Estudo sugere que resfriados comuns podem gerar resposta imunológica ao novo coronavírus

O estudo buscou analisar a influência de resfriados comuns causados por outras tipos de coronavírus na criação de defesas contra a Covid-19

09:16 | Ago. 07, 2020

PESQUISA apontou que 15% da população com ensino superior realizou o teste para Covid-19; entre os sem instrução, a taxa cai para 3,4% (foto: Aurelio Alves/ O POVO)

Um estudo científico publicado na revista Science, um dos periódicos científicos mais prestigiados mundialmente, analisou a resposta dos sistemas imunológicos estimulados com um protótipo de vacina de RNA contra o vírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19. Segundo a pesquisa, foram encontradas evidências de que pessoas que já tiveram resfriados comuns causados por outros tipos de coronavírus apresentam maiores respostas do próprio organismo no combate à Covid-19, mesmo sem ter contraído a nova doença.

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A relação entre um resfriado comum causado por qualquer outro vírus do gênero coronavírus e uma possível imunização contra a Covid-19 ocorreria por conta de células de defesa T. Essas células guardam informações a longo prazo de agentes invasores que o organismo enfrentou anteriormente.

Hipótese

Ainda que o Sars-Cov-2, responsável pela Covid-19, seja um tipo novo de coronavírus, ele age de forma semelhante aos que já existiam antes da pandemia e, por serem menos agressivos, causavam apenas resfriados comuns.

O estudo aponta que essas infecções mais simples fizeram com que as pessoas criassem uma “imunidade de memória” por meio das células T. Essas células reconhecem a forma que um determinado grupo de vírus, bactéria ou outro invasor age durante uma infecção e cria mecanismos de combate.

Ainda que com intensidades diferentes, todos os tipos de infecção do grupo dos coronavírus utilizam uma proteína chamada de “Spike” (S) para invadir as células, detalha o estudo. Sendo assim, ao entrar em contato com a Covid-19, os organismos que já tiveram contato com outras infecções causas por tipos comuns de coronavírus, estariam ativando a imunidade de memória e assim conseguindo produzir defesas ou reagir mais rapidamente à nova doença.

Com testes feitos em ratos e primatas, os pesquisadores destacam que houve respostas “robustas” de células T ao entrarem em contato com mais de 100 partes do RNA, material responsável pela replicação do Sars-Cov-2 no organismo. As células de imunidade de memória estariam conseguindo produzir proteínas capazes de dissolver a usada pelo vírus para se ligar às células e infectá-las.

O estudo foi conduzido por pesquisadores de três universidades dos Estados Unidos e uma da Austrália. Na pesquisa, eles analisaram amostras de sangue de pacientes coletadas no início de 2019, antes do surgimento do novo vírus. Os pesquisadores encontraram e isolaram células T relacionadas a resfriados causados por outros tipos de coronavírus, e constataram que elas também atuavam contra o causador da Covid-19.

A estimativa do estudo é de que 20% a 50% das pessoas que apresentam essa memória imunológica contra os vírus do tipo coronavírus teriam mecanismos de proteção contra a Covid-19, mesmo sem ter tido contato com ele anteriormente. Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores ressaltam que o estudo levanta apenas hipóteses e que são necessárias outras pesquisas para entender melhor o papel das células T no combate à Covid-19.

Ainda segundo a pesquisa, mesmo que seja comprovada a eficácia da imunidade de memória, ela iria garantir uma proteção apenas parcial à Covid-19, e não a imunização total. As pessoas, mesmo com as células T, ainda iriam apresentar sintomas leves e/ou moderados da nova doença.