CasaCor Ceará 2025 entre referências e inspirações; veja criações inovadoras

Arte, moda, arquitetura, artesanato, design. Tudo junto e misturado, como referência ou produto final

07:00 | Out. 29, 2025

Por: Larissa Viegas
Exposição Luzia Simons – Passagem pelo Jardim de Lina Bo e P.M. Bardi, no Instituto Bardi / Casa de Vidro. (foto: Luzia Simons)

Para Leo Ferreiro, a proximidade dos trabalhos manuais tornou natural o ato de manipular técnicas artesanais como parte do processo criativo. Já a origem cearense proporcionou conexão com as expressões artísticas e a possibilidade de adaptá-las ao design, a exemplo do trabalho com o couro.

A Coleção Vereda, em parceria com o mestre Espedito Seleiro, foi um convite da Central de Artesanato do Ceará (Ceart) e deu origem a uma poltrona e a duas luminárias. A proposta, explica, era criar algum produto a quatro mãos para a loja.

“Busquei compreender os processos do mestre e a partir disso fazer minha parte. Foi bem interessante”, descreve. Conheça as criações inovadoras na CasaCor Ceará 2025:

Leo Ferreiro + Espedito Seleiro

No processo criativo, Leo detalha uma divisão clara de tarefas. O designer fez o molde da peça de couro e propôs que o encaixe na estrutura fosse a partir de pecinhas, formando um tipo de babado, uma camada extra, semelhante às camadas em uma sela.

Ao enviar os moldes, o trabalho passou a ser de Espedito e sua equipe, que escolheu as demais cores e os formatos dos recortes.

Outro ponto que surpreendeu Leo foi a relação do artesão com a família e o cuidado do filho Maninho em manter vivo o legado do pai: “Espedito Seleiro é um gênio que tem uma relação muito profunda com sua criação”.

Sávio Ewan e dona Ysmênia e seu Francisval + Mestre Jaime

O convite que o designer Sávio Ewan recebeu da Ceart foi uma missão e um aprendizado. A proposta para desenvolver um produto de inovação junto à dona Ysmênia e ao seu Francisval, artesãos cratenses, despertou em Sávio o impulso de criar algo relacionado à maneira de viver, de habitar e de adornar.

Assim, durante as pesquisas sobre a região do Cariri, conheceu a trajetória do Mestre Jaime de Barbalha e se encantou com sua combinação de formas e cores, que, para ele, traduzem um sentimento naif, uma expressão pura, ainda não contaminada pela lógica da globalização.

A replicação da referência pediu alguns cuidados, como a preservação de elementos tradicionais do calçado artesanal do interior: sola de couro na cor crua, solado de pneu reutilizado, faixa de couro de bode e correia.

Para ele, a produção no ateliê do artesão exige uma compreensão que transcende um produto final:

“O artesanato é anterior a qualquer conhecimento técnico ou acadêmico. Ele carrega em si um design próprio: vernacular, intuitivo, profundamente humanizado. Há estética, função e afeto em sua construção. Este trabalho é, acima de tudo, uma troca de saberes. Quando há escuta, há criação verdadeira”.

João Crispim + Sérvulo Esmeraldo

Designer formado pela Universidade Federal do Ceará, João Crispim sempre direcionou o seu trabalho ao design de produto, em especial ao mobiliário. Com forte ligação ao movimento modernista brasileiro, descreve seu encanto pela geometria, formas, funções e pelos materiais.

Na lista de referências estão Sérvulo Esmeraldo, Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Sérgio Rodrigues, Hélio Oiticica, Lygia Clark e Leonilson.

Recentemente, João projetou a Torneira Mucuripe. Além das velas das jangadas que descansam na Praia do Mucuripe, o item também tem como referência o balanço e a geometria presente nas criações do cratense Sérvulo Esmeraldo.

“É muito importante a gente olhar para trás e reconhecer essas pessoas e o trabalho delas para a criação da cultura e da estética contemporânea do nosso País, do nosso Estado, da nossa Cidade”, celebra.

Luzia Simons + Lina Bo Bardi

A exposição Luzia Simons - Passagem pelo Jardim de Lina Bo e P.M. Bardi integra a 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo e tem como ideia principal a passagem - como deslocamento, transformação, transição.

O conceito faz juz às biografias e aos processos criativos de ambas, mulheres que imigraram, se reinventaram e que se engajam com o espaço e o tempo.

De Quixadá, no Ceará, Luzia migrou para a França na década de 1970, em plena ditadura militar, onde estudou história e artes plásticas.

Posteriormente, mudou-se para Berlim, na Alemanha, onde reside até hoje. Em 2024, participou de residência artística no ateliê de Lina Bo Bardi, o que resultou na mostra que segue até o dia 18 de outubro.

A pesquisa envolve a relação de ambas entre natureza, memória e identidade cultural. No diálogo com a famosa Casa de Vidro, que foi lar de Lina e Pietro Maria Bardi e hoje abriga o Instituto Bardi, o projeto é uma proposta que reflete sobre o jardim como espaço simbólico, político e vivo.

Com curadoria da historiadora de arte Tereza de Arruda, as obras inéditas da cearense, realizadas in situ (criadas para existir apenas na Casa de Vidro), dialogam com o mobiliário. São aquarelas, fotografias, estudos botânicos, cianotipias, objetos e instalações inseridos no espaço arquitetônico.

Luzia transforma flores, frutos e plantas em paisagens suspensas. Assim, o espaço de exposição se transforma em um jardim expandido, um convite ao público para refletir sobre histórias pessoais e coletivas.

Gabriela Fiúza e Opolo + Sérvulo Esmeraldo

A marca autoral cearense Gabriela Fiúza comemorou seus cinco anos com o lançamento da coleção Horizonte de Iracema. A Ponte dos Ingleses inspira as texturas e formas enquanto aplicações fazem referência à La Femme Bateau, de Sérvulo Esmeraldo.

“É uma homenagem à Praia de Iracema, onde o mar, a Cidade e o tempo se entrelaçam em harmonia. (As peças) nascem da observação sensível dos elementos que compõem essa paisagem, capturando a força, a leveza e a memória”, explica Gabriela.

Além das roupas, a coleção conta ainda com joias utilitárias assinadas pela Opolo, da designer e arquiteta Jamylle Weyne: um broche e uma fivela de cinto que também ganham a forma da escultura de Sérvulo. Para Jamylle, a obra carrega fantasia, coragem e esperança.

As joias, em latão com banho de ouro 18k, foram produzidas em série limitada, com poucas unidades de cada modelo.

Além do simbolismo, a joalheira afirma que as peças também trazem versatilidade aos looks da coleção, ora marcando a cintura nos cintos, ora adicionando um toque especial às peças.