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Bendito 0 a 0

02:00 | 14/03/2019

Belo jogo esse de domingo passado entre Ceará e Fortaleza. Talvez o melhor dos últimos tempos. Número mínimo de faltas. Raras reclamações da arbitragem, que teve discreta atuação, e poucos chiliques de treinadores à beira do campo. Duas equipes interessadas na vitória.

Se dentro do campo a bola rolou redonda, fora dele também. Uma ou outra escaramuça foi contida pela segurança e pelas Polícias Militar e Civil. Diferente de outros jogos, que criavam um clima de insegurança, este poderia ser chamado de "Clássico da Paz".

Embora o placar tenha sido 0 a 0 e a ausência de gols tenha criado uma frustração, a constante movimentação incendiou os torcedores. Bola lá, bola cá. O jogo foi tão bom que no final da partida os jogadores foram aplaudidos de pé, como se estivessem na ópera.

Uma dose de esperança nesse quadro de infortúnios e violência que o País atravessa, onde a rivalidade no futebol também é um pretexto para briga. Ouvi, vi e li que embalados pelos fluidos do espírito lúdico entre a plateia e o palco, os torcedores se retiraram e a Cidade amanheceu em paz.

Parecia que o bem tinha vencido o mal. O mal! Cresci vendo os filmes de Sergio Leone sobre a colonização norte-americana e ficava eletrizado quando o diretor italiano nos mostrava que o mocinho era capaz de uma grande baixaria e o bandido da mais generosa das ações.

O olhar singular do cineasta italiano me ensinou a não dividir os homens em bom e mau. Por outro lado tem coisas que me fazem mal. Esse joguinho sem vergonha de contra-ataque é um terror. Basta uma equipe sair na frente do placar que recua para jogar no contra-ataque.

E aí, caro leitor, entra em prática aquela covardia estatística que deixa a vida chata e o futebol mais chato ainda. E o comentarista amplia a chatice dizendo que, embora não tenha tanta posse de bola equipe x se mostra muito mais eficiente na busca do resultado.

Portanto, torna-se bendito o jogo que obriga duas equipes a buscarem além do resultado oferecer um bom jogo ao público. Jogo que nos obriga a sair da mesmice e refletir que o futebol é muito mais do que resultado. Sei que cada jogo tem a sua história, mas o de domingo passado é para ficar na memória.