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Candidato de uns, presidente de todos

09:32 | 10/03/2019
Candidato de uns, presidente de todos
Candidato de uns, presidente de todos

Ninguém dá mais trabalho aos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro do que o próprio presidente Bolsonaro. É surreal a capacidade que ele tem demonstrado, desde a transição, de estabelecer uma agenda negativa permanente, oferecendo espaço gracioso a críticas, não necessariamente dos opositores naturais, petistas, por exemplo, que terminam por gerar algum tipo de dificuldade à prioridade que deveria estar sendo dada ao esforço de governar e tirar o País das dificuldades que enfrenta. Evidentemente que falamos de problemas pelos quais Bolsonaro não tem responsabilidade objetiva, visto que comanda o País apenas desde o dia 1º de janeiro deste 2019.

A grande questão é que os 69 dias da era Bolsonaro expõem um presidente com grandes dificuldades para assumir e exercer o papel para o qual foi eleito, de maneira legítima, ao obter a maioria dos votos dos eleitores na histórica (mais pelos aspectos negativos que ela trouxe consigo) disputa de 2018. Faltam até hoje, por exemplo, manifestações claras dele no sentido de, à parte sua compreensão de mundo e suas escolhas ideológicas, governar respeitando os pensamentos diferentes. Este é o papel necessariamente destinado a um líder no estágio máximo a que ele chegou em termos de País, deixando para seus simpatizantes, até eventualmente para os filhos, as discussões de outros níveis, focadas em interesses políticos de grupos e não no que é essencial para o conjunto da sociedade. Toda ela, independente de cor, partido, religião ou gênero.

Desde quando transpassou no corpo aquela faixa verde e amarela, sem disfarçar orgulho e emoção, Jair Bolsonaro se deve sentir na obrigação de separar o que é seu interesse do que é fundamental ao País que governa. Haverá momentos, e ele precisa estar preparado para vivenciá-los, nos quais os dois entrarão em conflito e, mais desafiador, sua decisão precisará ir contra as eventuais convicções pessoais que tenha. É inerente à função que buscou, fazendo-se candidato à presidência da República.

Bolsonaro ainda não demonstrou-se apto a encarar o desafio de governar de verdade. Porém, entendamos que são pouco mais de dois meses sentado na cadeira, acostumando-se às dores e delícias de ter um País sob as mãos, obrigando-nos a ter paciência e, como sociedade, manter a pressão necessária, no limite democrático, para que o ex-deputado demonstre capacidade de liderar os brasileiros pelos próximos quatro anos, a partir de suas convicções pessoais, é fato, mas não tentando impo-las se valendo de uma condição que o processo político lhe proporcionou. O maior erro que se pode cometer, em tais situações, é ignorar por completo o voto contrário, tão legítimo quando o favorável, e que por isso também precisa ser contemplado pelo vitorioso depois que as urnas se fecham.

COMEÇO E FIM

Impedido de assumir oficialmente a secretaria estadual de Saúde, devido a entraves burocráticos com a UFC, que precisa liberá-lo, o doutor Cabeto já anda dando as cartas na pasta. E muito. Sua ordem tem sido para atacar o problema das filas de macas nos corredores dos hospitais públicos. O foco inicial está sendo no tempo de internação, que no Ceará situa-se na faixa de 14 dias, e os resultados já estariam aparecendo.

PRIMEIROS NÚMEROS

Nos corredores do HGF, um dos endereços principais do drama recorrente, 11 macas permaneciam ontem com gente à espera de leito. Em tempos de crise aguda, falou-se em até 200 pacientes congestionando o local. A performance tem impressionado, mas não surpreendido gente dentro do governo, que assim justifica a decisão de esperar pela posse de um titular para pasta que tem estado entre as mais trabalhosas há algum tempo no Ceará.

TODOS POR UNS

Diante do momento meio confuso e desarticulado, será interessante ver a reunião que os prefeitos estão chamando para amanhã, na sede da Aprece, com a bancada federal cearense. O clima está meio de cada um por si, sem uma ação visível que busque localizar a agenda comum pelo Estado, até como efeito natural de uma rearrumação pela qual Brasilia está passando com as muitas mudanças dos últimos tempos.

UNS POR TODOS

O problema é quando tudo isso se transforma em marasmo, ou assim é compreendido. Por exemplo, o silêncio absoluto de até agora dos deputados cearenses acerca da situação no Banco do Nordeste, solenemente ignorado pelo novo governo em seus planos anunciados até hoje, denuncia um quadro de desarticulação que poderá custar caro a uma instituição de grande importância estratégica para o Estado. Mais do que para a região.

NOVAS LIDERANÇAS

O quadro na Assembleia Legislativa, com a nova composição, vai sendo redesenhado à medida em que as conversas avançam. Dois grandes, e importantes, blocos partidários foram oficializados na última sexta-feira. Um, governista, será liderado por Guilherme Landim e junta as bancadas de PDT, PPS e DEM, coisa de 13 deputados no total. O detalhe está no comando, entregue a um parlamentar de primeiro mandato, em meio a uma turma bem experiente.

NOVOS LIDERADOS

A oposição também se movimenta, confirmando uma aliança formal na Casa entre as bancadas do Pros, PSDB e PSL. São seis parlamentares que passam a se movimentar sob a liderança do Soldado Noélio, outro neófito como deputado, embora traga a experiência dos últimos dois anos como vereador por Fortaleza. Curiosidade mesmo é para saber como se comportará neste bloco André Fernandes, o rebelde bolsonarista convicto. Respeitará orientações?

De Tasso para Lula

AFINAL, o que disse Tasso Jereissati na sua mensagem de solidariedade ao ex-presidente Lula pela morte do neto dele, Arthur? Ninguém sabe, além do próprio Tasso, que enviou, e de Lula, que recebeu, mas o certo é que o petista demonstrou-se muito agradecido pelo ato ao conversar com muita gente que o visitou depois do acontecido. Diante do tempo de intolerância política que se vive, de fato, uma atitude que chega a ser corajosa do tucano.

Guálter George