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Após entrada em bolsa, Facebook corre o risco de preferir publicidade a usuários

Com a entrada em Wall Street, a empresa se submeterá de forma permanente à pressão dos investidores, que buscam sempre maximizar os lucros e a rentabilidade

17:01 | 15/05/2012

WASHINGTON, 15 Mai 2012 (AFP) - A entrada na bolsa do Facebook prevista para esta sexta-feira, 15, é considerada um grande evento financeiro em escala global, mas não deve gerar maiores mudanças para seus usuários além de um entorno mais centrado na publicidade.

No curto prazo não é esperada nenhuma revolução, mas dentro de alguns anos a repercussão desta cotação na bolsa deve ser fortemente sentida.

Com a entrada em Wall Street, a empresa se submeterá de forma permanente à pressão dos investidores, que buscam sempre maximizar os lucros e a rentabilidade do que constitui a principal riqueza do Facebook: o usuário e seu desejo de consumo.

Os primeiros efeitos devem ser produzidos na aplicação do Facebook para os celulares.

"Se queremos ver uma mudança concreta que influencie a experiência do usuário, temos que olhar para os celulares", disse Rebecca Lieb, consultora de novas tecnologias do grupo Altimeter. "Começaremos a ver publicidade".

Por mais surprendente que possa parecer, até agora o Facebook não conseguiu quase nenhum lucro com seus produtos para celulares, que não têm anúncios publicitários.
Em sua apresentação aos investidores, a direção do site informou que isso é algo que se deseja mudar rapidamente e, para isso, foi lançado um sistema de notícias patrocinadas.

No que se refere ao site, espera-se também uma mudança, mas que não implica necessariamente em uma enxurrada de publicidade clássica.

"O Facebook deve manter seu aspecto conhecido ao incorporar publicidade", afirma N. Vendat Venkatraman, da Universidade de Boston.

O Facebook poderia também ter que desenvolver uma nova forma de publicidade: que os amigos aconselhem produtos, incitem a provar tal restaurante ou que cada vez mais empresas tenham suas páginas com o propósito de receber mais "curtir".

As hipóteses de mudanças mais drásticas, por exemplo, de uma versão 'premium' que mediante pagamento garantisse funcionalidades melhoradas, dependem inteiramente do presidente geral, Mark Zuckerberg, e de sua vontade de satisfazer as exigências de rentabilidade apresentadas pelos investidores, a quem enfrentará cada vez que publicar seus resultados trimestrais.

Para ele, a fronteira é delicada. Deve criar novas receitas sem espantar os usuários.

"Se o Facebook perturba a audiência, perde a rentabilidade e os benefícios vão embora com ela", disse Lieb. "Vimos outros gigantes da internet não responder as demandas de seus usuários e cair", afirmou.

A história recente está repleta de experiências instrutivas sobre os perigos de colocar as receitas trimestrais à frente dos consumidores.

"A relação com os usuários demora a ser construída, mas pode ser rompida rapidamente, como vimos com o MySpace", disse James Lenz, professor de economia da Universidade Rice. Esse site, pioneiro das redes sociais, foi lançado por publicitários em 2003 e comprado em 2005 pelo grupo de Rupert Murdoch, News Corp, mas nunca teve o sucesso do Facebook, que o superou em 2008.

O Netflix, o serviço americano de aluguel e exibição de vídeos sob demanda, é outro exemplo da dificuldade de propor novos serviços lucrativos e manter o público.

No ano passado, separou o aluguel de vídeos por correio da difusão destes online, mas a medida "não agradou os usuários e o preço das ações despencou", lembrou Lenz.

Em outros casos, como o Google, o conflito de interesses entre usuários e investidores foi bem resolvido. Segundo Lieb, o Google sempre alertou os investidores que levaria em conta os resultados trimestrais da empresa, mas privilegiaria o longo prazo. "Acho que isso funcionou muito bem".

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