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A bomba atômica faz 72 anos

2017-07-15 17:00:00
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José Evangelista

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Há exatos 72 anos, em 16 de julho de 1945, explodiu a primeira bomba atômica feita pela espécie humana. Foi um teste assistido por um grupo de cientistas, militares e jornalistas selecionados.


O teste se deu no deserto de Alamogordo, estado do Novo México, em um local conhecido, muito apropriadamente, como Jornada do Morto.


A bomba usada no teste liberou uma energia equivalente à explosão de 22.000 toneladas de TNT (22 quilotons). O dispositivo usou o processo de fissão do núcleo do elemento plutônio.


Na véspera do teste, os cientistas fizeram um bolão para ver quem acertava o valor da energia que seria produzida pela explosão. Edward Teller foi o mais exagerado e previu 45 quilotons. Oppenheimer foi um dos mais moderados, pois previu apenas 300 tons. Quem ganhou a aposta foi um aluno de Emílio Segré cujo nome foi esquecido. Ele previu 20 quilotons, quase o valor certo tirado das medidas.


O plutônio não existe na natureza. Foi produzido, pela primeira vez, em um acelerador da Universidade da Califórnia. A descoberta foi descrita em um artigo enviado à revista Physical Review, em 1941, mas, a publicação do artigo foi retida quando os editores souberam que esse isótopo é excelente para uso em bombas atômicas, pois é fissionado com muita facilidade. O artigo só foi publicado em 1946.


O plutônio é tão eficiente na fissão nuclear que pode estragar o processo de explosão de uma bomba. Quando a reação em cadeia é iniciada, em vez de uma explosão é produzido apenas um espasmo. Algo assim como uma ejaculação precoce. O matemático John Von Neumann bolou um truque para conter esse excesso de entusiasmo, usando uma implosão do material em processo chamado lente explosiva.


O Projeto Manhattan foi dirigido pelo físico Robert Oppenheimer e pelo general Leslie Groves. Apesar das enormes diferenças culturais e profissionais, os dois se deram bem durante o trabalho de construir as bombas. Groves sabia que Oppenheimer tinha tendências esquerdistas, mas, não estava nem aí.


O processo de fissão nuclear consiste na quebra de um núcleo atômico em duas ou mais partes. A soma das massas das partes é menor que a massa do núcleo original. A diferença é convertida em energia seguindo a famosa equação de Einstein, E = mc2. A energia liberada nesse processo é milhões de vezes maior do que a energia que seria produzida simplesmente queimando a mesma quantidade de material.


A fissão nuclear foi descoberta pelos alemães Otto Hahn e Fritz Strassman, em 1938. Os dois, porém, não souberam interpretar os resultados de sua experiência e tiveram de apelar para o talento de uma ex-colega de laboratório, Lise Meitner, que estava refugiada na Suécia por ser judia. Meitner e seu sobrinho, Otto Frisch, explicaram teoricamente o resultado dos alemães. O nome “fissão nuclear” foi dado por Frisch, em analogia ao processo de divisão celular biológica.


O Prêmio Nobel de Química de 1944, em plena guerra, foi dado apenas para Otto Hahn que nesse tempo trabalhava com Werner Heisenberg na construção de uma bomba atômica nazista. Por sorte, não tiveram sucesso. Hahn só recebeu o prêmio em 1945 e não salientou o trabalho de Lise Meitner.


As bombas nucleares atuais usam um processo diferente, a fusão nuclear. Nesse caso, dois núcleos de hidrogênio se fundem em um só, de hélio. Novamente, a massa final é menor que a inicial e o resto vira energia. Só que em escala muito maior. Uma bomba normal de hidrogênio tem poder de uns 20 megatons ou mais. É, portanto, 1000 vezes mais potente que a bomba de Nagasaki. Na década de 60, a capacidade total das bombas americanas e russas dava para acabar com a vida na Terra 14 vezes. Hoje, com os acordos limitantes, só dá para acabar 2 vezes. Ufa!


Oppenheimer era chegado a exibições de erudição. Depois da explosão da bomba de teste, ele recitou uma frase de um poema indiano que dizia: “A luz de mil sóis surgiu no céu. Agora, eu me transformei na Morte, destruidora
de mundos”.


John Von Neumann achava Oppenheimer um chato e disse: “tem gente que se declara culpado só para fazer propaganda de seu pecado”.


Observando o estrago no local do teste, os cientistas concluíram que a altura certa para a explosão deveria ser de 500 metros. Essa seria a altitude ideal para causar o maior dano material possível e matar o maior número de gente. Realmente, as bombas de Hiroshima e Nagasaki explodiram exatamente nessa altitude. Haja ciência.


O teste foi fotografado por muitas câmeras, no solo e de aviões. Quase todas eram em preto e branco. No entanto, o intenso clarão produzido pela explosão não foi corretamente previsto e queimou boa parte dos filmes. A única foto colorida de boa qualidade foi tirada pelo jovem físico Jack Aeby, que fazia parte do grupo do italiano Emilio Segré. Ela ilustra essa coluna.


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