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Chefe da Apex se torna a primeira baixa do governo Bolsonaro

07:10 | Jan. 11, 2019
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Dez dias depois da posse, o governo Jair Bolsonaro demitiu nesta quinta-feira, 10, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Alex Carreiro, que será substituído pelo embaixador Mario Vilalva. A primeira baixa num posto de comando do Executivo foi confirmada pelo próprio Bolsonaro após Carreiro desafiar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O chanceler anunciou a exoneração no dia anterior, mas o presidente da Apex trabalhou nesta quinta normalmente, sob a alegação de que só Bolsonaro poderia demiti-lo.

O episódio causou desgaste para Araújo. Na noite de quarta-feira, dia 9, o ministro anunciou no Twitter que Carreiro havia pedido demissão e seria substituído por Vilalva. O comunicado foi contestado pelo presidente da Apex. Inconformado, ele permaneceu no cargo e obrigou Bolsonaro a divulgar nota ratificando a demissão 24 horas depois da postagem do chanceler - a agência de exportação é um órgão ligado ao Itamaraty.

O presidente também utilizou o Twitter para divulgar que havia recebido Vilalva e Araújo no Planalto. Antes mesmo do anúncio oficial, a foto dos três já circulava nas redes sociais. A imagem foi publicada por Bolsonaro com a mensagem: "Recebi hoje o embaixador Mario Vilalva, indicado pelo chanceler Ernesto Araújo para o cargo de presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Boa noite a todos!".

A demissão ocorreu em meio à tentativa do governo de superar divergências entre os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia) e depois da polêmica em torno da promoção de Antônio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente Hamilton Mourão, para o cargo de assessor especial da presidência do Banco do Brasil com um salário três vezes maior que o atual.

'Encerramento'

Na quarta-feira, 9, Araújo escreveu que Carreiro pediu "o encerramento de suas funções como presidente da Apex". "Agradeço sua importante contribuição. Levei ao presidente Bolsonaro o nome do embaixador Mario Vilalva, com ampla experiência em promoção de exportações, para presidente da Apex."

A exoneração, no entanto, não teria ocorrido a pedido de Carreiro, mas por iniciativa do chanceler, provocada por pressões de dirigentes da agência descontentes com demissões promovidas na gestão relâmpago do chefe da Apex. Interlocutores de Carreiro disseram que ele teria se reunido com Araújo para reclamar de outra indicação de Bolsonaro para a agência: a diretora de Negócios, Letícia Catellani, que foi assessora de Araújo durante a transição de governo. Letícia foi funcionária do diretório estadual paulista do PSL, do qual saiu por divergências com a direção nacional.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, Letícia ficou descontente com o fato de Carreiro ter exonerado 18 pessoas em menos de uma semana e queria reverter as demissões.

Na reunião, Araújo sugeriu que Carreiro pedisse demissão, mas ele se negou. Ao sair do encontro, o chanceler publicou o comunicado no Twitter. O presidente da Apex viu no ato uma tentativa de criar um "fato consumado" para forçá-lo a sair do cargo.

Em nota, a agência disse que Carreiro fora nomeado por Bolsonaro - portanto, não por Araújo. A Apex informou que ele cumpriu expediente normalmente, contrariando a demissão anunciada. Segundo a Apex, Carreiro fez "despachos internos" e recebeu "autoridades de Estado". A agenda não informava quais eram os compromissos nem com quem ele se reuniu.

Políticos

Carreiro acionou contatos políticos em busca de apoio. Enviou a deputados do PSL mensagens de WhatsApp que mostrariam que ele estava sendo forçado a deixar o cargo. Numa tentativa derradeira, recorreu a interlocutores no Planalto, mas, segundo assessores de Bolsonaro, ele não foi recebido pelo presidente.

Araújo, então, procurou Bolsonaro. Em reunião de última hora, levou Vilalva ao encontro do presidente, que posou para a foto, num sinal de que a demissão seria confirmada. A expectativa era de que a exoneração de Carreiro e a nomeação de Vilalva sejam publicadas no Diário Oficial da União desta sexta-feira, 11.

Araújo teve ainda reunião com o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, na manhã de quinta-feira. Mas, segundo o GSI, eles não trataram do caso Apex.

O Itamaraty disse que não comentaria o caso. A Presidência da República não respondeu.

Perfil

O agora ex-presidente da Apex Alex Carreiro tinha proximidade com o presidente Jair Bolsonaro, e seus filhos. No ano passado, era comum que Carreiro circulasse com os Bolsonaro nos corredores da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Ele trabalhou antes no governo da petista Dilma Rousseff como assessor da secretaria executiva da Secretaria dos Portos (gestão do ministro Leônidas Cristino), além de ter passagens por cargos na Caixa e no Sebrae. De acordo com a Apex, Carreiro é formado em Comunicação Social e pós-graduado em gestão pública, tendo atuado em articulação interministerial. Era apontado como "principal responsável pela gestão da Comissão Nacional de Autoridades nos Portos".

Carreiro já foi filiado ao Patriota, partido no qual Bolsonaro quase ingressou para disputar a eleição. Deixou a legenda recentemente e hoje está inscrito no diretório do PSL no Distrito Federal. Sua indicação para a direção da Apex é atribuída a integrantes de seu atual partido. Ele mantém vínculos com integrantes da bancada na Câmara, onde já trabalhou como assessor na representação da legenda.

Nas redes sociais, circulam fotos de Carreiro com filhos do presidente. O vereador no Rio Carlos Bolsonaro (PSL), filho do presidente, negou que o nome de Carreiro tenha sido indicação de seu irmão, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Agência Estado

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