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Os astros escrevem poemas

05:00 | 23/02/2019

Cecília Meireles nunca conheceu Fernando Pessoa por causa do Céu. Ele estava de saída para encontrá-la em Lisboa, no Chiado, mas seu horóscopo advertiu que não seria um dia bom para isso. Deixou um livro autografado no hotel onde a poeta estava hospedada com um delicado bilhete, explicando o motivo do desencontro. É um dos fatos curiosos de sua vida que prova o quanto ele levava a astrologia a sério. Sabia fazer mapa astral, estudou sozinho e fez para todos os seus heterônimos. Conhecia suas identidades pelo avesso.

Hilda Hilst, quando hospedou Caio Fernando Abreu na sua Casa do Sol, pediu que ele fizesse seu mapa. Ele fez. A leitura define perfeitamente a vida e os escritos de Hilda. Caio estudou Astrologia com uma professora alemã e também dedicou muitos anos a compreender os planetas e suas influências sobre nós, mortais desavisados, distraídos, inocentes, perdidos na ilusão de que controlamos tudo.

Literatura e Astrologia são sabedorias irmanadas pela possibilidade de traduzir o mistério. A leitura interpretativa de um mapa astral é de um fascínio irresistível. Poesia pura. Alguém abre uma folha de papel à sua frente com um círculo subdividido, linhas de travessia de uma ponta a outra, um traçado sem sentido para leigos. De repente a posição dos planetas em suas respectivas casas vai explicando nossas circunstâncias, sentimentos e uma ideia das margens da estrada a seguir.

O mapa do nascimento é isso, uma fotografia do céu na hora em que viemos ao mundo. Está tudo ali. Nada na vida fica como está, é tudo impermanência e isso acontece também porque os planetas mudam de lugar e vamos com eles. A astrologia ensina o quanto os trânsitos são necessários. Estagnação é um miséria oposta à felicidade.

Não perco a chance de saber o que diz meu mapa. Quando escuto as explicações para o que aconteceu nos meses passados, pulo de contentamento. Não adiantaria nada tentar evitar o que estava escrito lá por cima. Foi tudo previsto, estava arranjado exatamente do jeito que foi. Quem sou eu para lutar contra astros, pisar e tropeçar neles, desastrada, distraída? Melhor deixar que me conduzam, sabem mais da vida do que eu.

Pois as previsões do meu ano novo são de uma alegria só. Netuno mudou tudo do lugar e vai mudar ainda mais, pois está em trânsito com meu Sol. Isso significa, por exemplo, que vou viajar muito, dentre outras coisas que não se revela em uma crônica. Diz meu mapa que de março para abril uma grande felicidade será revelada. Lá estão os planetas, arrumando as surpresas para mim. De algumas coisas o livre arbítrio cuida, mas outras são inevitáveis. O mapa disse, por exemplo, que eu teria uma viagem inesperada no meu aniversário. Cá estou de malas prontas, indo mudar a idade em solo sagrado.

É uma generosidade infinita do universo permitir que tenhamos acesso à narrativa que os planetas escrevem para nós. Acredito em astrologia e todos os portais para o invisível pela simples constatação de que somos pequenos demais para controlar tudo. Duvidar é bobagem. Tenho orgulho de saber que no Céu há um livro sobre minha vida escrito com luz e matéria cósmica. O que tiver de ser, será, mesmo que hoje pareça impossível. Minha vida é um longo e belo poema escrito pelos astros.

 

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