Coletivo das Torcidas LGBTQ ingressa no STJD contra Atlético-MG, Ceará, Corinthians e outros cinco clubes

Fluminense, Internacional, Náutico, Paysandu e Remo também foram incluídos na denúncia por cantos homofóbicos da torcida

19:51 | Dez. 07, 2021

Denunciado serão julgados pela justiça desportiva em junho (foto: Daniela Lameira/Site STJD)

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva comunicou o recebimento de sete Notícias de Infração envolvendo oito clubes brasileiros em função de cantos homofóbicos de suas torcidas. O material foi encaminhado para análise do Procurador-geral Ronaldo Piacente, que pode enquadrar as instituições no artigo 243-G por ato discriminatório.

Quem ingressou com as Notícias de Infração foi o coletivo de torcidas Canarinhos LGBTQ, que elaborou documento de 44 páginas, detalhando o que chamam de ações homofóbicas praticadas por torcedores, jogadores e presidentes dos clubes citados. No documento, são descritos e apresentados vídeos de episódios em que são realizados cânticos com palavras de cunho homofóbico.

Onã Rudá, fundador do coletivo de torcidas Canarinhos LGBTQ, destaca que os estádios de futebol continuam sendo um ambiente violento para pessoas LGBTQIA+. “Temos dado passos na inclusão e diversidade no futebol, mas ainda temos muitos desafios, em alguns clubes do Brasil como aqui no Bahia que tem um trabalho forte, mas também no Vasco e Botafogo já é possível ver pessoas LGBTQIAP+ indo de forma tranquila e sem importunação assistir aos jogos, infelizmente essa não é a realidade da maioria das torcidas LGBTQIAP+”, ressalta.

Entre os episódios mostrados, há um caso do Ceará Sporting Club ocorrido durante o jogo contra o Corinthians, realizado no dia 25 de novembro, no Castelão. Segundo o Coletivo das Torcidas LGBTQ, em vídeo juntado, é possível ouvir um coro gigantesco gritando: "A tuf é gay" e "matador de leão e come c* de tufgay", se referindo ao clube adversário, Fortaleza. Há outros episódios narrados de partidas dos dias 14 e 17 de novembro, também da Série A. Através da assessoria de imprensa, o clube disse que aguarda a notificação da denúncia e que só irá se manifestar sobre o assunto após o fim do processo.

Outro caso relatado envolvendo um time nordestino é o Clube Náutico Capibaribe, em partida válida pela Série B diante do Sampaio Corrêa, no dia 15 de novembro, no Estádio dos Aflitos, em Recife-PE.

LEIA OS TEORES DA DENUNCIA

No dia 15 de setembro, na vitória do Flamengo por 2 a 0 sobre o Grêmio, no Maracanã, a torcida rubro-negra entoou cântico: "Arerê, gaúcho dá o c* e fala tchê". Os vídeos circularam nas redes sociais dias depois e chegaram ao Canarinhos LGBTQ+, que organizou um Observatório para coletar e encaminhar casos de LGBTfobia no futebol. A notícia de infração foi apresentada a Procuradoria, que acatou e denunciou o clube carioca e os árbitros da partida. 

A Primeira Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), então, decidiu pela multa de R$ 50 mil (50% do teto). Apesar de caber recurso, o clube acatou a decisão. Segundo a corte, foi a primeira punição a um clube por cantos homofóbicos.

Onã Rudá afirmou que o Canarinhos LGBTQ lançará em breve lançaremos o 1° anuário do observatório de LGBTfobia no futebol. O registro trará um conjunto de informações e dados sobre episódios que o coletivo mapeou. “O documento será um raio X com quase todos os episódios que envolvem pessoas LGBTQIAP+ e o futebol, tanto de forma positiva com as ações, iniciativas e pronunciamento dos clubes em datas especiais, quanto de episódios de LGBTfobia dentro e fora de campo.” explica Onã Rudá.

O Canarinhos LGBTQ é uma articulação nacional de torcidas que visa combater a LGBTfobia no futebol. Foi fundada por Onã Rudá, criador de conteúdo sobre diversidade e coordenador da área de esportes da Aliança Internacional LGBT. O coletivo reúne torcidas LGBTQIA+ dos seguintes clubes: ABC-RN, Vitória-BA, Paysandu-PA, Vasco-RJ, Bahia, Athletico Paranaense, Ceará, Cruzeiro-MG, Paraná, Corinthians-SP, Palmeiras-SP, Coritiba-PR e Santa Cruz-PE.