A nova ameaça de Putin sobre uso da força em área em disputa na Ucrânia
Os comentários do líder russo surgem no momento em que negociadores dos EUA e da Ucrânia devem realizar uma nova rodada de conversas.
07:12 | Dez. 05, 2025
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um alerta para que as tropas ucranianas se retirem da região de Donbas, no leste da Ucrânia, ou a Rússia a tomará, rejeitando qualquer tentativa de acordo sobre como encerrar a guerra na Ucrânia.
"Ou libertamos esses territórios à força, ou as tropas ucranianas deixarão esses territórios", disse ele ao jornal India Today. Moscou controla cerca de 85% de Donbas.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, descartou a cessão de território.
Os comentários de Putin foram feitos depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que seus negociadores para um plano de paz afirmaram que o líder russo "gostaria de encerrar a guerra" após as discussões de terça-feira (2/12) em Moscou.
O enviado de Trump, Steve Witkoff, que estava em Moscou, tinha um encontro agendado com a equipe diplomática da Ucrânia na Flórida.
Trump disse que as conversas de terça-feira no Kremlin foram "razoavelmente boas", acrescentando que era cedo demais para dizer o que aconteceria, pois "é preciso dois para dançar tango" (uma expressão americana).
O Kremlin disse nesta sexta-feira que Moscou ainda aguardava uma resposta de Washington após a reunião na Rússia.
"Estamos agora aguardando a reação de nossos colegas americanos à discussão que tivemos na terça-feira", disse o assessor do Kremlin, Yuri Ushakov.
Ele disse que não havia planos para uma ligação telefônica entre Putin e Trump, e nenhuma data havia sido definida para uma nova reunião com Witkoff.
A versão original do plano de paz dos EUA propunha entregar áreas de Donbas ainda sob controle ucraniano a Putin — mas a equipe de Witkoff apresentou uma versão modificada em Moscou.
Em sua entrevista ao India Today antes de uma visita de Estado a Nova Déli, Putin disse que não tinha visto a nova versão antes de suas conversas com Witkoff e Jared Kushner, genro de Trump.
"É por isso que tivemos que revisar cada ponto, é por isso que demorou tanto", disse o líder do Kremlin.
Ele também disse que Moscou discordava de partes do plano dos EUA.
"Às vezes, dissemos que sim, podemos discutir isso, mas que não podemos concordar com aquilo", disse Putin.
Ele não mencionou os pontos de discórdia. Pelo menos dois pontos significativos de divergência permanecem: o destino do território ucraniano tomado pelas forças russas e as garantias de segurança para a Ucrânia.
O principal assessor de política externa e negociador-chave de Putin, Yuri Ushakov, disse logo após as negociações que elas não produziram "nenhum compromisso" sobre o fim da guerra.
Ushakov também insinuou que a posição de negociação russa havia sido fortalecida graças ao que Moscou considerou seus recentes sucessos no campo de batalha.
A Ucrânia tem acusado repetidamente a Rússia de obstruir quaisquer acordos de cessar-fogo, dizendo que Moscou busca tomar mais território ucraniano.
Comentando as negociações no Kremlin, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybhia, disse que Putin estava "perdendo o tempo do mundo". A Ucrânia há muito insiste em firmes garantias de segurança para o país em qualquer acordo.
Na quarta-feira, Zelensky disse que "o mundo claramente sente que existe uma oportunidade real de acabar com a guerra" — mas as negociações devem ser "apoiadas por pressão sobre a Rússia", que Kiev e seus aliados europeus acusam de deliberadamente atrasar quaisquer acordos de cessar-fogo.
O presidente ucraniano disse na semana passada que seus principais negociadores conseguiram fazer algumas mudanças importantes no plano de paz original dos EUA — visto como amplamente favorável a Moscou — durante conversas com uma delegação americana em Genebra, em 23 de novembro.
Em uma declaração conjunta, negociadores americanos e ucranianos disseram na época que haviam elaborado uma "estrutura de paz atualizada e refinada" — mas não forneceram mais detalhes.
Os principais negociadores da Europa - que haviam manifestado preocupação com o plano original dos EUA - também estiveram na cidade suíça na semana passada, reunindo-se separadamente com as equipes ucraniana e americana.
Em um desenvolvimento separado na quinta-feira, o site de notícias alemão Der Spiegel disse ter obtido uma transcrição confidencial de uma teleconferência na qual líderes europeus expressaram preocupação com as negociações americanas.
"Existe a possibilidade de os EUA traírem a Ucrânia na questão territorial sem clareza sobre as garantias de segurança", teria dito o presidente francês Emmanuel Macron, de acordo com uma transcrição em inglês da teleconferência de segunda-feira.
Enquanto isso, o chanceler alemão Friedrich Merz foi citado alertando que Zelensky precisava ser "extremamente cauteloso nos próximos dias".
"Eles estão jogando, tanto com vocês quanto conosco", teria dito Merz.
O presidente finlandês Alexander Stubb também foi citado dizendo: "Não podemos deixar a Ucrânia e Volodymyr sozinhos com esses caras".
A BBC não teve acesso à transcrição divulgada.
Em resposta a uma consulta da Der Spiegel, o Palácio do Eliseu, na França, afirmou que "o presidente não se expressou nesses termos". O gabinete presidencial se recusou a fornecer detalhes sobre como Macron se expressou, alegando confidencialidade.
Stubb se recusou a comentar com a Der Spiegel, e Merz não comentou o assunto.
Em um comunicado à BBC, a Casa Branca afirmou: "O Secretário [Marco] Rubio, o Enviado Especial Witkoff, o Senhor Kushner e toda a equipe de segurança nacional do Presidente estão trabalhando incansavelmente para impedir a violência entre a Rússia e a Ucrânia."
"Eles realizaram reuniões produtivas para coletar opiniões de ambos os lados sobre um plano que possa promover uma paz duradoura e aplicável", dizia o comunicado.
A Rússia lançou uma invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022 e Moscou controla atualmente cerca de 20% do território ucraniano.
Nas últimas semanas, as tropas russas têm avançado lentamente no sudeste da Ucrânia, apesar dos relatos de pesadas baixas em combate.