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O drible

01:30 | 27/06/2019

Segundo Roberto da Matta, o futebol é um grande momento de afirmação humana, pois permitiu que tivéssemos uma visão mais positiva e generosa de nós mesmos num plano realmente popular — algo que nenhum livro, filme, peça, lei ou religião realizou.

Se analisarmos o dizer do antropólogo e entrarmos na máquina do tempo para rever que tipo de jogador foi capaz de expulsar de nós a fama de vira-latas e nos encher de orgulho, verificamos a existência de um fundamento técnico comum a todos: o drible.

Por que driblamos? Inúmeras são as respostas, mas duas delas me agradam. Primeiro os nossos campos de várzea (em extinção) são irregulares, prejudicando o passe. Segundo: essa tendência passageira de toda a criança (a bola é minha) de não passar a bola para ninguém.

Formados na pedagogia das ruas, já quem nem samba, nem futebol se aprende no colégio, vão surgindo os Ronaldinhos, Romários, Denilsons. Uma porção de jogadores capazes de numa jogada decidir uma partida.

Quem viu Garrincha ficou encantado. Era tempo em que a TV engatinhava e os estádios ficavam lotados. A bola chegava e todos ficavam de pé. Garrincha fingia que ia, não ia, ia, não ia. O marcador seguia como marionete.

Quem viu Pelé também. Aliás, os dois jogando juntos nunca perderam uma única partida defendendo a seleção brasileira. Pelé jogava tanto, mas tanto, que 20 anos antes de acabar o século passado foi eleito por mais de 30 jornalistas internacionais como o esportista do século passado.

Escrevendo assim podem achar que sou saudosista. Nada disso! Na Copa América, onde o Brasil joga hoje com o Paraguai, a torcida exigiu a presença do Éverton Cebolinha, que transtorna os adversários com dribles.

Sistematizaram o futebol ao ponto de cortar a grama rente e depois água-la para que a bola adquira velocidade e facilite os passes. De lá para cá estamos perdendo sempre. Precisamos de um driblador que nos alimente o sonho.