Epidemiologista que criou estratégia da Suécia contra a pandemia admite que plano causou mortes demais

A Suécia tem uma taxa de mortalidade muito maior que a de seus vizinhos mais próximos. Seus cidadãos, hoje, estão proibidos de cruzar as fronteiras do país

13:15 | Jun. 04, 2020

A decisão da Suécia de não impôr um bloqueio rígido em resposta à pandemia resultou em mais mortes do que esperado (foto: LEHTIKUVA/AFP)

Anders Tegnell, epidemiologista sueco que criou estratégia contra pandemia na Suécia, afirmou que seu país poderia ter feito mais no combate ao novo coronavírus. A decisão da Suécia de não impôr um bloqueio rígido em resposta à pandemia resultou em mais mortes do que esperado, segundo Tegnell em entrevista à uma rádio sueca, na quarta-feira, 3. As informações são do portal de notícias da BBC.

Em abril, o epidemiologista havia dito à BBC que o alto número de mortes na Suécia ocorreu principalmente pela dificuldade que as casas de acolhimento de idosos tiveram em conter a doença. À época, o especialista enfatizou que isso não desqualificava a "estratégia como um todo"´.

Agora, passados dois meses, Tegnell tem outra opinião. "Se encontrássemos a mesma doença de novo, sabendo o que sabemos sobre ela hoje, acho que ficaríamos satisfeitos em adotar um meio termo entre o que fez a Suécia e o que fez o resto do mundo", disse ele à rádio pública sueca.

Para Annika Linde, epidemiologista sueca que trabalhou como conselheira do governo no passado, a resposta da Suécia à pandemia deveria ter se concentrado em três eixos: quarentena precoce, maior proteção dos lares de idosos e maior quantidade de testes intensivos e monitoramento em áreas de surtos. Por outro lado, a medida do país foi adotar um tipo de distanciamento social voluntário, mesmo sem a quarentena estrita, conforme a reportagem da BBC.

Com esse plano, a Suécia proibiu reuniões com mais de 50 pessoas e também suspendeu visitas a casas de repouso. As viagens não essenciais ainda não são recomendadas pelo país. Entretanto, a Suécia permite viagens de até duas horas para que os cidadãos visitem familiares ou amigos próximos, desde que não envolvam idas a comércios locais e encontros com outros residentes.

A Suécia foi citada pelo presidente Jair Bolsonaro como modelo a ser seguido, por manter boa parte do comércio aberta e não impor isolamento mais rígido no combate à pandemia. Hoje, se comparada aos países que impuseram bloqueios, a taxa de mortalidade e número de pessoas infectadas na Suécia é ainda maior que a dos seus vizinhos mais próximos.

Em 3 de junho, o país registrava 4.542 mortes e 40.803 casos de Covid-19 em uma população de dez milhões, segundo contagem da Universidade Johns Hopkins. Já a Dinamarca registrava 580 mortes; a Noruega, 237; e a Finlândia, 321. Hoje, os cidadãos suecos estão proibidos de cruzar as fronteiras do país.