'Ainda Estou Aqui': quem foi Rubens Paiva e o que fez na Ditadura?
Perseguido por militares, Paiva foi preso em 1971 e nunca mais foi visto. Conheça a seguir mais sobre a história do político e entenda o que aconteceuO aclamado filme dirigido por Walter Salles “Ainda Estou Aqui” estreou nos cinemas e, desde antes, ainda no circuito de festivais, vem despertando atenção ao redor do mundo. A produção é uma adaptação do livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva sobre o próprio pai, Rubens Paiva.
Selton Mello é quem dá vida ao paulista que foi deputado federal em 1962 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Rubens foi perseguido por militares e exilou-se por nove meses até retornar ao Brasil. Ele foi preso em 1971 e nunca mais foi encontrado.
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Sua morte só foi confirmada 40 anos após o desaparecimento e o corpo nunca foi encontrado. Conheça a seguir mais sobre a trajetória de Paiva e entenda o que aconteceu.
Quem foi Rubens Paiva?
Rubens Beyrodt Paiva nasceu em Santos, no litoral de São Paulo, e graduou-se em Engenharia Civil pela Universidade Mackenzie em 1954. Ele era filho do ex-prefeito da cidade paulista de Eldorado, Jaime Almeida Paiva, e de Araci Beyrodt.
Paiva iniciou sua trajetória política ainda na universidade, onde fez parte do movimento estudantil, liderou o Centro Acadêmico e ocupou a vice-presidência da União Estadual dos Estudantes (UEE-SP).
Esposa e filhos
O político casou-se com Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva, com quem teve cinco filhos:
- Vera Sílvia Facciolla Paiva, psicóloga e professora,
- Maria Eliana Facciolla Paiva, jornalista, editora de arte e professora,
- Ana Lúcia Facciolla Paiva, matemática e empresária,
- Marcelo Rubens Paiva, escritor e jornalista, e
- Maria Beatriz Facciolla Paiva, psicóloga e professora.
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Rubens Paiva: carreira política e oposição ao golpe militar
Sua vida política tomou impulso em outubro de 1962, quando foi eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Ele participou da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada na Câmara dos Deputados.
Seu objetivo era examinar as atividades do IPES-IBAD (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais – Instituto Brasileiro de Ação Democrática). A Instituição financiava palestrantes e escritores que escreviam sobre a chamada "ameaça vermelha" no Brasil.
Enquanto os militares avançavam para depor o presidente João Goulart em abril de 1964, Paiva fez um discurso acalorado na Rádio Nacional criticando o governador paulista, Ademar de Barros, apoiador do golpe. Ele então teve seu mandato cassado devido ao Ato Institucional Número Um (AI-1).
Exílio
Sem mandato, Paiva chegou a se exilar na Iugoslávia e na França, mas acabou voltando para o Brasil nove meses depois.
Radicado no Rio de Janeiro, ele voltou a exercer a engenharia e atuou também no jornalismo.
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Rubens Paiva: prisão e desaparecimento na Ditadura
Seu retorno ocasionou sua prisão e desaparecimento. Rubens foi detido em 20 de janeiro 1971, feriado de São Sebastião, após a descoberta de correspondências de exilados no Chile. Considerando que ele era um dos destinatários, militares invadiram sua residência e o conduziram para interrogatório.
O objetivo era chegar a “Adriano”, militante revolucionário, e Lamarca, na época o militar desertor mais procurado do país. Rubens conhecia apenas Carlos Alberto Muniz, o Adriano, e o receberia em casa naquele dia. Ele não entregou o militante quando foi detido, mesmo após ser torturado.
Em entrevista ao O Globo em 2012, Muniz, que atua até hoje na política, afirmou que Rubens era uma referência política. “Ele não era pombo-correio, não pertencia a grupo armado, não conhecia Lamarca”, contou.
“Ele era uma referência. Gostava de trocar ideias com todos que estavam na oposição, inclusive os mais jovens, sobre a redemocratização e ajudava perseguidos a sair do Brasil”, relembrou. “Rubens foi barbaramente torturado e não me entregou”.
Morte
Um médico chegou a ser chamado à cela em que Rubens estava e encontrou o prisioneiro nu, deitado com os olhos fechados, corpo marcado de pancadas e sinais de hemorragia interna. Porém, o major que o acompanhava se negou a levá-lo ao hospital. O ex-deputado teria então morrido em decorrência das torturas a que foi submetido.
Segundo nota oficial dos órgãos de segurança na época, o carro que estava Rubens Paiva teria sido atacado por indivíduos desconhecidos, que o teriam sequestrado. Ele foi dado como “desaparecido” após fuga, mas a versão foi desmentida posteriormente.
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Em 2014, durante a Comissão Nacional da Verdade, uma reportagem do O Globo baseada em depoimentos de ex-agentes envolvidos revelou que o corpo de Paiva fora enterrado em um terreno baldio no Alto da Boa vista. Dois anos depois, foi levado à Praia do Recreio dos Bandeirantes, para ser jogado no mar.
Rubens Paiva: a verdade após quarenta anos
O corpo do político nunca foi encontrado e seu atestado de óbito só foi emitido em 1996, depois que Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei dos Desaparecidos, a qual reconheceu como mortos aqueles que “sumiram” durante a Ditadura.
Apesar de várias testemunhas relatarem terem ouvido Rubens Paiva ser torturado e clamar por água antes de ter o corpo sem vida retirado da cela, a versão oficial só foi derrubada de vez em 2014.
O coronel reformado Raimundo Ronaldo Campos admitiu ter montado a farsa com os companheiros. Na época, cinco ex-militares foram denunciados pelo Ministério Público Federal, incluindo Ronaldo.
Foram denunciados à Justiça Federal:
- general José Antônio Nogueira Belham,
- general Raimundo Ronaldo Campos,
- capitão Jacy Ochsendorf e Souza,
- capitaõ Jurandyr Ochsendorf e Souza, e
- o tenente-coronel Rubens Paim Sampaio.
As acusações incluíam homicídio doloso, ocultação de cadáver, associação criminosa armada e fraude processual. Entre 2017 e 2020, morreram Sampaio, Campos e Jurandyr Ochsendorf e Souza.
Reabertura do caso
Em abril deste ano, 53 anos após a prisão e o assassinato de Rubens Paiva, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos aprovou a retomada da investigação do assassinato e sumiço do ex-deputado. Com a reabertura do caso, o conselho se reúne para aprovar um plano de trabalho, iniciar a investigação e tentar responsabilizar culpados.
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