O general de Tasso contra a aliança de Ciro
O bunker do general tem sido, desde 21 de abril, o 12.º andar da torre empresarial do shopping Iguatemi, em Fortaleza (CE), ao lado do Parque Estadual do Cocó, o quarto maior da América Latina. É a sede do poderoso grupo empresarial do senador tucano Tasso Jereissati, três vezes governador do Estado, e agora responsável pela escolha do quatro estrelas para tentar derrotar o até aqui franco favorito à reeleição, o governador Camilo Santana, do PT - apoiado pela "oligarquia Ferreira Gomes" (Cid e Ciro), como a chama o general, e por uma coligação de mais 20 partidos.
O primeiro a oferecer uma candidatura política para o chefe militar foi o prefeito tucano de Manaus, Arthur Virgilio. Convidou-o para disputar a Câmara Federal nos tempos em que era Comandante Militar da Amazônia, entre 2014 e 2016. Não rolou. Mas em março, quando passou para a reserva, Virgílio acionou Tasso Jereissati. Algumas conversas depois, o general cearense era candidato a governador.
"O meu PSDB é o do senador Tasso Jereissati, um homem honesto, de transparência, de integridade, de responsabilidade, com exemplos consolidados de gestor público", esclarece o avô de Alice na mesa de mármore oval com vista espraiada para a vegetação exuberante do Cocó. "Quem mais apostaria na novidade de um general sem experiência nessa classe política?"
O piloto da Harley contou ao jornal O Estado de S. Paulo algumas frases que disse ao senador Jereissati: "Não vou fazer conchavo político com ninguém"; "não aceito pressão, se eleito for"; "os cargos serão preenchidos pela meritocracia".
São ideias que tem divulgado em entrevistas frequentes, principalmente para as rádios do interior cearense (184 municípios), em que também se declara "totalmente contra" a intervenção militar na área de segurança em curso no Rio de Janeiro. "Foi uma decisão política, para impedir que se votasse a reforma da Previdência", diz.
De 0 a 10, sua nota para o presidente Michel Temer é 5. O general trabalha, também, com Marcos Holanda, ex-presidente do Banco do Nordeste, na elaboração do programa de governo. "Não sou político, estou político", diz, definindo-se como "de centro". "Eu sou estrategista, eu não sou politiqueiro".
Seu adversário é o governador do Estado. "O Camilo perdeu a autoridade, falta gestão", diz, com críticas genéricas e pontuais a todas as áreas do governo. "Essa coligação maluca de 21 partidos, e a política do 'é dando que se recebe', não vão chegar a um resultado bom", afirma. Na eleição presidencial, o general admira o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), como colega, mas vai de Geraldo Alckmin (PSDB), não sabendo explicar porque a candidatura não deslanchou. "Ainda não estudei isso a fundo", disse o neo-tucano.
Nascido em Fortaleza, onde a família tem raízes históricas - os Cals e os Theophilo - o general é filho do general de brigada Manuel Theophilo Gaspar de Oliveira Neto, já falecido, ativo participante do golpe militar de 64. "Foi preso três vezes", lembra o filho, ele próprio um entusiasta do que chama de "contrarrevolução democrática de 64", que apoiou até o final do governo do conterrâneo Castelo Branco. "O erro do Exército foi permanecer no poder", disse, declarando-se contra a tortura e outras práticas de exceção. Fã declarado de Castelo, lembrou-se de uma frase que atribuiu a ele: "O militar não pode ter medo de ideias novas".
César Cals, ministro no governo João Figueiredo e governador do Ceará, já falecido, é tio do agora candidato.
Currículo
Seu currículo militar inclui - além dos comandos e de 300 saltos de paraquedas - curso de antiguerrilha na Colômbia, com operações reais; atuação pela ONU nas conversações de paz da Nicarágua ("cercaram o meu carro, começaram a balançar"); curso em Genebra, Suíça, pelo órgão da ONU para desarmamento e pesquisa, em 1996; viagens ao Haiti como comandante de Logística, entre elas a do ano passado, responsável pelo repatriamento de todo o material.
Como comandante militar da Amazônia, implantou o megaprojeto Amazônia Conectada - a distribuição de 7.800 quilômetros de cabos subfluviais de fibras óticas, ao longo das calhas dos rios Negro, Solimões, Madeira, Purus e Juruá, atingindo 52 municípios. Coordenou, também, a criação do Pró-Amazônia, um projeto de apoio aos institutos de pesquisa interessados na região.
"De Manaus para a frente, a infraestrutura é toda por conta do Exército", explicou o agora político com a saudade na cara. O Pró-Amazônia alarmou o senador petista Lindberg Farias, que não gostou da presença de pesquisadores americanos. O general foi dar explicações no Senado. "O mundo é globalizado", disse.
O general nada, corre no parque Cocó, cavalga a Harley, diverte-se com Alice, mantém o porte atlético em 1,71 de altura em 76 quilos. Vê-se de cara que 45 anos de disciplina militar definem uma personalidade - e que não está sendo muito fácil adaptar-se ao "estar político". Mas ele tem se esforçado. "Eu entrei para acabar com essa mesmice que há anos nós estamos vendo no Estado", afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Agência Estado
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente