Covid-19: Ceará tem 76 casos prováveis de reinfecção; há 124 suspeitos
Investigação.Dois testes
00:30 | Fev. 20, 2021
Total de 76 casos prováveis de reinfecção por Covid-19 foram registrados no Ceará. Cada um deles caracteriza pessoas que apresentaram dois testes moleculares (RT-PCR) positivos para doença em um intervalo mínimo determinado — 90 dias de diferença para os assintomáticos e 45 dias para os que apresentaram sintomas clínicos. A Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) ainda investiga pelo menos outros 124 casos suspeitos de reinfecção.
Não é possível, no entanto, confirmar que os casos realmente são de reinfecção. Para isso, a Sesa precisaria submeter as amostras coletadas dos dois episódios ao sequenciamento genético viral, comprovando diferença significativa entre as duas cepas virais. Esse critério é defendido pela Organização Panamericana de Saúde (Opas/OMS), a qual a secretária resolveu adotar para fazer a classificação.
Em nota técnica divulgada na última terça-feira, 16, a pasta disse que até tentou fazer essa análise por meio do Instituto Evandro Chagas (LVR-IEC) — órgão vinculado ao Ministério da Saúde — mas as amostras enviadas não tinham qualidade necessária para a realização do procedimento. O médico infectologista Keny Colares, que participou da elaboração do documento, disse que a pasta está em contato com outros órgãos para possibilitar a análise genética.
O especialista explica que a melhor compreensão sobre casos de reinfecção é fundamental para entender melhor o vírus e controlar a pandemia. Ele ressalta que a imunidade adquirida após a primeira infecção pode ser duradoura ou não, o que determina as chances de contrair a doença novamente. "A gente sabe de doenças infecciosas, como o sarampo, que é difícil de ter duas vezes. Mas outras, como a malária e a tuberculose, são comuns acontecerem mais de uma vez ao longo da vida", exemplifica.
A Secretária Executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida, disse que a reinfecção pode estar acontecendo novamente porque as pessoas não criaram imunidade à nova cepa viral e estão se infectando. Ela disse, por meio da assessoria da pasta, que a secretaria acompanha a lista de pessoas que testaram positivo para a doença duas vezes e verifica a manifestação de sintomas clínicos, por meio da vigilância epidemiológica.
Nesta semana, a secretaria estabeleceu ainda o termo Covid-19 pós-agudo ou prolongado (Long Covid, em inglês). A classificação descreve a persistência de sintomas após três semanas do início da doença, que parece acontecer em cerca de 10% dos pacientes. Há ainda a definição de Covid-19 crônico, quando os casos persistem além de 12 semanas.
"A ausência de proteção sinaliza que pode não haver controle da disseminação da doença pelo esgotamento de suscetíveis, que tem sido de forma inadequada chamada de 'imunidade de rebanho'. Também importante é considerar que a ausência de proteção causada pela infecção natural geralmente está relacionada à baixa proteção associada aos produtos vacinais", alertam os pesquisadores.
Em outubro do ano passado, quando a Sesa também emitiu nota técnica, pesquisadores cearenses identificaram 12 casos de pessoas que adoeceram duas vezes por Covid-19. O estudo, no entanto, não era conclusivo se os casos realmente poderiam ser considerados como uma reinfecção por Covid-19 no Estado e eram tratados como recorrência.
Maioria dos casos prováveis de reinfecção atingem profissionais da área da saúde 60% dos casos prováveis de reinfecção no Ceará — quando são considerados critérios clínicos-laboratoriais, sem confirmação genética — aconteceram em profissionais da saúde. Entre eles, o maior índice foi registrados nos médicos, que representam 14 dos 76 casos investigados pela Sesa; em segundo lugar vem os enfermeiros, com 13 casos. (Leonardo Maia)