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Teatro Máquina comemora 15 anos com mostra no Cineteatro São Luiz

Fortalecendo a história de 15 anos e apostando na resistência para um futuro incerto, o grupo Teatro Máquina comemora aniversário com mostra especial no Cine São Luiz
09:12 | Out. 15, 2018
Autor João Gabriel Tréz
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João Gabriel Tréz Repórter
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Tipo Notícia

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"A gente estava se conhecendo, fazendo teatro. Não era uma grande urgência manter o grupo. A gente não nasce enquanto grupo, mas fomos nos construindo e nos entendendo assim", remonta a diretora e professora Fran Teixeira sobre o começo do grupo Teatro Máquina, que completa 15 anos de existência em 2018. A comemoração ocorrerá em mostra especial com espetáculos de repertório que serão montados de hoje à quarta-feira, 17, às 19 horas, no Cineteatro São Luiz.

 

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Fran lembra que, em 2002, ela estava retornando para Fortaleza depois de fazer um mestrado "bem teórico" sobre o autor alemão Bertold Brecht e "queria experimentar essa dramaturgia". Ao conhecer um grupo de estudantes que tinha experiências amadoras com teatro de rua, ela os convidou para um primeiro trabalho teatral, em 2003. "Fomos fazendo temporadas. Eu entrei como professora no curso de teatro do IFCE (Instituto Federal do Ceará) e conheci outros atores. Fomos fazendo editais e entendendo um pouco mais sobre como trabalhar profissionalmente", contextualiza.

 

Conforme a diretora, o ponto de virada veio em 2007, quando o grupo ganhou o edital Myriam Muniz, da Funarte (Fundação Nacional de Artes, ligada ao Ministério da Cultura). Foi a partir dele que, em 2008, estreou O Cantil, que será apresentado na mostra de aniversário. "É o trabalho de repertório mais antigo do grupo", contextualiza Fran. Além dele, serão montados Diga que você está de acordo! MÁQUINAFATZER e Nossos Mortos - todos "tendo a ver com guerra, fome, violência, propriedade. Nós gostamos de temas mais graves, duros, e acho que esse é um dos papéis do teatro: ver as questões que ainda estão em aberto, que nosso tempo de humanidade não resolveu", defende a diretora.

 

Depois de O Cantil, o grupo conseguiu força para circular nacionalmente e se manter. "A gente começa então a participar de um circuito mais amplo e isso coincide com uma política de cultura mais consolidada: já tinha acontecido o ministério (da Cultura) do (Gilberto) Gil, havia apoios para a manutenção de grupos, os grupos estavam mais politicamente envolvidos e engajados", elenca Fran. Esse movimento positivo, no entanto, veio sendo desconstruído e descontinuado com o passar dos anos. O edital da Funarte que proporcionou ao Máquina a consolidação como grupo, por exemplo, foi descontinuado.

 

"Agora a gente está diante de um completo desconhecido. Provavelmente vai ficar pior. As políticas da Funarte não existem. Nacionalmente, o apoio é ou do Sesc ou da Petrobrás e eles devem beneficiar, em geral, grupos mais estabelecidos", avalia a diretora. "A gente conseguiu se organizar porque havia políticas estaduais e municipais, que eram mais regulares, e federais. 

 

Para 2019, a gente não tem perspectiva nenhuma, a não ser um edital de circulação no Cariri e na Paraíba", afirma. "É muito tenebroso não saber com o que contar, que políticas irão vir. A clareza que temos é que não vai ser fácil. 

 

Já não está sendo", considera. Fran avalia que localmente, por exemplo, um dos principais pontos críticos do circuito de artes cênicas é a falta da possibilidade de continuidade de um espetáculo. "O ideal é fazer uma temporada, mas essa chance é bem rara por não ser a política em geral dos espaços daqui. Aí vem outra discussão: onde apresentar? A gente pensa que tem vários espaços, mas é mais provável ficar em cartaz em São Paulo, onde existe uma política de convite e de pequenas temporadas, do que em Fortaleza. É triste, mas é isso", compara.

 

A oportunidade da mostra de aniversário, então, surge como uma oportunidade especial para o grupo. "Como a gente não consegue ficar em temporada, é bom poder apresentar esses espetáculos para quem nunca ouviu falar ou quem ouviu falar, mas não teve como ver. Eu sou professora de alunos de 19 anos que não puderam ver O Cantil na estreia e agora há a chance", comemora. A toada do grupo, em suma, é positiva. "O que nos apoia é nossa história, é o que a gente tem construído e é poder contar com isso como perspectiva para continuar fazendo teatro. A gente sabe que, juntos, temos mais ânimo para continuar. O teatro é uma arte eminentemente coletiva. Fora o grupo - somos seis -, tem um coletivo de colaboradores já há muito tempo com a gente. Isso anima", vibra.

 

Mostra Teatro Máquina 15 anos 

 

Quando: de hoje, 15, a quarta, 17, sempre às 19 horas

Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)

Entrada gratuita

 

 

Uma história em três atos 
 

Fran Teixeira, diretora do teatro Máquina, conta a seguir um pouco da história dos espetáculos que serão apresentados na mostra comemorativa pelos 15 anos do grupo. São histórias de luta e resistência, que poderão ser revisitada 

 

Diga que você está de acordo! 

MÁQUINAFATZER parte dos fragmentos do Fatzer de Brecht e apresenta uma situação ambientada no período da I Guerra Mundial, na qual quatro soldados desertores se vêem confinados na casa de um deles. No trabalho, o grupo se desafia a enfrentar um material inacabado e desenvolver uma dramaturgia da cena, explorando a guerra como situação motriz. Na encenação o grupo dá forma ao fragmento em tensão, repetição, engajamento físico e na construção de uma língua inventada. MÁQUINAFATZER representa um momento de reinvenção estética do grupo e contou com a tutoria do diretor argentino Guillermo Cacace. O espetáculo participou de muitos festivais no País e acabou de voltar de uma temporada de circulação que promoveu uma série de mudanças no trabalho. Assim, apresentá-lo novamente em Fortaleza será um grande reencontro do grupo com o público da Cidade, mediado por esse trabalho em constante transformação.

 

 

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