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Álbum "Maraponga" é homenageado no Cineteatro São Luiz

Nascido numa época de apertos e indecisões, Maraponga tem seu valor histórico reavaliado em show que reúne seu criador, Ricardo Bezerra, com a Orquestra Popular do Nordeste e convidados
09:37 | Dez. 04, 2018
Autor Marcos Sampaio
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Marcos Sampaio Editor-adjunto e crítico de música do caderno Vida&Arte
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Tipo Notícia

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Foram meses de tentativa até aqui. Desencontros de agenda, mensagens não respondidas, ligações não atendidas... Até que não teve mais jeito. Um show marcado para quinta-feira, 6, no Cineteatro São Luiz, deixou claro que uma conversa sobre Maraponga não poderia mais esperar. Lançado em 1978, o álbum que apresentou o compositor Ricardo Bezerra vai ganhar uma releitura com as participações de músicos como o guitarrista Mimi Rocha, a cantora Mona Gadelha e a Orquestra Popular do Nordeste.

 

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Conceitual, contemplativo, sinfônico, anti-pop. São muitos os rótulos para Maraponga, que nasceu numa época de durezas financeiras. "Era um período sem trabalho, com dois filhos, casado. E o Fagner me chamou pra fazer o disco. Na época, a ideia era dividir o álbum com o Petrúcio (Maia). Mas o Raimundo conseguiu uma verba e fez os dois LPs", lembra o cearense que, embora não estivesse planejando uma carreira artística, se viu dentro de um estúdio com Hermeto Pascoal, Mauro Senise, Jaques Morelembaum, Sivuca, Robertinho de Recife e Nivaldo Ornelas.

 

Toda a história do disco gira em torno de um sítio onde Ricardo Bezerra morou, na década de 1970, com sua esposa Bete Dias. "A casa era um ponto de encontro e o Fagner foi morar lá. Muito dessa mística se deve a ele. Nessa época, você imagina a quantidade de cantor, jogador de futebol, compositor, músico que passou por lá", conta Ricardo, elencando algumas visitas que recebeu: Alceu Valença, Belchior, Rita Lee, Gonzaguinha e outros.

 

De alguma forma, todos esses nomes contribuíram com Maraponga. Também o retrato de uma cidade com menos trânsito, menos pressa, menos violência é feito em um álbum que mistura peças orquestradas com canções populares. Estão nele, por exemplo, La Condessa, Cavalo Ferro e Cobra, estreia dos compositores Alano Freitas e Estelio Valle.

 

"Aquilo é muito um trabalho da produção do Fagner, com os músicos que ele chamou, e o trabalho do Hermeto. Eu dei pouco palpite", admite Ricardo, que se viu numa encruzilhada quando estava com o álbum pronto. Sabendo dos apertos de uma carreira artística, ele titubeou sobre entrar nessa também. "O Fagner fez isso comigo, Cirino, Petrúcio, esperando que a gente desenvolvesse a carreira. Petrúcio continuou. Cirino continuou, depois voltou. Mas eu, após acabado o disco, estava sozinho no Rio, Bete já tinha voltado com nosso filho. Aí bateu uma saudade enorme", relembra.

 

Maraponga ainda ganhou uma breve turnê que passou por Crato, Campina Grande, Natal e Fortaleza. Mas, logo, Ricardo optou pela universidade e foi dar aulas no curso de Arquitetura. "Pra dizer isso pro Raimundo foi um pouco doloroso. Eu sei que ele se ressentiu e com toda a razão. Hoje, a gente se entende, estamos bem", afirma com uma dose de nostalgia. Embora ele não lembre a última vez em que ouviu o próprio disco, é certo que aquele clima de calmaria dos anos de Maraponga ainda estão guardados em algum lugar. "A ideia (do show) é a gente por foco nesse acontecimento, no local, na casa, na movimentação, da coisa criativa envolta nisso. Aconteceu isso e eu e a Bete estávamos ali por acaso. Mas tem toda uma coisa de dezenas de pessoas que foram importantes, que fizeram essa história".

 

Maraponga 40 anos 

Quando: quinta-feira, 6, às 19 horas

Onde: Cineteatro São Luiz (r. Major Facundo, 500 - Centro)

Quanto: R$ 20 (inteira)

Telefone: 3252 4138

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