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Convoque-se a "pestilenta"

2017-07-01 17:00:00

O Brasil viveu mais uma semana de suplício, na longa novela palaciana em que se envolveu o governo Temer, a partir da delação da JBS. A acusação formal de corrupção contra o chefe de Estado e de Governo, no exercício do cargo, não tem paralelo em nossa história. Nenhum dos lados, contudo, tem força para dar um xeque-mate. E o Brasil vai rolando ladeira abaixo. Supostamente, quem poderia resolver isso é a política. Mas, existe uma campanha velhaca para tratá-la como uma “pestilenta”, de quem ninguém deve se aproximar. Será que alguém prefere a guerra civil? Se preferir, nem mesmo assim estará afastando a política da cena, pois a guerra é a outra forma de praticá-la, segundo um dos grandes mestres da arte guerreira. Melhor ter bom-senso e trazer a política para o centro do palco, a fim de que possa exercer seus bons ofícios de negociadora. Até a ensanguentada Colômbia encontrou uma saída para sua crise de mais de meio século. Por que precisaremos esperar tanto?

“ABACAXI”

As Forças Armadas estão bem, na fotografia, como atestam as enquetes de opinião. Mas, não pelas razões apontadas pelos “intervencionistas”. É justamente o contrário: pelo fato de não se meterem nas coisas do governo. Estas pertencem à esfera das urnas. Os militares têm consciência de que sua boa posição nas pesquisas de opinião sobre credibilidade das instituições poderia ser prejudicada, se arcassem com o desgaste de administrar o País, outra vez. Hoje, estão em plena recuperação da corrosão da imagem da instituição militar ocorrida na época em que assumiram o poder e tinham de responder pela carestia do dia a dia, pelo salário curto do trabalhador e pelas mancadas na economia. Não vão querer jogar o prestígio recuperado nos últimos tempos e assumir de novo o “abacaxi” de ser governo e o “telhado de vidro” que o acompanha. A atuação dos milicos se restringe, segundo a Constituição, a exercer uma das funções permanentes do Estado. E não se diga que é pouca coisa. Hipoteticamente, a única coisa que poderia preocupá-los, nesse aspecto, seria se a campanha agressiva de Bolsonaro fosse identificada como representativa da instituição, e não de uma carreira solo.

ABUSOS

Finalmente alguma coisa parece ter-se movido em direção da reconstituição dos regramentos do Estado Democrático de Direito. A 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) acaba de fixar o entendimento de que uma condenação não pode ser baseada apenas em depoimento de delatores. Com isso reconstitui o império da lei (Carta de 1988). Em consequência, foi revogada a sentença do juiz Sérgio Moro que condenava o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto a 15 anos de prisão, sem provas objetivas. O veredito expôs o abuso da prisão preventiva – uma das queixas recorrentes. Vacari passou dois anos e dois meses trancafiado antecipando uma sentença que ainda ia ser proferida. Quando esta ocorreu, o absolveu. Aí saltou à vista a injustiça cometida contra ele. Quem lhe devolverá esse tempo passado na prisão? O fato de haver outras condenações (que ainda passarão por 2ª. instância) não justifica o abuso. É hora de o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) enfrentar o corporativismo e punir esses excessos. Senão, se escancaram de vez as portas do Estado de Exceção.

OS “SENSÍVEIS”

Subitamente, a Lava Jato se “enche de dedos” para não afetar um setor da economia, supostamente prestes a ser alvo de delação premiada: o sistema financeiro. E o possível delator seria o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci - conforme deu na coluna da jornalista Monica Bergamo. Estranho é que o mesmo cuidado não se tenha tido para com a indústria nacional. Foram desmontadas a cadeia de gás e óleo, a Petrobras, a indústria naval, a construção civil e a engenharia nacional (pilares da economia brasileira) ao custo adicional de milhões de desempregados. Tudo por conta de uma investigação (Lava Jato) realizada sem critérios e sem parâmetros estratégicos, gerando milhões de desempregados e pondo o Brasil de joelhos perante a concorrência internacional. Quando chega, agora, a vez dos banqueiros, estes ganham até acordos prévios de leniência. Dá para entender? Dá, né?.

REBELIÃO

Está grassando uma rebelião entre os procuradores da Lava Jato, na Procuradoria-Geral da República, que ameaçam deixar os cargos se a nova procuradora geral, Raquel Dodge, for confirmada no Senado. Temer não escolheu o primeiro da lista tríplice (e nem tinha obrigação disso). A burguesia nunca foi ingênua no exercício do poder: jamais deixou a ordem por ela instalada ser desafiada por “veleidades democráticas”. Seu dístico preferido é: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Uma lição de realismo hierárquico, exercido sem o mínimo complexo de culpa (coisa que a esquerda “republicana” teve de aprender à força, visto ter sido tão ingênua, no exercício do governo, indicando sempre o primeiro da lista dos procuradores. A burguesia tem uma máxima:
“Cria corvos, e te arrancam os olhos” – assumindo um velho dito espanhol.

Última hora: Marco Aurélio devolve mandato a Aécio Neves (tucano é outra coisa).

Valdemar Menezes

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