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Camilo em busca de sua marca

2017-05-06 17:00:00
Alguém por aí se lembra de que o governador Camilo Santana é do PT? Pois é. Na campanha, em 2014, o material de divulgação do então candidato bancada pela família Ferreira Gomes já relegava o vermelho petista ao terceiro plano. Camilo vestia camisa branca. Nas imagens, predominava uma mistura de amarelos. E olha que eram tempos em que o escândalo do petrolão e a Lava Jato ainda estavam nas fraldas.

A conveniência de esconder a sigla e suas cores não se restringiu à campanha. Camilo faz o governo menos petista que o menos petista dos petistas poderia imaginar. O governador praticamente não fala de partido. Com as últimas notícias da Lava Jato, se alguém perguntar ao governador acerca de sua filiação, talvez se saia com essa: “Como assim?”, expressaria denotando desconhecimento de causa.

Um governo de cofres vazios, sem dinheiro para trocar obras em um país mergulhado na recessão. As contas do Ceará respiram através de aparelhos. Entretanto, não estão na UTI. Em meio ao desamparo das circunstâncias, o governador busca uma marca para credenciar-se como candidato à reeleição.

Quais os peixes que Camilo Santana vai vender na campanha de reeleição, provavelmente já como um ex-petista? Um deles será justamente o equilíbrio das contas. Isso concede credibilidade ao candidato, mas só reelege síndico de prédio. Outro será... Será... Será... Nada está na ponta da língua.

Cid Gomes deixou uma imensidão de obras para dar continuidade em um deserto financeiro. No fim das contas, sobram obras inacabadas e algumas outras finalizadas, mas sem o uso dimensionado. É claro que há para Camilo um amontoado de pequenas obras de impacto restrito inauguradas ou a inaugurar.

Vale ressaltar a correta política de combate aos efeitos da seca. Nesse ponto, o Governo foi sábio ao sistematizar e planejar as ações. A área de segurança é outra delicada. Até que vinha bem, mas os quatro primeiros meses de 2017 ligaram a sirene de alerta.
Ainda na segurança, Camilo substituiu um discreto secretário por outro mais jovem, com arma no coldre e que usa redes sociais para mandar recados. Defensor ardoroso dos policiais militares e civis, fez o gosto da tropa. Fechou ainda mais os espaços políticos do opositor Capitão Wagner, mas os índices pioraram.

Mas, voltemos ao menos petista dos ainda petistas. De olho na reeleição, Camilo se abraçou a um pequeno grupo em busca de salvação. Maia Jr é o representante dessa turma no Governo. Participam desse grupo, quadros como o executivo Geraldo Luciano, conselheiro informal de todas as horas.

O foco é dar uma cara mais definida à gestão, manter equilíbrio das contas, azeitar a máquina administrativa, melhorar o desempenho das políticas públicas, se reeleger e fazer um segundo Governo de melhor qualidade. Sempre na expectativa de que os anos vindouros serão menos ranzinzas de água e, principalmente, de dinheiro.

NAVEGANDO EM OUTRAS ÁGUAS
Colocar o governador e todo o time de secretários em um hotel de praia para ouvir exposição do economista Marcos Lisboa não é exatamente uma ação de governo petista. Na tarde da última sexta-feira, o presidente do Insper falou para o grupo sobre “produtividade”. O tema, bastante ausente em conversa petista, é um dos preferidos de Lisboa, que é um liberal.

Certamente, a turma do Governo do Ceará ouviu coisas como: “O Brasil não é pobre apenas porque não faz iPods ou porque há muita agricultura e pouca indústria. Somos pobres porque não somos produtivos, porque não deixamos nossas empresas improdutivas falirem”.

Ou: “É preciso criar um ambiente institucional favorável ao empreendedorismo, permitindo que as empresas mais qualificadas sobrevivam e as ineficientes desapareçam. Uma boa economia de mercado funciona dessa forma”.
E também: “A relação entre setor público e privado deveria seguir regras de impessoalidade e de transparência, para bem da sociedade. Medidas horizontais, que afetam a todos da mesma forma, evitam a possibilidade do ganho privado em decorrência do acesso privilegiado ou a troca de favores”.

Mais: “A boa prática recomenda transparência das eventuais discussões de servidores públicos com o setor privado, com atas precisas sobre o que foi discutido. Qualquer medida de exceção deveria ser acompanhada de avaliação independente sobre os custos envolvidos e os benefícios esperados, com metas claras de resultado”.

Todos os pontos ressaltados estão em artigos assinados
por Marcos Lisboa.

QUEM É O DIRETOR E PROTAGONISTA?
Sempre se disse que Lula é maior do que o PT. Pois bem. O que acontecerá com um e com o outro após a avalanche de depoimentos que relacionam de maneira muito direta a trajetória do ex-presidente da República aos impressionantes escândalos investigados pela Operação Laja Jato?

Os depoimentos da família Odebrecht já eram avassaladores. Depois veio o depoimento de Leo Pinheiro e executivos da OAS. Na tarde de última sexta-feira, talvez o mais impactante de todos: um depoimento espontâneo do ex-diretor da Petrobras, Renato Duque ao juiz Sérgio Moro. Sem contar que ainda falta a delação de Antônio Palocci.

Além de todo o relato, onde tratou de encontros secretos mantidos com Lula e esmiuçou o esquema e seus dirigentes, Duque proferiu uma frase emblemática: “Se for fazer comparação com o teatro, sou um ator, tenho papel de destaque, mas não fui e nem sou o diretor e nem o protagonista desta história”.

Fábio Campos

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