Odebrecht repassava caixa 2 a partidos no Brasil e em outros países, diz delator
Soares foi um dos três executivos responsáveis pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, de 2006 a 2014. Ouvido no dia 8 de março, na ação movida pelo PSDB que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer, de 2014, o executivo confirmou ao TSE que foi transferido para o departamento para cuidar das despesas "não diretamente registradas nos livros da companhia".
Questionado se "caixa 2 para o setor político" também se fazia no setor, ele respondeu: "Sim".
"Não só partidos políticos, não só no Brasil como na América Latina e em outros países", explicou Soares, um dos executivos que cuidavam do setor de propinas da Odebrecht.
Soares é um dos 78 delatores da Operação Lava Jato, que tiveram os acordos de colaboração homologados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi preso na 26ª. fase, Operação Xepa. Segundo ele, o volume de recursos movimentado pelo "setor de propinas" cresceu conforme aumentou o faturamento da Odebrecht.
Ao TSE, Soares confirmou que "cuidava mais da parte do exterior". "Principalmente na abertura das empresas offshores, do controle dessas empresas e também ainda na busca de alternativas, quais são os bancos que a gente ia trabalhar, essas coisas."
Soares contou que entrou na Odebrecht em 1988, na empresa CBPO, Companhia Brasileira de Projetos e Obras, em São Paulo, na área financeira. "Foram vinte e oito anos de companhia." Ex-funcionário de bancos, ele passou a atuar na área financeira para o exterior da empresa. "Morei no Chile, na Argentina, morei em Angola também."
"Em 2006 fui transferido para um Setor (de Operações Estruturadas), junto com o Sr. Hilberto Silva, que passou a ser meu líder de operações estruturadas, foi onde trabalhei até 2014, meados de 2014, junho, julho de 2014, onde fui transferido para o exterior novamente, fui trabalhar na Odebrecht Global Sourcing, nos Estados Unidos, onde fiquei até sair da Odebrecht em 2015".
O executivo era responsável pelas propinas pagas no exterior da Odebrecht. Ao TSE, ele contou como funcionava a sistemática da rede de contas secretas do grupo, em nome de empresas offshores, para pagamentos de propinas fora do Brasil - propinas e caixa 2, segundo ele.
O executivo confirmou ao TSE o que a Lava Jato já sabia, antes mesmo da mega delação premiada da Odebrecht, sobre a composição do setor de propinas. Em abril de 2016, as secretárias Maria Lucia Guimarães Tavares e Ângela Palmeira, presas na 23ª fase, batizada de Operação Acarajé, contaram quais eram os membros do departamento e suas funções.
"O chefe era Hilberto Silva e tinham duas pessoas mais diretamente ligadas a ele, que eram Fernando Migliaccio da Silva, que era como se fosse um substituto do Hilberto e eu. E abaixo da gente, em Salvador, tinham duas meninas, que faziam a parte mais operacional, que era a Maria Lúcia Tavares e a Ângela Palmeira", disse o executivo, ao TSE.