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Morre Rubem Fonseca: o homem da palavra inconformada

O romancista e contista, Rubem Fonseca, faleceu nesta quarta-feira, 15, mas deixou um legado por meio de suas obras
18:44 | Abr. 15, 2020
Autor Clara Menezes
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Tipo Notícia

“Escrever foi a mais agoniante de todas as lutas que enfrentei. Ninguém pagou mais caro do que eu pelas linhas que escreveu”.

A batalha que Rubem Fonseca teve com a literatura, descrita em seu livro de contos Romance Negro e Outras Histórias, foi talvez a mesma que o estimulou a continuar até os últimos momentos de sua vida. Falecido nesta quarta-feira, 15, deixou legado de quase cinco décadas dedicadas à escrita.

Com dezenas de obras, tornou-se nome aclamado pela maneira de contar histórias: com quase nenhum rodeio, falava da vida como a vivenciava. Sem vilões, sem heróis e sem eufemismos. Essa era a forma que o escritor via e descrevia a realidade.

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Durante o início da vida adulta, teve experiências que explicariam o próprio estilo literário. Formado em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trabalhou para a Polícia. Essa parte de sua trajetória seria uma das principais influências do autor em diversos momentos. No primeiro romance publicado, O Caso Morel, criticaria: “Um ladrão é considerado um pouco mais perigoso do que um artista”.

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A violência e a solidão percorrem a maioria das obras. Os personagens, muitas vezes, eram policiais. Conhecido como um dos grandes nomes da ficção brasileira, a vida real sempre permeou as narrativas. Exemplo dessa conexão entre imaginação e verdade é o romance histórico Agosto, lançado em 1990.

O cenário dos acontecimentos que se sucedem é um que marcou o Brasil: o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, em 1954. Em meio aos escândalos políticos da época, o foco é a vida do personagem fictício Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do político. “Essa era outra coisa desagradável de ser polícia: as pessoas quando não sentiam ódio, sentiam pena dele”, descreve.

Não limitou-se, porém, aos assuntos relativos às autoridades policiais. Buscava também a crítica às desigualdades sociais do Brasil. “Ir à ópera, aos concertos, aos museus, fingir que liam os clássicos, tudo fazia parte de uma grande encenação hipócrita dos ricos, cujo objetivo era mostrar que eles pertenciam a uma classe especial de pessoas superiores que, ao contrário da chusma ignara, sabia ver, ouvir, e comer com elegância e sensibilidade, o que justificaria a posse do dinheiro e o gozo de todos os privilégios”, escreveu.

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Foi com suas palavras que beiram a crueldade que se tornou autor clássico da literatura nacional. Levou as convicções e senso de justiça até o fim da própria trajetória, em uma quarta-feira de país parado pela ameaça invisível de um vírus. “Quanto a mim, o que me mantém vivo é o risco iminente da paixão e seus coadjuvantes, amor, ódio, gozo, misericórdia”, relatou em O Cobrador. Aos 94 anos, morreu, mas deixou para os próximos escritores e leitores um legado: a palavra que transgride, que corta, que transforma.

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