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Entenda o que é estresse tóxico infantil e como evitar durante a pandemia

Crianças que passam por momentos de estresse intensos e prolongados têm a estrutura cerebral afetada e podem vir a desenvolver doenças crônicas, além de distúrbios psicológicos e comportamentais

O estresse é uma resposta física aos estímulos do mundo e até é importante para os humanos. Afinal, ele ativa hormônios, como cortisol e adrenalina, para deixar o corpo em alerta e lidar com situações de perigo. No entanto, estresse em excesso nunca é bom, principalmente quando vivenciado por crianças em pleno estágio de desenvolvimento.

O estresse tóxico infantil ocorre quando crianças vivem situações de estresse constantemente e durante tempo prolongado. Somado a isso, as crianças que geralmente vivenciam isso carecem de suporte de pais ou responsáveis, tendo o momento de estresse invisibilizado.

A pediatra Virna da Costa e Silva, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Cearense de Pediatria (Socep), explica que algumas causas do estresse tóxico são: negligência (intencional ou não), envolvimento em violência doméstica e bullying. “É um risco pra criança por causa do período de desenvolvimento dela, principalmente da neuroformação que a criança está tendo”, alerta.

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Sinais e consequências

De acordo com a pediatra Andressa Tannure, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os primeiros sinais de estresse tóxicos são atitudes que não eram comuns anteriormente. Por exemplo, as crianças ficam mais chorosas, não dormem bem e alteram o apetite, como comer demais ou de menos.

Ainda, elas podem regredir no desenvolvimento: “Uma criança que já havia realizado o desfralde volta a fazer xixi na cama”, ilustra a especialista. Elas também podem evoluir para quadros mais intensos de hiperatividade, agressividade, personalidade introspectiva, sentimento de incompetência e déficit de atenção.

“Quando a criança é exposta ao estresse tóxico, toda a sua estrutura cerebral é afetada, provocando disfunção no sistema neurológico e endocrinológico”, informa Andressa. Por isso, crianças que vivem nessa condição podem desencadear doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e doenças pulmonares.

Além disso, elas estão sujeitas a desenvolver com mais facilidade transtornos mentais, como depressão ou transtorno de ansiedade generalizada, e distúrbios comportamentais. O risco à dependência química também é maior.

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Estresse tóxico durante pandemia

Se os adultos estão passando por momentos difíceis durante a pandemia, com mais casos relatados de ansiedade e depressão, imagine as crianças. O isolamento social as retira de uma rotina que envolvia relações sociais entre amigos da escola e outros familiares, atividades físicas e diversas práticas essenciais para o desenvolvimento infantil pleno.

“A gente precisa estar bem atento para que elas não tenham sequelas e traumas relacionados a isso”, reforça a pediatra Virna. Segundo ela, o ideal é explicar para a criança o suficiente para cada faixa etária entender a situação, sem exagerar na frequência e no nível de alarmismo, pois pode contribuir para o estresse dos pequenos.

Depois, é preciso manter uma rotina definida dentro de casa. Levantar, comer e dormir em horários determinados; ter alimentações saudáveis e também vivenciar momentos de “nadismos”, como nomeia Virna. “É fazer nada que seja previamente definido. Praticar algo de forma espontânea, tipo um carinho, uma brincadeira. Ter tempo livre para fazer algo que seja saudável para a criança”, explica a especialista.

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Um dos principais problemas durante a pandemia é que os pais, apesar de estarem em casa, negligenciam os cuidados e momentos com os pequenos. “As crianças não entendem como o pai e a mãe estão dentro de casa e não dão nenhuma atenção para elas. Elas falam muito isso”, relata Virna. “Muitas crianças se perguntaram assim: ‘Nossa, mas meu pai tá o dia todo dentro de casa e não faz nada comigo’. Realmente [os pais] ficam mais ausentes. Enquanto que, anteriormente, quando os pais iam para o trabalho, a criança ia para a escola/creche e fazia outras atividades que preenchiam o tempo dela e ela não percebia. Mas agora está mais perceptível.”

Por isso, o recomendado pelas pediatras é que os pais e responsáveis organizem uma rotina adequada e disponibilizem tempo livre para estarem presentes nas atividades dos filhos. “Em meio a todas essas situações atuais, fica mais evidente a importância do suporte familiar, do acolhimento, do incentivo às atividades de lazer, do estabelecimento de uma rotina saudável e, se necessário, de um tratamento multidisciplinar com psicoterapia”, conclui Andressa.

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