Sociedade Brasileira de Infectologia é acionada pelo MPF por não recomendar tratamento precoce contra Covid-19

Entre os medicamentos não indicados pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) no tratamento da Covid-19 estão cloroquina e hidroxicloroquina. MPF pediu explicações

19:07 | Dez. 10, 2020

A maior parte da comunicação foi feita à Índia, com o objetivo de garantir insumos necessários para a fabricação do medicamento, que não tem eficácia comprovada para combater o novo coronavírus (foto: Yuri Cortez / AFP)

Após a divulgação de novas recomendações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) no tratamento da Covid-19, em que reforça medicamentos que não podem ser consumidos precocemente em tratamento contra a doença, o Ministério Público Federal de Goiás (MPF-GO) pediu explicações à entidade por meio de um inquérito civil. O órgão pede uma declaração de que não existe conflito de interesse com empresas farmacêuticas a respeito das orientações.

Ao contrário das orientações do Ministério da Saúde, a SBI não recomenda o uso de qualquer medicamento para tratamento precoce, incluindo cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal e dióxido de cloro.

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O documento do MPF, assinado pelo procurador da República Ailton Benedito, requisita cópias dos documentos oficiais que sustentam a atribuição de posicionamento da SBI a diversos órgãos. Ele também pede que a entidade informe se tem conhecimento das orientações divulgadas pelo Ministério da Saúde e que esclareça se os estudos científicos que embasam as orientações do governo não têm valor científico para a SBI. A entidade tem prazo de cinco dias para enviar as informações solicitadas.

De acordo com a publicação da SBI, feita nessa quarta-feira, 9, as orientações estão alinhadas com as recomendações da Sociedade de Infectologia dos EUA (Idsa) e da Europa (Escmid), Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH), Centros Norte-Americanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Agência Nacional de Vigilância do Ministério da Saúde do Brasil (Anvisa).

“Os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais. Ou seja, não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a Covid-19”. disse a SBI. Ainda conforme a entidade, na fase inicial, medicamentos sintomáticos, como analgésicos e antitérmicos, como paracetamol ou dipirona, podem ser usados para pacientes que apresentam dor ou febre.

No documento com novas orientações, a SBI também alerta que a reinfecção parece ser incomum. “A maioria das pessoas que teve infecção assintomática ou a doença Covid-19 provavelmente estarão imunes por, pelo menos, 3 a 5 meses. Estudos em andamento e estudos futuros responderão por quanto tempo o paciente ficará imune com mais precisão”, diz a entidade.

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Nas redes sociais, o assunto foi repercutido. Alguns posts afirmaram que a entidade estava sendo vítima de intimidação.

Inaceitável! Sociedade Brasileira de Infectologia sendo intimidada pela Procuradoria da República por fazer o seu dever, amparada na ciência, durante a pandemia. pic.twitter.com/K4GbfZ3kMI

— Luiza Caires - jornalista de ciências (@luizacaires3) December 10, 2020

Reação da procuradoria da repúlica às recomendações da SBI é de intimidação!!

"a SBI não recomenda tratamento farmacológico precoce para COVID-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco,.. https://t.co/CFxcQ9rKyW

— Carolina Brito (@CarolinaBritoCS) December 10, 2020