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VERSÃO IMPRESSA

O marketing do estelionato

2017-05-18 01:30:00

Desde os meus tempos de redator da Coluna Política do O POVO, entre 1996 e 2010, venho apontando a perigosa distorção da política brasileira ao conceder aos profissionais de marketing eleitoral uma importância tamanha que os sobrepõe à própria política, aos políticos e aos partidos. O histórico dos acontecimentos depõe: da forma como tem sido usado, com raras exceções, o marketing político tornou-se um instrumento de perversão do sistema. É claro que não poderia terminar em boa coisa.

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A resposta do marqueteiro João Santana a uma entrevista do ex-ministro José Eduardo Cardoso é exemplar da perversão: “Só menti sobre a presidente Dilma - e isso já faz algum tempo - para defendê-la. Jamais para acusá-la”. É chocante, mas não uma surpresa. Afinal, trata-se do profissional que fez as vencedoras campanhas de Lula em 2006 e Dilma em 2010 e 2014.


Na disputa presidencial de 2014, Marina Silva crescia e ameaçava atropelar os favoritos Dilma e Aécio Neves. Foi então que começou a funcionar a máquina de moer gente, trajetórias e credibilidades da campanha petista. “Matar” Marina foi fácil. Bastou dizer que ex-petista era aliada de banqueiros, que daria independência ao Banco Central e que isso faria desaparecer a comida do prato dos mais pobres.


As imagens que se agregaram a esse discurso de campanha tornou tudo muito chocante. Na TV, a comida desaparecia de um prato como em num passe de mágica. O que importa a verdade, não é? Nada. O que importa é ganhar a eleição e manter o poder. Às favas com os escrúpulos.


Bom, na Lava Jato, a confissão dos pecados é o passaporte para uma condenação branda. João Santana e sua esposa blasé confessam os pecados e perdem milhões de dólares em busca da remissão judicial. No fim das contas, admitem a mentira como carro chefe do marketing que elegeu presidentes no Brasil e em republiquetas dominadas pelo populismo.

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Só haverá algum sentido em tudo isso se a nossa política se livrar da ficção e vigarices do marketing eleitoral mau caráter. Estelionatos eleitorais são seus frutos mais conhecidos.


Ressalve-se que ludibriar eleitores com mentiras e calúnias em campanhas milionárias bancadas por propinas não é apenas uma escolha do marqueteiro de plantão. Estes (os de boa índole) podem sim se negar a fazê-lo mesmo que o contratante banque. Porém, no centro de tudo, prevalecem os malfeitores que infestaram a nossa política e levaram o País a uma bancarrota sem referência na História.


FORA DO LUGAR

Aos poucos um ou outro personagem da institucionalidade brasileira coloca as coisas em seus devidos lugares. Ontem, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ives Gandra da Silva Martins Filho, proferiu a seguinte declaração: “O Ministério Público não tem que sair por aí defendendo a não mudança da lei, mas aplicar a lei como ela está colocada... O Ministério Público não defende trabalhador, mas a ordem jurídica. Quem defende trabalhador é sindicato”.

Simples e óbvio, não é? Porém, as coisas no Brasil estão fora de lugar. Entre nós, se tornou comum juiz do trabalho e procurador do trabalho bradar contra a reforma trabalhista “em defesa do trabalhador”.


PODE ARNALDO?

A inacreditável saída do Governo do Ceará para o caso dos tatuzões: queimar R$ 27 milhões para reparar equipamentos que custaram cerca de R$ 150 milhões (a preço de hoje), mas nunca foram usados e não há nenhuma previsão de quando serão usados. Detalhe: além da grana pesada de agora, a manutenção mensal vai comer muito mais dinheiro do contribuinte.

 

Adriano Nogueira

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