Retrospectiva 2025: Corinthians sobrevive ao inferno e termina o ano tocando o céu
Impeachment de presidente, troca de treinador, dívidas... nada disso foi capaz de impedir o Timão de conquistar dois títulos na temporada
08:16 | Dez. 29, 2025
O torcedor do Corinthians começou a temporada 2025 cheio de expectativas: classificado para a Libertadores, com um trio de ataque entrosado e uma sequência de sete vitórias seguidas no Brasileirão 2024, após luta feroz contra o rebaixamento, que deixaram uma última impressão ótima da equipe. O choque de realidade, no entanto, veio cedo: fora de campo, com um processo de impeachment correndo; dentro das quatro linhas, eliminação precoce na fase preliminar da Libertadores.
Neste momento, nem o mais otimista dos corintianos seria capaz de dizer que o Timão terminaria como o time paulista mais bem-sucedido da temporada. Com duas taças conquistadas, sendo uma delas diante do seu maior rival, o alvinegro superou a desconfiança e deu ao seu torcedor, mais uma vez, a esperança de que o ano seguinte pode ser melhor. A seguir, acompanhe com o J10 como foi a temporada 2025 do Corinthians em nossa retrospectiva.
Libertadores e crise política: os primeiros obstáculos
A temporada do Corinthians iniciou no dia 16 de janeiro, com uma vitória sobre o Bragantino pelo Paulistão. Quatro dias depois, o Conselho Deliberativo do clube tentava votar, pela segunda vez, a abertura do processo de impeachment de Augusto Melo, então presidente. Por si só, essa sequência de fatos nas primeiras semanas do ano já serviria com síntese da temporada do Timão.
Apesar do ambiente instável, o time comandado pelo argentino Ramón Díaz se impôs na disputa do campeonato estadual. A equipe terminou a fase de classificação na primeira posição geral, com apenas uma derrota em 12 jogos. O bom desempenho no Campeonato Paulista, aliado com a ótima reta final de Brasileiro no ano anterior, deixavam no torcedor a sensação de que era possível classificar para a fase de grupos da Libertadores.
Na prática, porém, a competição se mostrou mais difícil do que parecia. Ainda na segunda fase preliminar, em fevereiro, o Timão enfrentou o Universidad Central (Venezuela) e voltou para o Brasil após o jogo de ida somente com um empate em 1 a 1. Na volta, mais sufoco: o Corinthians saiu na frente e tomou o empate duas vezes. Um gol de Yuri Alberto nos últimos minutos evitou que a classificação fosse decidida nas disputas de pênaltis.
Classificado, o Corinthians enfrentou o Barcelona (Equador) na terceira fase preliminar, mas dessa vez não conseguiu evitar o vexame. O time foi atropelado no jogo de ida e saiu de campo derrotado por 3 a 0. No segundo jogo, a equipe até ganhou por 2 a 0, mas não era suficiente para sequer levar a disputa da vaga para os pênaltis. Estava instaurada a primeira crise do Timão na temporada!
Apoio da Fiel e a redenção no Paulistão
Depois da frustração na Libertadores, restou ao time de Ramón Díaz focar na fase final do Paulistão, cuja fase mata-mata aconteceu em março. Nas quartas de final, o Corinthians superou o Mirassol, e nas semifinais, vitória sobre o Santos. Classificado para a decisão, o Corinthians enfrentaria o Palmeiras, seu maior rival, com a vantagem de decidir o título em casa, graças à melhor campanha da primeira fase.
Antes do primeiro jogo, no Allianz Parque, a torcida se concentrou na porta do CT Joaquim Grava, local de treinamentos do Corinthians, para apoiar o elenco — a cena se tornaria rotina na temporada. Nos primeiros 90 minutos, Yuri Alberto marcou e o Timão voltou para casa com uma pequena vantagem. No jogo de volta, o Timão segurou o empate sem gols e saiu campeão do Paulistão depois de seis anos.
Sai Ramón Díaz, entra Dorival Júnior
Por ser eliminado na terceira fase preliminar da Libertadores, o Corinthians recebeu como “prêmio de consolação” a disputa da Sul-Americana. Entretanto, o Alvinegro também teve sérias dificuldades no torneio, mesmo diante de equipes mais fracas como Huracán (Argentina), América de Cali (Colômbia) e Racing (no caso, o do Uruguai).
A instabilidade na “Sula”, aliado ao início ruim no Brasileiro, levou o presidente Augusto Melo, pressionado pelo processo de impeachment, a demitir Ramón. A ideia era contratar um nome de peso, e o primeiro tentado foi de Tite. Técnico e clube tinham um acerto, mas o ídolo corintiano acabou paralisando a carreira por tempo indeterminado para cuidar da própria saúde, após sofrer com uma crise de ansiedade.
A solução encontrada pelo presidente do clube foi a contratação de Dorival Júnior, recém-demitido da Seleção Brasileira.
Transfer ban, impeachment e vitória em cima do Palmeiras (de novo!)
Se os meses de junho e julho foram de calmaria pela pausa do futebol brasileiro para a Copa do Mundo de Clubes, agosto veio como um tsunami para o corintiano. O mês começou com novo duelo diante do Palmeiras, dessa vez pelas oitavas da Copa do Brasil. Além da sequência na competição, estava em jogo um tabu: o Corinthians nunca havia eliminado o rival em competição nacional ou continental.
No jogo de ida, Depay marcou de cabeça e deixou o Timão em vantagem no duelo. O segundo jogo, porém, é o que ficará marcado na memória de todo corintiano. Não apenas pela grande atuação da equipe e da vitória categórica (2 a 0) fora de casa, mas também pela crise que provocou no rival. Como consequência do resultado, o técnico Abel Ferreira, até então incontestável, foi xingado por todo o estádio.
Classificado e curtindo a crise no Palmeiras, o torcedor corintiano adoraria viver esse início de agosto para sempre. Mas de novo o choque de realidade veio em poucos dias: primeiro, a confirmação do impeachment de Augusto Melo, dessa vez após votação dos sócios do clube; depois, um transfer ban por uma dívida de 33 milhões junto ao Santos Laguna (México), pelo não pagamento da transferência do zagueiro Félix Torres.
A “virada de chave”
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) promoveu uma alteração nas datas das finais da Copa do Brasil. A entidade juntou as semifinais e finais em um intervalo de onze dias, após a disputa do Brasileirão. Com mudança, o Corinthians pôde se dedicar apenas ao campeonato de pontos corridos até dezembro.
Entretanto, o mau desempenho na competição, pressionou ainda mais o time de Dorival por uma reta final de temporada digna. Isso porque o Corinthians terminou o Campeonato Brasileiro apenas na 13ª posição, atrás até do Santos, que lutava contra o rebaixamento até a última rodada.
O que se viu nas semifinais diante do Cruzeiro, no entanto, foi um time totalmente diferente do resto da temporada: atento, organizado, vibrante, enérgico. Ainda assim, teve drama na classificação, que foi decidida na disputa de pênaltis. Hugo Souza foi o herói e colocou o Timão na decisão da Copa do Brasil diante do Vasco.
Título de novo pra teste
Na final, o empate sem gols em casa fez com que muitos desconfiassem do Corinthians, que precisaria vencer o Vasco no Maracanã lotado para ficar com a taça. Entretanto, novamente o time de Dorival soube se adaptar ao jogo, administrar as dificuldades e se impor dentro do possível. De novo vale destacar a ajuda que a torcida corintiana deu ao elenco, seja antes da viagem ao Rio de Janeiro, assim como fez na conquista do Paulistão, ou no próprio Maracanã durante a final.
A vitória veio de novo com gols de Depay e Yuri Alberto, e o Timão se sagrou tetracampeão da Copa do Brasil. C|om a taça, também vieram uma classificação direta à fase de grupos da Libertadores e o direito de enfrentar o Flamengo na Supercopa do Brasil, valendo mais um título nacional.
O que esperar para 2026?
É claro que nem tudo são flores. Ainda na beira do gramado, após a conquista, o então diretor-executivo Fabinho Soldado e Depay detonaram membros da política do clube. O dirigente ainda deixou o cargo apenas dois dias após a conquista. O Corinthians tem uma dívida que, atualmente, gira em torno de R$ 2,7 bilhões. O transfer ban segue de pé, e o clube, até o momento, não pode inscrever novos jogadores em seu nome.
O Corinthians atravessou o inferno ao longo da temporada, mas terminou o ano tocando o céu. A conquista da Copa do Brasil resgatou o orgulho do torcedor, e isso ninguém tira. Não se trata de esconder os erros, mas de separar as coisas: fora de campo, o Corinthians deve se organizar melhor; mas dentro de campo, a camisa e o escudo seguem pesados, temidos, capazes de protagonizar grandes feitos.
Agora, cabe ao novo executivo de futebol, Marcelo Paz, aproveitar toda essa energia para recolocar o Corinthians nos eixos.
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