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Análise: Rubem Fonseca, por Pedro Salgueiro

Aos 94 anos, o escritor Rubem Fonseca morreu nesta quarta-feira, 15 de abril
11:30 | Abr. 16, 2020
Autor Pedro Salgueiro
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Tipo Notícia

Rubem Fonseca, assim como João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Dalton Trevisan e Lygia Fagundes Telles (sem esquecer outros grandes contistas da Literatura Brasileira da segunda metade do século XX aos dias atuais, citaria mais uns dez “monstros” sem esforço de memória), fincou morada – há mais de 5 décadas – no andar de cima da Literatura Brasileira.

Já em 1963 causou espanto com Os Prisioneiros, chamando a atenção da crítica, dos colegas de ofício e dos leitores, porém foi com a censura de seu Feliz Ano Novo, em 15 de dezembro de 1976, pela Ditadura Militar, que se tornou um nome amplamente conhecido, quando o cearense Armando Falcão, ministro da justiça de Ernesto Geisel, o proibiu (depois de 30 mil exemplares vendidos e várias semanas na lista de mais vendidos da Veja) com o despacho que dizia: “Nos termos do parágrafo 80 do artigo 153 da Constituição Federal e artigo 3º do Decreto-Lei nº 1.077, de 26 de janeiro de 1970, proíbo a publicação e circulação, em todo o território nacional, do livro intitulado Feliz Ano Novo, de autoria de Rubem Fonseca, publicado pela Editora Arte Nova S.A., Rio de Janeiro, bem como determino a apreensão de todos os seus exemplares expostos à venda, por exteriorizarem matéria contrária à moral e aos bons costumes. Comunique-se ao DPF.”

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Mas mesmo depois das famigeradas censura e ditadura passarem (“Vai passar nessa avenida o samba popular”, nos lembrou e nos lembra ainda Chico Buarque), não faltaram censores movidos (como aqueles outros) pela burrice e/ou incultura a tentar censurar seus livros: ainda dia desses um reles secretário de cultura semianalfabeto (?) de Rondônia tentou proibir nada mais nada menos que 43 livros, de clássicos universais aos contemporâneos nacionais, de Kafka a Machado de Assis, e – pasmem! – destas 43 obras nada menos que 19 eram de Rubem Fonseca.

Ele chocou e polemizou (com muito mais admiradores que detratores) por mais de 5 décadas e seguirá nos assustando e deleitando com sua literatura forte e talentosa. Morreu o homem no alto dos seus quase 95 anos (que faria mês que vem).

E só resta esperar que nos tenha deixado mais alguns contos desafiadores no fundo da gaveta de sua velha mesa de trabalho no sempre querido bairro do Leblon.

Pedro Salgueiro

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