Saiba o que é a técnica do comer intuitivo, que busca uma nova relação com a comida

O comer intuitivo entende que a fome deve ser honrada e as dietas abolidas, tudo a partir da compreensão dos sinais corporais de fome e saciedade

Para os padrões atuais da sociedade, comer virou um campo de batalha. Dietas, número limite de calorias, o “corpo perfeito”. Tudo conspira contra a comida, separada entre boa e ruim, sem meio termo. Nesse processo, algo essencial para a relação humana com a comida ficou em segundo plano: a fome e a saciedade.

De acordo com Érika Paula Farias, nutricionista, a sociedade perdeu a conexão com o próprio corpo, ficando incapaz de identificar os sinais internos de fome, saciedade e desejo. “A gente passa a se guiar por sinais externos. Por exemplo, quando eu começo a fazer uma dieta que fala que eu tenho que comer de três em três horas. Às vezes, eu não estou com fome, mas vou comer porque tem que comer. E às vezes eu estou morrendo de fome, mas eu não como porque ainda não é horário de comer”, exemplifica.

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O problema disso, principalmente de segurar a fome, é que o corpo vai continuar mandando sinais que impulsionam desejos por alimentos mais ricos em gordura e em açúcar. “Estou fazendo meu corpo usar a comida como forma de bônus, por estar fazendo ele passar fome”, diz Érika.

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Mas o problema não é o fato de estar comendo mais calorias. Cada corpo é um corpo, com gastos de energia diferentes e, portanto, com “cotas” diferentes de calorias diárias. O problema é desrespeitar as necessidades do organismo, forçando-o a encontrar soluções que, a longo prazo, não são tão saudáveis assim.

“Como isso está ligado ao comer intuitivo? O comer intuitivo justamente prega o contrário. Que nós abandonemos a dieta e observemos mais o que o nosso corpo pede”, afirma a nutricionista.

Comer intuitivo

 

“O comer intuitivo é a permissão incondicional para comer, com sintonia. Comer para entender suas necessidades fisiológicas e não emocionais”, define a nutricionista Dani Borges. Dessa forma, o ato de comer voltaria a estar relacionado ao que o corpo pede e não à necessidade de suprir embates emocionais.

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De acordo com ambas as nutricionistas, permitir-se comer e saber reconhecer o que o corpo deseja traz muitos benefícios. Primeiro, evitam-se os excessos e as privações. Segundo, come-se melhor. Como explicou Érika, o ato de ignorar a fome faz com que o organismo biologicamente deseje comidas com mais gordura e açúcar. Mas, se a fome for respeitada, o corpo desejará outros tipos de alimentos.

Isso não significa que os bolos de chocolate ou os hambúrgueres são monstros e nunca devem ser comidos. Pelo comer intuitivo, está tudo bem comê-los se existe o desejo. No entanto, as ânsias por alimentos do tipo serão menos constantes, já que o corpo estará saciado.

“Uma coisa muito comum que a gente vê é a dieta da moda. As pessoas precisam entender, primeiro de tudo, que dieta precisa ser individualizada”, reforça Dani. Assim, o comer intuitivo estimula o autoconhecimento das pessoas e ajuda até a melhorar a autoestima.

Dez princípios do comer intuitivo

 

A técnica do comer intuitivo é guiada por dez princípios que estimulam uma relação mais próxima com o próprio corpo. Veja quais são, segundo a definição do Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade (Genta):

- Rejeite a mentalidade de dieta: a dieta precisa ser individualizada. Cada corpo é um corpo diferente, com demandas energéticas diferentes.

- Honre sua fome: mantenha seu corpo alimentado com energia e carboidratos suficientes. Uma vez que você segura a fome, as tentativas de comer moderadamente e de forma consciente são ineficazes.

- Faça as pazes com a comida: dizer que “não pode” ou que “não deve” comer determinado alimento pode intensificar os sentimentos de privação e gerar vontades incontroláveis. Frequentemente, este tipo de comportamento leva às compulsões alimentares. Quando essa ideia é deixada de lado, o ato de comer pode ser vivenciado com maior intensidade, e isso normalmente reduz exageros alimentares.

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- Desafie o “policial da comida”: diga “NÃO” aos pensamentos que falam que você é “bom” quando come o mínimo de calorias ou “ruim” porque você comeu um pedaço de torta de chocolate.

- Respeite sua saciedade: escute quando os sinais do seu corpo disserem que você ainda não está satisfeito. Perceba quando os sinais mostrarem que você já está confortavelmente cheio.

- Descubra um momento de satisfação: na nossa fúria para sermos magros e saudáveis, frequentemente negligenciamos um dos mais básicos presentes da existência, o prazer e a satisfação que podem ser encontrados na experiência do ato de se alimentar. Quando você come o que realmente quer, em um ambiente convidativo, a satisfação promovida se tornará uma força poderosa na percepção da saciedade e do contentamento.

- Honre seus sentimentos sem utilizar-se da comida: encontre maneiras de alívio, estímulo, distração e resolva seus problemas sem usar a comida. Ansiedade, solidão, tédio, raiva são emoções que todos nós vivenciamos ao longo da vida. A comida não consertará nenhum destes sentimentos. Comer por “fome emocional” só fará você se sentir pior.

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- Respeite seu corpo e aceite sua genética: como uma pessoa que calça 37 não esperaria realmente “entrar” em um sapato de número 35, é igualmente inútil (e desconfortável) ter a mesma expectativa com relação ao tamanho do seu corpo. Respeite-o e então você poderá sentir-se melhor consigo mesmo.

- Exercite-se: Seja ativo e sinta a diferença. Mude o foco para como você se sente movendo o seu corpo, ao invés de o quanto você gasta de calorias fazendo o exercício. Se o seu foco estiver em como você se sente durante a atividade, você se sentirá energizado.

- Honre sua saúde: usar os conhecimentos nutricionais de forma flexível te permite fazer escolhas alimentares que honram sua saúde enquanto faz você se sentir bem. Lembre-se que você não precisa comer uma dieta perfeita para ser saudável.

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