Agência BBC

Mensagens contra operação predominam no WhatsApp no Rio, mas apoio nacional foi maior

Relatório analisou conteúdo de mais de 100 mil grupos públicos de Whatsapp

08:06 | Out. 30, 2025

Por: BBC - Geral

AFP via Getty Images
Policiais militares patrulham durante a Operação Contenção na favela da Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro

A megaoperação das Polícias Civil e Militar no Rio de Janeiro contra a facção Comando Vermelho, nos complexos do Alemão e da Penha, dominaram as conversas de Whatsapp e dividiram opiniões sobre o seu desfecho: ao menos 121 pessoas morreram e 113 foram presas, segundo números oficiais.

Um levantamento da empresa de tecnologia Palver, especializada em análises de tendências sociais, monitorou cerca de 100 mil grupos de Whatsapp e detectou dois padrões: entre as mensagens disparadas no Rio, a maioria se colocou contra a operação: 43% das mensagens eram desfavoráveis, 39% favoráveis e 18% não foram categorizadas.

Já no cenário nacional, foi o oposto: 45% das mensagens eram favoráveis e 38% desfavoráveis. Em 16% das mensagens não foi possível determinar uma opinião clara.

Os dados foram divulgados na quinta-feira, 29/10, e coletados entre 8h do dia 27/10 e 8h do dia 29/10.

Segundo a empresa, a narrativa favorável destacou o papel da polícia na restauração da segurança, enquanto a desfavorável criticou a "alta letalidade", a "transformação das áreas em uma zona de guerra" e a "condução violenta da operação".

Os favoráveis à operação também dizem que ela é necessária para conter o Comando Vermelho e proteger a população, com prisões de líderes e apreensão de armamentos. Houve críticas ao PT por "ver os traficantes como vítimas" e "não reconhecer ataques graves como terrorismo".

Já as críticas envolvem acusações de que o episódio se tratou de um "massacre", incluindo imagens de corpos espalhados e transportados em caçambas, informações sobre possíveis mortos não contabilizados e mais de 13 horas de tiroteios. Também houve críticas ao governador Cláudio Castro.

A operação policial da terça-feira foi a mais letal já registrada no país.

Movimentos de direitos humanos classificam a operação como uma chacina e questionam sua eficácia como política de segurança.

O grande número de vítimas também foi criticado pelo Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que se disse "horrorizado" com a operação nas favelas.

"Essa operação mortal amplia a tendência de consequências extremamente letais das operações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil. Lembramos as autoridades de suas obrigações sob as leis internacionais de direitos humanos e pedimos investigações ágeis e eficazes", disse o órgão na ONU na rede social X, na terça.

A operação envolveu 2,5 mil agentes das forças de segurança do Rio de Janeiro para cumprir 180 mandados de busca e apreensão e 100 mandados de prisão em uma área de 9 milhões de metros quadrados.

A ação foi classificada pelo governador como "a maior operação das forças de segurança do Rio de Janeiro", e faz parte da Operação Contenção — uma iniciativa permanente do governo do Rio contra o Comando Vermelho.

Mensagens favoráveis à operação incluem imagens da operação e comparam Rio à 'Faixa de Gaza'

A BBC News Brasil acessou a plataforma da Palver na manhã desta quinta-feira, 30/10, e identificou ao menos 1 mil novas mensagens que mencionam o termo "megaoperação".

As mensagens mais compartilhadas, seguindo metodologia da Palver, eram vídeos ou notícias que mostravam ações contra a polícia ou que exibiam imagens dos suspeitos.

A mais compartilhada é uma imagem com recortes de notícias que diz: "Faixa de Gaza? Não, Rio de Janeiro". Outra frequente é um link que contém vídeos da operação e o título "Polícia prende dezenas de bandidos em megaoperação no RJ e revela filmagens; assista"

Somente uma das mensagens, entre as dez mais compartilhadas, trazia mensagem negativa à operação, comparando números de letalidade policial do Rio com outros estados e alegando que outros governos "usam o cérebro" enquanto o Rio "usa pólvora".

Reprodução
Mensagem compartilhada com frequência em grupos de Whatsapp monitorados pela empresa de tecnologia Palver