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A conversa entre Lula e Xi Jinping: laços entre os dois países estão no melhor momento, diz líder chinês

Ligação ocorre depois de Lula ter declarado que pretendia buscar líderes do Brics para discutir uma possibilidade de resposta conjunta ao tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros.

10:26 | Ago. 12, 2025

Por: Luiz Fernando Toledo - Da BBC News Brasil, em Londres

O presidente chinês Xi Jinping cumprimenta o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva após uma cerimônia de assinatura e uma coletiva de imprensa conjunta, no Grande Salão do Povo, em 13 de maio de 2025, em Pequim, China
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A ligação acontece depois de Lula ter declarado que pretendia buscar líderes do Brics para discutir uma possibilidade de resposta conjunta ao tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros

Os presidentes da China, Xi Jinping, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conversaram por telefone nesta segunda-feira (11/8) e reafirmaram o alinhamento político e econômico entre os dois países.

A ligação veio depois de Lula ter declarado, em entrevista à agência de notícias Reuters, que pretendia buscar líderes do Brics para discutir uma possibilidade de resposta conjunta ao tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros.

Na semana passada, Trump anunciou mais 25% de tarifas sobre a Índia, outro membro do Brics, por comprar petróleo da Rússia.

O governo americano também ameaça com "possível imposição de tarifas semelhantes a outros países que importam, direta ou indiretamente, petróleo da Federação Russa". Esse é o caso do Brasil.

O bloco de países emergentes tem incomodado o presidente americano, que o chama de "grupo de países que são anti-Estados Unidos".

Xi Jinping afirmou na ligação com Lula que a China "está pronta para trabalhar com o Brasil para dar o exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do sul global", segundo a agência estatal chinesa Xinhua.

Afirmou, ainda, que os laços entre os países estão "em seu melhor momento histórico", com "um futuro compartilhado e o alinhamento das estratégias de desenvolvimento dos dois países tendo um bom início e progredindo sem percalços", de acordo com a agência.

Xi também disse que "a China apoia o povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional e apoia o Brasil na salvaguarda de seus direitos e interesses legítimos", ainda segundo a agência chinesa.

A ligação também foi mencionada por Lula, em publicação na rede social X.

O presidente brasileiro afirmou que eles trocaram impressões sobre a atual conjuntura internacional e os recentes esforços pela paz entre Rússia e Ucrânia e que concordaram sobre o papel do G20 e do Brics "na defesa do multilateralismo."

A declaração final da cúpula do Brics, realizada em julho no Rio de Janeiro, condenou os ataques de Israel e Estados Unidos ao Irã, sem citar diretamente os agressores, evitando tensões com o presidente Trump.

Lula disse ainda que os países se comprometeram a "ampliar o escopo da cooperação para setores como saúde, petróleo e gás, economia digital e satélites" e que querem continuar identificando "novas oportunidades de negócios entre as duas economias."

Afirmou também que a China estará representada em Belém para a COP30 por "delegação de alto nível" e que o país vai trabalhar com o Brasil para o sucesso da conferência.

Relação abalada com os EUA

Lula disse à Reuters que não ligou para a Casa Branca para negociar as tarifas de 50% sobre o Brasil porque Trump não demonstrou interesse em fazer acordos.

"Um presidente da República não pode ficar se humilhando para o outro. Eu respeito todo mundo. Eu exijo respeito comigo", disse.

"No dia em que minha intuição disser que Trump está disposto a conversar, não vou hesitar em ligar para ele", disse Lula em entrevista em Brasília. "Mas hoje minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar."

Ele também comentou a justificativa de Trump de aplicar as tarifas ao Brasil devido ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na carta em que anunciou a taxa extra, o americano disse que há "caça às bruxas" contra seu aliado brasileiro.

"Não é uma intromissão pequena, é o presidente da República dos Estados Unidos achando que pode ditar regras a um país soberano como o Brasil. Não é admissível (que) os Estados Unidos ou outro país, grande ou pequeno, resolvam dar um pitaco na nossa soberania", disse Lula.