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Como a Guerra Fria levou ao primeiro pouso na Lua

00:06 | Jul. 22, 2019
Autor DW
Tipo Notícia
Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong se tornou o primeiro ser humano a pôr os pés na Lua. Era o ápice da frenética corrida tecnológica entre União Soviética e Estados Unidos, um significativo capítulo da Guerra Fria.A história dos voos espaciais tripulados começou na década de 1950, quando as únicas superpotências da época, Estados Unidos e União Soviética, travavam uma acirrada corrida nuclear. Partia-se do princípio que quem dominasse o espaço sideral poderia também dominar o mundo inteiro no âmbito militar. Afinal, um foguete espacial pouco se distingue de um míssil intercontinental. No espaço a URSS estava bem à frente dos EUA, e não havia a menor garantia de que os americanos seriam capazes de vencer a corrida. "Os soviéticos já tinham mandado foguetes para o espaço, e os nossos ainda explodiam na rampa de lançamento", recorda o astronauta John Glenn, que antes atuara como piloto de combate na Segunda Guerra Mundial e na guerra da Coreia. Em 1957, fora o piloto dos primeiros voos de teste das aeronaves supersônicas das Forças Aéreas americanas. Esse era o estado das coisas em 1957, quando a URSS lançou o primeiro satélite, o Sputnik. Mais tarde constatou-se que não se tratava de nenhum aparelho complicado: era uma esfera de metal com um transmissor e receptor de rádio dentro. Ainda assim, o êxito soviético chocou a opinião pública ocidental, elevando a pressão sobre Washington para contrapor algo à nova ameaça partindo do espaço. "O Sputnik foi o começo da era espacial, em 1957, e os EUA corriam atrás", conta o americano Neil Armstrong, que mais de dez anos depois seria o primeiro ser humano a pôr o pé na Lua. Os americanos responderam ao desafio com seu próprio satélite, o Explorer 1, de construção muito mais sofisticada. E o presidente Dwight D. Eisenhower fundou a agência espacial Nasa, com a meta declarada de levar o homem ao espaço. "Estamos diante de um dos maiores desafios que a humanidade moderna já enfrentou", afirmou o então chefe de Estado num discurso. "Vamos desenvolver naves espaciais e mandá-las ao espaço, para coletar dados científicos e pesquisar o sistema solar. E vamos nos preparar para, um dia, enviar gente ao espaço." Os técnicos americanos estavam seguros que conseguiriam esse feito, e contavam com Wernher von Braun como trunfo. O engenheiro espacial alemão, que já construíra foguetes para a Alemanha nazista, emigrara para os EUA após a Segunda Guerra, com quase 100 de seus especialistas, e fundara o programa de mísseis americano. Para a opinião pública do país, na época, ele era uma sumidade científica absoluta. Só anos mais tarde, em meados dos anos 70, críticos começaram a questionar seu passado nazista e o envolvimento em crimes de guerra. Contudo, no fim dos anos 50, isso ainda não era tematizado. Para Von Braun, a única coisa que contava era sua equipe estar mais avançada do que a concorrência soviética, na questão dos satélites. E isso ele conseguiu: "Com naves espaciais menores, já reunimos mais conhecimento do que os russos com naves muito maiores", gabava-se numa coletiva de imprensa. No entanto, nem todos os pilotos de teste estavam muito entusiasmados, desde o início, com a ideia de lançar pessoas ao espaço. "Os engenheiros tentaram me convencer de como ia ser fantástico se sentar numa cápsula, na ponta de um foguete", contou mais tarde o astronauta americano Walter Schirra. "Eu disse: 'De jeito nenhum! Peguem o idiota que voa montado numa bala de canhão, no circo, mas a gente, não." Os especialistas tentaram acalmá-lo: "'Não se preocupe, primeiro vamos usar macacos e chimpanzés.' E eu pensei: 'Me deixem dar o fora daqui!' Quer dizer, eu realmente não achei a menor graça na ideia." A rejeição inicial de Schirra não durou muito: ele seria um dos sete astronautas que em 1959 a Nasa apresentou ao público para o projeto Mercury. Os futuros homens do espaço se apresentaram à imprensa cheios de otimismo, porém uma grave pane ocorreu no lançamento do primeiro foguete do projeto. "Nenhum de nós havia presenciado um lançamento. E nós, astronautas calouros, lá estamos, vendo um foguete subir a 10 mil metros de altura. E de repente ele explodiu", lembra Glenn, um dos sete escolhidos. "Parecia uma bomba atômica, e nós só nos entreolhamos e pensamos: 'Amanhã de manhã precisamos falar com os engenheiros.'" Pouco mais tarde, o próximo choque: em 12 de abril de 1961, o russo Yuri Gagarin foi o primeiro homem a voar em órbita terrestre. Mais uma vez a União Soviética tinha a dianteira. "Nós estávamos lançando chimpanzés para o céu, e eles enviaram Yuri Gagarin", comenta Schirra. "Ficamos totalmente chocados." Era novamente hora de um sinal político forte. A essa altura, John F. Kennedy fora eleito presidente dos Estados Unidos e, como Eisenhower antes dele, estava firmemente decidido a superar os soviéticos tecnologicamente. "Esta nação deve se comprometer a, até o fim da década, alcançar a meta de enviar um homem à Lua e trazê-lo de volta em segurança." Em outro discurso, Kennedy reforçou sua convicção: "Não escolhemos a Lua porque seja fácil chegar lá, mas sim por ser difícil." O presidente podia falar assim, pois os EUA haviam recuperado um certo terreno em relação aos soviéticos. Quando, em 5 de maio de 1961, Alan Sheperd consagrou-se como primeiro americano na órbita terrestre, a distância entre ambos diminuíra para menos de mês: estava óbvio que a Nasa passara para a pista de ultrapassagem. Nos próximos oito anos, os americanos executaram o dobro de voos espaciais que a URSS. Com um sério revés: em 1967, uma nave explodiu durante os testes de solo, matando três astronautas e acarretando um atraso de 21 meses para os voos tripulados. Ao mesmo tempo, porém, a Nasa estabelecia para si metas cada vez mais ambiciosas, como as primeiras órbitas lunares, em outubro e dezembro de 1968. Pela primeira vez seres humanos avistavam o lado oculto do satélite terrestre. "Na Apollo 8, nós giramos nossa nave e vimos, pela primeira vez, o lado da Lua voltado para longe da Terra. Ele estava a apenas 60 milhas de nós, e ficamos olhando pela janela, como crianças de escola através da vitrine de uma loja de doces", descreve James Lovell. "Por um momento, esqueci o plano de voo, enquanto passávamos lentamente por essas crateras super antigas." Daí para a alunissagem com a Apollo 11, foi um passo relativamente pequeno. Dos três astronautas que participaram da missão, Michael Collins permaneceu em órbita, enquanto Buzz Aldrin e Neil Armstrong desacoplaram com a Eagle, sua cápsula de pouso. "Tem momento na vida que a gente nunca esquece. E o pouso na Lua, principalmente os últimos minutos antes, eu nunca vou esquecer", comenta Gene Kranz. Ele era o responsável pela operação na Terra, como diretor de voo num centro de controle da Nasa em Houston, Texas. Quando se esforçava para pousar a cápsula em segurança na superfície lunar, diversos alarmes soaram nos computadores. "E quando a tripulação assumiu, uns dois minutos antes da alunissagem, ficou claro que a gente precisava de muito mais combustível do que planejara." Mesmo depois do sucesso do pouso, em 20 de julho de 1969 – que Armstrong e Aldrin confirmaram com a frase "The Eagle has landed" –, reinava agitação em Houston. "Nenhuma das pessoas no centro de controle conseguiu realmente compreender as emoções do momento, pois nas duas horas seguintes estávamos simplesmente ocupados demais, sem parar", lembra Kranz. A alunissagem não foi a única estreia, mas também a transmissão ao vivo do evento pela televisão. O interesse da imprensa era enorme, mais de 2 mil jornalistas se credenciaram para Cabo Canaveral e Houston. "Até então, a televisão podia ser uma meta, mas não era indispensável", conta Kranz. E para ele não era absolutamente garantido que, no momento decisivo, a coisa fosse funcionar. "Depois que pousamos, para nós o que contava eram as imagens. Eu pensava: 'E se agora a televisão não funcionar!' Se agora der errado, vou ser eu o culpado de que não houve fotos da Lua!" Mas a tecnologia colaborou e milhões por todo o mundo viram quando Neil Armstrong colocou o pé na Lua, como primeiro ser humano, pronunciando as palavras inesquecíveis: "That's one small step for [a] man, one giant leap for mankind" – um pequeno passo para um homem, mas um salto gigante para a humanidade. ______________ A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | App | Instagram | Newsletter Autor: Fabian Schmidt (av)

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