"Não vejo o DEM como partido de direita", diz guru de Ciro
Ciro Gomes se oferece como alternativa ao lulismo, mas busca um vice-presidente ligado ao setor produtivo da região Sudeste e conversa com partidos de centro-direita, como o DEM e o PP. A candidatura de Ciro é, afinal, de centro-esquerda, de centro ou de centro-direita?
Seja assinante O POVO+
Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.
AssineA candidatura do Ciro Gomes deve ter dois lados. De um lado, é uma candidatura de centro-esquerda, que prioriza as alianças com partidos desse campo, a começar pelo PSB e PCdoB. O outro lado: a candidatura de Ciro não deve ser vista apenas como de centro-esquerda. Ela deve se oferecer também como agente social mais importante do Brasil de hoje, que são os emergentes. Quem são eles? Em primeiro lugar, é uma pequena burguesia empreendedora mestiça e morena que luta para abrir e manter pequenos negócios. Em segundo lugar, é uma massa de trabalhadores ainda pobres, mas que mantém dois ou três empregos. Em terceiro, é a multidão que é maioria pobre que já tem os olhos vidrados na vanguarda dos emergentes. Há determinados partidos que estão em diálogo com essa realidade social.
•Quais partidos?
Por exemplo, o DEM. Não vejo o Democratas como direita ou centro-direita. Eles são o partido dos empreendedores regionais. Têm raÃzes nessa estrutura produtiva descentralizada do PaÃs. Pelo contrário, o PSDB, que muitas vezes é visto como um partido à esquerda do Democratas, me parece estar à direita do DEM. Está comprometido com o receituário tradicional do chamado Consenso de Washington. Com uma polÃtica social meramente compensatória e um colonialismo mental e cosmopolita. Isso que é direita. Não considero que uma aliança com o Democratas seja apenas um oportunismo tático. Vejo consistência em manter uma candidatura que tem esses dois lados, que não estão em contradição. Não podemos nos permitir abusar do sectarismo ideológico.
• Ciro Gomes já afirmou que, se eleito, revogaria a reforma trabalhista, chamada por ele de ‘porcaria’. Um dos cotados para vice, Benjamin Steinbruch, é vice-presidente (licenciado) da Fiesp, que apoiou a reforma trabalhista. Não há uma contradição?
Precisamos construir uma candidatura que não seja apenas de centro-esquerda, mas seja também uma candidatura com um projeto produtivista que conquiste os emergentes. Uma candidatura desse tipo precisa incorporar os empreendedores A conta foi invertida. Nós temos todo direito de pleitear que o PT se junte a nós antes do primeiro turno." graúdos, pequenos e médios. Não vejo nenhuma inconsistência nisso.
• É o caso de revogar a reforma?
A reforma como foi feita é um exemplo tÃpico do formulário neoliberal. Não serve. Mas reconheço que a CLT é insuficiente para reger esse novo mundo de práticas produtivas.
• Por que Ciro Gomes ainda assusta o mercado?
O que há de mais legÃtimo nas preocupações do mercado financeiro é o realismo fiscal. Ninguém que esteja atuando no primeiro plano da polÃtica brasileira demonstrou mais compromisso com o realismo fiscal que o Ciro.
• Há uma tentativa de partidos do centro de unificar as candidaturas. Acredita que pode sair daà um nome competitivo?
Não sei se essas forças tradicionais vão ou não arrumar uma candidatura plausÃvel. Por enquanto, não o fizeram. O que vejo é que temos uma grande obra de transformação institucional no PaÃs. A última grande obra institucional no Brasil é a de Getúlio Vargas, e nós ainda vivemos em meio aos destroços do corporativismo do Vargas. O PSDB, que muitas vezes é visto como um partido à esquerda do Democratas, me parece estar à direita do DEM." Lula deu muitos benefÃcios ao povo brasileiro, mas não deixou um legado institucional. As candidaturas de Lula e Ciro não são dois cavalos andando na mesma direção. Tenho imenso respeito pelo presidente Lula, mas vejo que, se amanhã ele voltasse à Presidência, a tendência seria continuar o que fez antes: essa popularização do consumo com o mÃnimo de construção institucional. É uma forma de fazer polÃtica que privilegia apenas o consenso.
• Como a esquerda está fragmentada, acha que é importante para Ciro buscar aliança com o PT?
Não vejo a esquerda tão fragmentada assim. Há uma tendência de uma aliança com PSB e PCdoB. E, do outro lado, uma abertura para os partidos do centro, especialmente o DEM. Quanto ao PT, espero que supere a tradição de hegemonismo e desempenhe sua responsabilidade histórica. E que nos ajude. Em muitas eleições essas mesmas forças se juntaram para apoiar o candidato do PT. Agora, estamos em outro momento. A conta foi invertida. Nós temos todo direito de pleitear que o PT se junte a nós no primeiro turno. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Agência Estado
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente