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Lula diz que Brasil estava anestesiado desde o impeachment de Dilma

22:30 | 16/01/2018
Diante de uma plateia de cerca de mil apoiadores da área da cultura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na noite desta terça-feira, 16, no Rio, que a sociedade brasileira estava anestesiada desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. O petista afirmou ainda que é encarado por seus opositores como um "um tumor" a ser extirpado.

"Estamos vivendo um momento irrealista. Eles anestesiaram o País, inventaram uma doença chamada PT e Dilma para fazer uma cirurgia para consertar o Brasil. Quando viram que não tinham extirpado a doença toda, inventaram outra, o Lula, que é o tumor dessa doença", afirmou, no evento "Em Defesa da Democracia e de Lula", realizado no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, zona sul do Rio. Antes, na porta do teatro, foi realizado um pequeno mas ruidoso protesto que pedia "Lula na cadeia já".

Réu da Lava Jato, Lula será julgado pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4) no dia 24, em Porto Alegre, no caso do tríplex do Guarujá (SP). Segundo a Justiça, o apartamento teve a reforma paga pela empreiteira OAS, que recebeu em troca vantagens indevidas. O ex-presidente nega que o imóvel seja dele. "Eu ia roubar R$ 500 mil quando poderia ter um apartamento cheio de mala de dinheiro?", disse, recebendo muitos aplausos da plateia.

Lula já foi sentenciado pelo juiz federal Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 9 anos e 6 meses de prisão no processo sobre o tríplex. Caso seja condenado também na segunda instância, a princípio não poderá se candidatar a presidente nas eleições de outubro, por conta da Lei da Ficha Limpa.

Sobre a queda de Dilma e seu processo na Justiça, Lula afirmou: "Nós caímos rápido demais, do que estamos nos levantando. Fomos destruídos em pouco tempo. Criaram uma animosidade na sociedade, ódio, rivalidade. Fizeram tudo isso e apareceu (o deputado Jair) Bolsonaro (PSC-RJ). Agora vão saber o que é bom", ironizou.

Acompanharam Lula no palco do Casa Grande a cantora Beth Carvalho, o humorista Gregorio Duvivier, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, os diretores de teatro Aderbal Freire-Filho e Amir Haddad e os atores Dira Paes, Chico Diaz, Herson Capri, Cristina Pereira, Bete Mendes, Antonio Pitanga e Osmar Prado, entre outros. Também estava presente o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, aventado como possível opositor de Lula na corrida presidencial, numa chapa do PSOL. O compositor Chico Buarque ajudou na mobilização do evento, mas não compareceu.

Cristina Pereira foi hostilizada pelos manifestantes anti-Lula na chegada ao Casa Grande. Eram dez pessoas, que provocavam os apoiadores do ex-presidente na calçada oposta à do teatro, gritando insultos. O grupo pedia intervenção militar no País e trazia bandeiras nacionais.

Osmar Prado, que chegou pouco antes, os ignorou. "Quem tem medo de Luiz Inácio Lula da Silva? Os candidatos que não têm condições de derrotá-lo na urna. Em todas as pesquisas ele está na frente. Lula teve dois mandatos e diminuiu a distância entre a casa grande e a senzala. Isso fica gravado na memória do povo."

Gregorio Duvivier fez piada do protesto na porta do teatro. "Ficou muito claro que a indignação deles é classista, eles não saem de casa há um ano", disse, sobre organizações como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre. "Fico muito feliz de ver tanta gente de vermelha no Leblon", continuou, referindo-se ao fato de o ato ser no bairro mais sofisticado do Rio. Também no palco, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que vem acompanhando Lula em atos públicos, foi saudado com gritos de "eô eô, Amorim governador". O ex-chanceler é cotado para disputar o governo do Rio pelo PT.

Em dezembro, um grupo de artistas, intelectuais e representantes de movimentos sociais, integrado por Chico Buarque, pelos escritores Raduan Nassar e Milton Hatoum e pelo teólogo Leonardo Boff, entre outros, publicou um manifesto contra "a perseguição a Lula", divulgado no Brasil e no exterior (foi traduzido para sete idiomas) e intitulado "Eleição sem Lula é fraude". O texto pede garantias à sua candidatura.

Neste mês, diante da iminência do julgamento de Lula o TRF-4, dois possíveis candidatos à Presidência, Boulos e a deputada estadual gaúcha Manuela D'Ávila (PCdoB) saíram em defesa do direito do petista de concorrer.

No encontro desta terça-feira, Boulos disse que compareceu por "estar do lado da democracia" e que irá a Porto Alegre para apoiar Lula no julgamento no TRF-4. "Contra (o presidente Michel) Temer tem prova de sobra, contra Lula o que tem é perseguição deslavada. Ninguém no Brasil pode admitir isso de forma natural. Para defender Lula não é precisa estar 100% sintonizado com seu partido, basta defender a Constituição Brasileira".

Para a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, "o TRF-4 tem a oportunidade de mostrar que há justiça isenta no País". "Não dá para aceitar outra sentença que não seja a absolvição", declarou.

Agência Estado

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