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O previsível mote da campanha de 2020

01:30 | 06/06/2019
Capitão Wagner tende a destacar segurança
Capitão Wagner tende a destacar segurança

A sucessão de Roberto Cláudio (PDT) no próximo ano ainda tem muitas questões em aberto: não se sabe, por exemplo, quem será o candidato do prefeito ou se as duas principais forças de oposição no Estado, Pros e PSL, marcharão juntas na disputa. Na manhã de ontem, no entanto, já ficou claro qual será o tema que dominará (mais uma vez) a eleição. Divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Atlas da Violência 2019 mostra um retrato sombrio do Ceará na última década.

Entre 2007 e 2017, número de homicídios no Estado cresceu 181% - com o aumento de 2017 figurando entre o maior entre todas as unidades da federação. Não foi só no aumento geral de homicídios que o Ceará se "destacou". Em outros índices específicos, como o da taxa de assassinatos entre os mais jovens, o Estado lidera o ranking com expressivo aumento de 60% no indicador. Aliado do grupo que hoje governa o Ceará, Roberto Cláudio será cobrado pelo problema nas urnas.

O azar da base governista foi justamente no recorte do estudo, que contabiliza dados apenas até 2017, ano em que o aumento de homicídios atingiu ápice no Ceará. De lá para cá, o governo tem conseguido os melhores indicadores da área em muito tempo. No comparativo do período entre janeiro e março deste ano, por exemplo, o Estado apresentou o menor número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) dos últimos dez anos. Só em Fortaleza, os índices de violência vem obtendo sucessivas reduções há 13 meses seguidos. Todos dados que ficaram fora do estudo, principal documento (e com maior repercussão política) sobre o assunto no País.

O resultado publicado é obviamente prato cheio para o deputado federal Capitão Wagner (Pros), um dos únicos nomes já confirmados na disputa e que tem crescido na política cearense há anos em cima do discurso de segurança. Em 2016, o parlamentar usou do mesmo discurso e acabou derrotado por Roberto Cláudio. Naquele ano, no entanto, o prefeito disputava reeleição (o que sempre aumenta as chances de vitória) e os tempos eram outros, antes do bolsonarismo inflamar os ânimos no tema da violência.

Resta saber, no entanto, se o governismo conseguirá manter a redução de índices e até colar o avanço às medidas adotadas pelo governador Camilo Santana (PT) para conter o problema. Na manhã de hoje, não será surpresa se o tema dominar os plenários da Câmara Municipal de Fortaleza e da Assembleia Legislativa.

Desarmamento

O único dado positivo do novo Atlas da Violência, o aumento no número de estados que conseguiram reduzir a violência, onze, talvez seja também o indicador mais curioso do estudo. Isso porque, no documento, os pesquisadores apontam como um dos principais fatores para o avanço a sanção do tão injustiçado Estatuto do Desarmamento, alvo frequente de ataques do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seus aliados. Segundo o Atlas, a legislação sancionada em 2003 conseguiu, mesmo tendo sido gradativamente descaracterizada por emendas do Congresso, frear parte da escalada armamentista.

Atualmente, dezenas de propostas de lei tramitam no Senado e na Câmara dos Deputados restringindo ou até revogando o Estatuto do Desarmamento. Em uma das primeiras ações de governo, Bolsonaro editou decreto ampliando o acesso ao porte de armas no País - coisa que, em tese, vai contra o que o estudo aponta como solução concreta para o problema. Quem está correto afinal, pesquisadores ou o presidente? Como o chefe do Executivo tem evitado embasar as decisões em dados ou estudos técnicos, é difícil dizer. Mas fica o debate.

Carlos Mazza