Artistas lançam nota de repúdio contra XIII Festival de Teatro de Fortaleza
Os grupos de teatro reclamam por maior participação na concepção desta edição do festival. Secretaria afirma que processo foi feito de forma democráticaAtualizada às 14h do sábado, dia 28/09/19
Coletivos de teatro, atrizes e atores assinaram uma nota de repúdio contra o edital do XIII Festival de Teatro de Fortaleza (FTF), promovido pela Secretaria Municipal da Cultura (Secultfor). Os artistas reclamam da falta de participação da classe na confecção das regras de participação do evento e diminuição do cachê. Os assinantes da nota não pretendem se inscrever nas mostras. Na tarde desta sexta-fera, 27, uma comissão do Fórum Cearense de Teatro formada por Ari Areia, Aristides Oliveira, Herê Aquino, Silvia Moura e Raimundo Moreira foi recebida no gabinete do secretário municipal de cultura de Fortaleza, Gilvan Paiva, para tratar dos pontos discordantes entre a classe artística e a gestão no processo de construção do XIII Festival de Teatro de Fortaleza (FTF).
Antes dessa reunião onde foi feito o acordo, Edson Cândido, conselheiro municipal de teatro, explicou que acordos feitos em reuniões entre a secretaria e o Fórum Cearense de Teatro não foram cumpridos. Segundo ele, representantes do Fórum não foram convocados para participar da construção do festival e a comissão de artistas não foi organizada, como teria sido combinado. Edson diz que a lista de grupos que não irão se inscrever em protesto chega a mais de 25 nomes, incluindo artistas como Silvero Pereira e Ricardo Guilherme.
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AssineAlém da pouca participação, o cachê passou a ser R$ R$ 2.112,65 na Mostra Fortaleza em Cena. Em 2016, na última edição do FTF, o valor era de R$ 4 mil para uma apresentação e R$ 7 mil para duas. Para os artistas, o número de vagas para espetáculos nesta edição foi expandido de forma “inconsequente”, o que acabou “precarizando condições de trabalho com redução de cachês”, de acordo com a nota.
As reuniões para discussão do FTF ocorrem desde 2018. Entre as partes foi discutido valores de produção, concepção do tema do evento, função social e papel do festival no fomento do teatro na Capital. “Nessa arena de discussões ao longo dos meses, viários pontos ficaram entendidos por nós como acordos junto à Secultfor, mas que, infelizmente, foram descumpridos e desrespeitados, depreciando anos de lutas e conquistas da categoria”, diz o texto assinado pelos artistas.
Em resposta, a Secultfor relata, por meio de nota, que o processo de concepção do festival foi feito de forma “transparente e democrática”. A pasta explica que o edital foi discutido com membros do Conselho Municipal de Política Cultural e afirma estar interessada no diálogo com os artistas e grupos do Fórum Cearense de Teatro que assinaram a nota de repúdio.
A secretaria cita cortes orçamentários no campo da Cultura em âmbito nacional e afirma que, apesar disso, o festival continuou com o objetivo de estimular a participação de mais espetáculos. São 58 peças teatrais com temática livre na edição de 2019. A mostra principal, que em 2016 tinha 15 espetáculos, neste ano terá 23 montagens.
Sobre o festival
O XIII Festival de Teatro de Fortaleza deve ocorrer entre os dias 12 e 19 de dezembro de 2019. Os 58 espetáculos estarão divididos entre a Mostra Fortaleza em Cena, Mostra Interbairros Novos Olhares e Ações Espetaculares em Escolas Públicas Municipais. O evento é promovido pela Secretaria Municipal da Cultura por meio da produtora VC Eventos.
Confira a nota de repúdio dos artistas na íntegra:
À população de Fortaleza,
O Fórum Cearense de Teatro, mobilização da sociedade civil organizada, composto por atrizes e atores independentes, coletivos, grupos e companhias teatrais, vem a público rejeitar a forma como a Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor) conduziu o processo de construção do XIII Festival de Teatro de Fortaleza (FTF).
O FTF, evento de calendário mais importante para a classe teatral e para a população que é público de teatro desta capital é, mais do que agenda, é uma das poucas políticas públicas para a linguagem com que podemos contar, garantida na forma da lei. Ao longo das últimas 12 edições, as gestões que passaram pela prefeitura da cidade (em maior ou menor medida) se pautaram no respeito ao controle social, mantendo estreito diálogo e efetiva participação popular por meio da instância representativa da classe teatral que este Fórum representa.
O XIII FTF deveria ter acontecido no ano passado, então, desde lá temos provocado diversas reuniões com a secretaria para discutir formato, debater a função social que o evento deve cumprir, sua vocação no fomento à produção artística, além de estrutura e valores razoáveis para uma produção desta dimensão. Fizemos isso acreditando ser possível o diálogo como o entendemos, uma via de mão dupla e não como um diálogo unilateral sem cumprimento dos acordos. Nessa arena de discussões ao longo dos meses, viários pontos ficaram entendidos por nós como acordos junto à Secultfor, mas que, infelizmente, foram descumpridos e desrespeitados, depreciando anos de lutas e conquistas da categoria.
Por isso qual não foi nossa surpresa ao nos depararmos com o edital convocatório para inscrições dos trabalhos que vão compor as mostras desta 13ª edição do FTF. Listamos aqui alguns espantos:
1. Exclusão da presença de representante da classe artística na Comissão Organizadora do Festival;
2. Ausência completa de diálogo com a classe artística no processo final de construção do edital de convocação de trabalhos a compor programação, lançado pela VC Eventos, como tradicionalmente se deu com as outras produtoras realizadoras do Festival;
3. Incompreensão de aspectos simples sobre a produção de trabalhos cênicos atuais que levaram a pontuar de forma eliminatória a exigência de duração máxima de 60 min para espetáculos;
4. Diminuição da quantidade de apresentações, caindo de duas para uma apresentação de cada espetáculo, bem como o valor do cachê que era de R$4.000,00 por uma apresentação e 7.000,00 por duas no edital de 2016, o que contribuía com um dos objetivos do festival que é o fomento aos grupos teatrais da cidade;
5. Inconsequente aumento no número de espetáculos selecionados para compor a programação, precarizando condições de trabalho com redução de cachês a cerca de 50% do valor pago na edição passada;
6. Burocratização excessiva no processo de inscrição, já superada em edições anteriores. (Foi corrigido, pela SULTFOR, na prorrogação das inscrições para o Festival);
7. Chamada pública para entidade executora do projeto por meio de pregão desconsiderando a dimensão do FTF e selecionando uma proponente que apresentou projeto com valor aproximado de mais ou menos 30% a menos do que o orçamento da edição anterior, a partir da precarização do trabalho dos artistas. Consideramos que os valores apresentados deveriam ter como piso, pelo menos, o que foi investido no último festival de 2016.
Portanto, para que o fórum de teatro continue sendo um canal de diálogo e de luta, deixamos aqui nosso repúdio a esse tipo de conduta, afirmando nossa não participação no festival. Assinam essa nota:
Outro Grupo de Teatro
Grupo Imagens de Teatro
KO’s Coletivo
Expressões Humanas
Silvia Moura- atriz/bailarina/coreografa e performer
Nois de Teatro
Bagaceira
Pavilhao
Coletivo WE
Grupo EmFoco
Pícaros incorrigíveis
Cia Prisma
Jéssica Teixeira- Atriz
Alysson Lemos- Ator
As 10 Graças
Comedores de abacaxi S/A
Confira a nota da Secultfor na íntegra:
A Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) esclarece que o processo de construção do XIII Festival de Teatro de Fortaleza se desenvolveu de forma transparente e democrática, tendo sido o edital apresentado e discutido em reunião do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) e debatido em diversas reuniões com representantes da categoria teatral.
Neste ano, mesmo em um cenário de corte orçamentário nacional para a Cultura, o festival foi pensado com premissas como a ampliação no número de espetáculos a serem selecionados, num esforço de ampliação de fomento à política pública, contemplando 58 espetáculos teatrais com temática livre, realizados por artistas, grupos, companhias ou coletivos de teatro, iniciantes ou veteranos.
O processo seletivo do edital tem prazo de inscrição até sexta-feira (27/09), de forma presencial ou por e-mail, conforme a preferência do candidato.
A programação do XIII Festival de Teatro de Fortaleza será composta por três mostras: espetáculos iniciantes, espetáculos veteranos e ações em escolas municipais. As apresentações deverão ocorrer de outubro a dezembro de 2019. Ressalte-se que o edital possibilita que os artistas e grupos sejam contemplados em mais de uma mostra.
A Secultfor destaca, ainda, o interesse no diálogo, para esclarecer qualquer dúvida sobre o edital junto aos grupos e artistas teatrais do Fórum Cearense de Teatro.
Confira nota do coletivo de artistas após acordo com a secretaria
VITÓRIA!! Na tarde desta sexta-feira (27), uma comissão do Fórum Cearense de Teatro formada por Ari Areia, Aristides Oliveira, Herê Aquino, Silvia Moura e Raimundo Moreira foi recebida no gabinete do secretário municipal de cultura de Fortaleza, Gilvan Paiva, para tratar dos pontos discordantes entre a classe artística e a gestão no processo de construção do XIII Festival de Teatro de Fortaleza (FTF).
Após a conversa ficou acordado entre a Secretaria e este Fórum que:
1) Será retirada a exigência de duração máxima de 60 min para inscrição de espetáculos até então constante no edital de seleção.
2) A Comissão de construção e acompanhamento da execução do FTF vai contar com presença de representante indicado por este Fórum.
3) Fim da obrigatoriedade de entrega de material em via impressa ou qualquer mídia física dos itens exigidos no edital. Desburocratizando o processo de inscrição por email e link.
4) Os valores de cachês para apresentações na Mostra Principal serão reajustados de R$ 2.100,00 para R$ 3.100,00 e demais mostras de R$ 800,00 para R$ 1.200,00.
A Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor) se comprometeu em publicar uma retificação do edital do XIII FTF constando essas mudanças e reabrir o período de inscrição em mais uma semana, indo até o dia 04 de outubro.
Vitória da mobilização da classe trabalhadora do teatro na cidade! Vamos seguir firmes, articulados, atentos e fortes. Os tempos pedem de nós coragem e a compreensão de que só a luta muda a vida.
Vamos nos encontrar na quarta-feira (02), às 19h, na Vila das Artes para avaliar esse processo e encaminhar os próximos passos. Contamos com a presença dos grupos e artistas independentes.
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