BBB 23: especialistas analisam posição de juiz assumida pelo público
Especialistas refletem sobre a relação acalorada do público com o Big Brother Brasil, que começa sua 23ª edição nesta segunda-feira, 16 de janeiro
13:34 | Jan. 16, 2023
Divulgar o dia a dia é uma atividade feita voluntariamente por usuários das redes sociais. Há uma certa curiosidade pela vida alheia, porém internautas têm autonomia para decidir o quê, quando e como postar. Imagine ser confinado em uma casa e filmado 24 horas por dia sem poder determinar o que será mostrado? É um desafio que extrapola os filtros do Instagram. Nesta segunda-feira, 16 de janeiro, a 23ª edição do Big Brother Brasil tem início e os confinados terão as rotinas acompanhadas (e os atos devidamente julgados).
Com 22 participantes no elenco, incluindo famosos e anônimos, o reality show é um dos mais populares do País. Nos últimos anos, o público do BBB passou a acompanhar não apenas do sofá, mas também através das plataformas virtuais. "Se olharmos a base de fãs da Juliette (vencedora do BBB 21), por exemplo, talvez os 'cactos' não conseguissem se articular tanto se não fossem esses espaços de integração proporcionados por esses meios digitais. Poder usar e saber usar esses recursos faz uma diferença significativa para mobilizar as bases, amplificar as pautas e pautar a agenda pública com certas discussões", afirma Georgia Cruz, pesquisadora de Comunicação e Tecnologias e professora do curso de Sistemas e Mídias Digitais da UFC.
Não necessariamente esse engajamento é sempre positivo. Os participantes que topam participar do reality show estão sujeitos às críticas do público, que na maioria das vezes não costuma perdoar deslizes. "É um fenômeno comum encontrarmos internautas expressando opiniões que não o fariam se estivessem na presença da pessoa-alvo da opinião. Precisamos considerar que, como qualquer encenação, um reality pode provocar afetos que demandam expressão, e o ambiente virtual da internet pode parecer o lugar perfeito para falar sem grandes consequências pessoais, acreditando que há uma distância segura entre quem fala e quem é falado", explica o psicanalista Mauro Reis.
Em 2020, Bianca Andrade, influenciadora digital com milhões de seguidores, saiu em seu segundo paredão, mesmo quando alguns participantes tinham certeza da sua permanência, baseados na popularidade da blogueira. Em 2021, a cantora Karol Conká foi eliminada do programa com a maior porcentagem já vista: 99,17%. São diversos fatores que motivam esses resultados, mas os dados mostram que, independentemente do elenco escolhido, sempre há um participante supremo e protagonista: o público.
São os telespectadores que definem o futuro do programa. As análises feitas por diferentes pessoas impulsionam leituras de jogo variadas, mas diferentemente dos confinados, o público vê tudo, até 24 horas por dia, se assim o quiser. "O elemento de curiosidade sobre a vida privada desperta interesse. E não podemos esquecer que o programa é um jogo, então há sempre o ponto lúdico, com uma competição e a possibilidade de ganho muito clara e plausível. Poder acompanhar o programa e seus produtos midiáticos derivados por diversos meios e canais também acaba sendo um fator de engajamento, porque o BBB acaba tendo esse lado pervasivo e permite que qualquer um, mesmo quem não estava acompanhando detidamente todos os detalhes, possa fazer parte da conversa", declara Georgia.
A pesquisadora destaca alguns fatores que são responsáveis pelo sucesso do programa: seleção de elenco, narrativa do programa e nível de performance e entrega de cada participante. Ela acredita que a edição de 2022, considerada um fracasso por parte do público, foi prejudicada por dois elementos: situação política do País e exposição do elenco.
"Acho que no cenário do ano passado houve uma disputa entre os discursos dentro da casa e o momento político-social do país. A capacidade de exposição dos participantes também é um fator que interfere nesse sucesso. O caso Karol Conká fez com que os participantes do camarote tenham cada vez mais receio dos impactos que suas posturas dentro da causa possam ter nas suas carreiras. Isso acaba interferindo na espontaneidade da participação e deixando o programa morno", aponta.
Por fim, a análise da pesquisadora mostra que, mesmo com um público tão engajado, o programa depende de sua estrutura para garantir a aprovação dos telespectadores. As redes sociais não são suficientes para promover o reality se ele por si mesmo não for tão atrativo.
Histórico do Big Brother Brasil
Selecionar pessoas comuns para conviverem juntas dentro de uma mesma casa vigiada por câmeras 24 horas por dia. Foi em 1999, na Holanda, que John de Mol, executivo de televisão e sócio da empresa Endemol, teve a ideia de criar o Big Brother. Há teorias de que o nome foi inspirado no personagem do livro "1984" de George Orwell, onde o Grande Irmão é o líder supremo de uma sociedade distópica e controla tudo e todos.
Logo, o formato se espalhou por diversos países e fez o Big Brother se tornar um dos reality shows mais famosos do mundo. Na Argentina, o formato ganhou o nome de Gran Hermano. Na Itália, passou a ser chamado de Grande Fratello. Em 2002, surgiu na TV Globo o Big Brother Brasil, consolidando a versão brasileira como uma das mais populares e lucrativas.
Exemplo do sucesso foi quando o BBB entrou no Guinness World Records em 2020. O décimo paredão da temporada, disputado por Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzalez, conquistou a maior votação de reality shows no mundo, com mais de 1,5 bilhão de votos. Na ocasião, Prior deixou o programa com 56% dos votos.
Com 21 anos de história e chegando a sua 23ª edição, o Big Brother Brasil ganhou ainda mais destaque a partir de 2020, quando o elenco passou a ser dividido em Camarote, pessoas famosas, e Pipoca, pessoas anônimas.
Premiação do BBB 23
A casa mais vigiada do Brasil abre suas portas nesta segunda, 16 de janeiro. Com 22 participantes, o BBB 23 mantém o formato de unir famosos e anônimos no elenco. A nova edição traz uma novidade que promete movimentar o jogo: o aumento do prêmio final.
Desde 2010, o vencedor do programa recebe R$ 1,5 milhão. Nas últimas edições, telespectadores pediam pelo aumento do prêmio, tendo em vista que a cada ano o reality show bate recorde de arrecadação com patrocinadores, chegando a R$ 1 bilhão na edição passada. A exigência se tornou ainda mais intensa com a presença de famosos, tendo em vista que alguns deles já são milionários e o prêmio de R$ 1,5 milhão não seria tão atraente.
A partir deste ano, a dinâmica do prêmio muda. Os participantes que voltarem do paredão terão recompensas em dinheiro. O valor fixo ainda não foi divulgado, mas o apresentador Tadeu Schmidt garantiu que o prêmio final será o maior da história do programa.
BBB 23
Quando: segunda, 16 de janeiro, às 22h25min
Onde: TV Globo
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