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O João sem medo

2017-07-06 01:30:00

MEMÓRIA


“Um personagem histórico, um jornalista lendário, um comentarista inesquecível”. Foi com essa chamada que o jornal Lance! anunciou dia 3 de julho o centenário de João Saldanha. O João Sem Medo, como chamava Nelson Rodrigues, morreu em 12/7/1990 e gostava de vir ao Ceará.


... O bate-papo rolava agradável e mesmo tendo duas horas para o almoço a turma não arredou pé e continuou sentada nas cadeiras que ladeavam a mesa comprida e estreita. Atrás da mesa um painel anunciava o seminário: O POVO e Novos Caminhos para o Futebol Cearense.


Paulo Linhares, então diretor de Marketing do jornal, Fernandinho Costa, publicitário e articulista, eu, um corintiano, o Aristeu Holanda e mais alguns que não lembro o nome. Numa das cabeceiras, João Saldanha prendia a atenção e divertia a todos contando histórias.


“O Garrincha? Era inteligente! O Botafogo viajava de trem pelo interior da Alemanha. No banco da frente, eu e o almirante Saddock de Sá. No de trás, o Mané, sem dar um pio. Comentei sobre o valor arquitetônico da igreja na cidade pela qual iríamos passar. Máquina fotográfica em punho, o almirante ficou em silêncio. De repente, a cidade apareceu na janela do trem. A igreja também. O almirante se levantou. Ansioso porque o trem estava se afastando, reclamou: ‘Ô João! Por que construíram a estação tão longe da cidade?’. Garrincha, que ouvia a conversa, bateu de prima: ‘Almirante! A estação tem que ficar perto é da linha do trem’”.


O corintiano dobrou a gargalhada e o João emendou. “Tá rindo de que? Vocês não ganham nem na Bíblia”. “Como?”, perguntou o corintiano. “Olha só! São Mateus, Versículo 2, Coríntios 0”. Em 1977 fazia 23 anos que o Corinthians não ganhava um título.


Encerrada a conversa do almoço, retomamos o seminário. E tome João. Esporte e Poder; Especulação Imobiliária e a Extinção das Áreas de Lazer; Racismo no Futebol; Futebol no Nordeste; e Seleção Brasileira.


Em 1974, quando o Artur saiu do Ceará para o Botafogo, ele vibrou. Marinho Chagas, lateral esquerdo, saía para o apoio e a equipe adversária contra-atacava jogando a bola nas suas costas.

Na cobertura de Marinho o Artur não perdia uma. A voz de Saldanha se espalhava por todo o País: “Êta, craque pai d’égua!”.

Adriano Nogueira

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