posse, realiza o perde-pressiona. No entanto, quando o adversário consegue livrar-se da pressão e encontra espaços para o contra-ataque, a equipe imediatamente busca recompor, ocupando principalmente os espaços centrais da defesa e induzindo o adversário a atacar as pontas. Essa estratégia, portanto, resulta no atraso das ações de ataque do oponente, que permite a recomposição da equipe.

No entanto, quando os rivais ultrapassam as linhas pressionantes do La Guaira e prosseguem em velocidade, a equipe fica bastante fragilizada, uma vez que os zagueiros e os próprios alas buscam fechar a marcação pelo meio, o que acarreta na abertura de espaços nas costas dos homens de lado da defesa.

Quando o oponente consegue livrar-se da marcação de Flores, último homem de combate no setor de meio-campo do La Guaira, a defesa desorganiza-se mais do que o normal, uma vez que as linhas são quebradas para um dos três zagueiros sair da posição e ir de encontro ao portador da bola. Desta maneira, a defesa aos poucos fragmenta-se e permite a infiltração dos adversários.