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Sai Janot, entra Dodge

2017-06-29 01:30:00
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Primeiro presidente a ser denunciado por crime cometido no exercício do mandato, Michel Temer (PMDB) deixou ontem uma nova marca: indicou para o posto de chefe da Procuradoria-Geral da República um nome que não o primeiro colocado na lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). E fez isso a jato, muito antes do prazo que tinha para fazer a escolha.


O presidente, que trava uma guerra com o atual ocupante da PGR, Rodrigo Janot, apressou-se em apontar a subprocuradora Raquel Dodge para a cadeira. Primeira mulher na história a liderar o Ministério Público da União, ela será a comandante da Operação Lava Jato, investigação sobre a qual já disse que não pretende interferir. Antes, porém, deverá ser sabatinada no Senado.


Candidata anti-Janot, Dodge recebeu 587 votos contra 621 de Nicolao Dino, o mais votado por procuradores, mas associado a Janot. Desde 2003, quando a lista tríplice foi instituída, o indicado para a vaga era o nome que liderava as votações. Ao romper com essa tradição, Temer assume de vez a queda de braço com o procurador-geral, que o denunciou por corrupção passiva na última segunda-feira, mesmo dia em que a Polícia Federal concluiu relatório no qual afirma que o presidente obstruiu a justiça.


O passo dado por Temer é estratégico. Ao fazer a escolha com tanta antecedência, o presidente tem um alvo duplo: Janot, que passa a dividir atenções com sua sucessora, e a própria Dodge, cuja atuação à frente do MPF será decisiva para o futuro do presidente. Dela depende, por exemplo, a decisão de arquivar ou não novas investigações, assunto que interessa diretamente ao chefe do Executivo.

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Conclusão: Temer precisa sobreviver até setembro, quando haverá troca de guarda na PGR. Se tudo conspirar a favor do presidente, a denúncia será rejeitada pela Câmara, e, ainda que Janot ofereça nova acusação, o Judiciário já estará em recesso - quando voltar, o próprio Janot terá ainda pouco tempo de mandato pela frente.


Se tudo der errado para Temer, a segunda denúncia de Janot, a ser oferecida na próxima segunda-feira, desestabilizará ainda mais sua base no Congresso, cuja coesão depende hoje do PSDB. Sem os tucanos, o governo naufraga, e a aceitação da denúncia se torna mais fácil.

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A BRIGA COM A PF

Ontem um novo capítulo se abriu na crise entre o Executivo e a PF, com a suspensão de emissão de passaportes. A demanda, que impacta diretamente sobre a classe média, tem capacidade de desgastar ainda mais a imagem do presidente.

Mais que isso: o segmento, que não tem se sensibilizado até agora ante a série de acusações contra Michel Temer, poderia tomar gosto pelo protesto e voltar às ruas. A imagem da criança chorando porque não iria viajar à Disney nas férias é poderosa para certos setores. Antevendo a confusão, o governo rapidamente agiu. Pediu liberação de recursos extras ao Congresso para destravar o serviço de passaporte.


Temer tem tido trabalho com a PF. Desde que assumiu, vem tentando substituir o diretor-geral da instituição, Leandro Daiello. Sem sucesso.

 

Henrique Araújo

Jornalista, editor-adjunto de Conjuntura do O POVO

Escreve esta coluna interinamente de terça a sábado

 

Adriano Nogueira

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