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Ex-gerente da Petrobras relata recebimento de propina da Odebrecht

13:12 | 26/11/2016
O engenheiro Glauco Legatti, funcionário aposentado da Petrobras, procurou a Operação Lava Jato no início do mês para prestar �esclarecimentos de forma espontânea�. Legatti, que teve sua tentativa de delação premiada frustrada, informou que começou a receber propina da empreiteira Odebrecht em 2001 e, em uma oportunidade, os valores saíram de uma �máquina da contar dinheiro�. Entre 2001 e 2014, Glauco Legatti disse acreditar ter recebido US$ 7 milhões da empreiteira.

A Odebrecht vive um momento crucial de sua existência. Apontada como a maior empreiteira do País, busca fechar acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato. Seu presidente, Marcelo Bahia Odebrecht, está preso desde 19 de junho de 2015. O juiz Sérgio Moro o condenou a 19 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

"O declarante (Glauco Legatti) e sua defesa desejam consignar que buscaram o Ministério Público Federal e a Polícia Federal visando a iniciar negociação de acordo de colaboração, uma vez que o declarante se colocou à disposição para relatar fatos ilícitos, no âmbito da Operação Lava Jato; que não tendo logrado celebrar acordo, uma vez que os referidos órgãos não vislumbraram o atendimento aos pressupostos da Lei, dispôs-se, por meio de petição, a prestar esclarecimentos de forma espontânea, nos presentes autos, a fim de que seja sua disposição em colaborar submetida à apreciação do Juízo Federal e do Ministério Público Federal, para avaliação de possível benefício", afirma o depoimento.

Legatti declarou que entrou na Petrobras em 1979 e trabalhou na estatal por 36 anos. Especialista em dutos terrestres, o engenheiro contou que em 1996 assumiu uma gerência de empreendimentos, então vinculada à diretoria de engenharia e tornou-se responsável pelas obras do nordeste setentrional até o Amazonas.

"Nesse período conheceu Rogério Araújo, da Odebrecht; ele possuía obras lá porque na época trabalhava na Tenege (posteriormente absorvida pela Odebrecht); que por volta de 2001 ou 2002, o declarante era gerente do empreendimento (no setor de implementação de empreendimento de transporte dutoviário e ATR) e foi abordado por Rogério Araújo, acerca de pagamento de vantagens indevidas; que Rogério aproximou-se do declarante como se já fosse algo "institucional" da Odebrecht, oferecendo vantagem indevida", relatou o engenheiro.

De acordo com Glauco Legatti, a amizade que tinha com Rogério Araújo na época �provavelmente facilitou a aproximação�. O engenheiro declarou lembrar de muitos detalhes sobre a primeira conversa com o executivo da Odebrecht.

"Acertaram então o primeiro pagamento, que ocorreu em uma sala comercial na Rua da Assembleia, n. 10, andar alto (Centro do Rio), que acredita que fosse um escritório de doleiro; que Rogério o acompanhou até o local, onde então falou uma senha a uma secretária (algo como o nome de um réptil ou peixe) e então foi encaminhado a uma sala, onde havia uma máquina de contar dinheiro; que então retirou o dinheiro, em espécie", relatou.

O engenheiro disse que �isso ocorreu mais duas ou três vezes, tendo indo ao mesmo local, dessa vez sozinho�. Segundo Glauco Legatti, o executivo da Odebrecht �lhe avisava que o dinheiro estava disponível, dava-lhe um senha, e então ele se dirigia até lá�.

"Isso ocorreu em 2001 ou 2002; que ganhou cerca de R$ 50 mil a 100 mil por ocasião em que retirou lá", declarou o engenheiro.

A PF questionou Glauco Legatti sobre o que o ex-funcionário da Petrobras fez com o dinheiro. Ele disse que na mesma época procurou uma casa de câmbio na Avenida Rio Branco, no centro do Rio, para a abertura de conta. Glauco Legatti disse não lembrar o nome da casa de câmbio e nem da pessoa que procurou.

"O declarante dirigiu-se ao Credit Suisse e a pessoa referida lhe aguardava para a abertura da conta; que a conta possuía um número e o nome Moet Chandon", detalhou.

Glauco Legatti disse à Federal que �posteriormente� o doleiro Bernardo Freiburghaus �apareceu em cena, já que trabalhava no banco, e "assumiu" a gerência da conta�. Freiburghaus, que vive na Suíça, é apontado pela Operação Lava Jato como operador de propinas da Odebrecht.

No depoimento, o engenheiro contou que depois de abrir a conta, mandou os dinheiro recebido de Rogério Araújo e �outras economias pessoais� para a conta no exterior �por meio de "doleiro", pessoa vinculada à casa de câmbio�. O engenheiro disse que deu o número da conta no exterior para que Rogério Araújo efetuasse �depósitos lá�.

"Não possui documentos da referida conta; que na conta, possuía cerca de US$ 1 milhão entre vantagens indevidas e economias pessoais", disse.

Abreu e Lima. Glauco Legatti relatou à PF que em 2007 assumiu o projeto da Refinaria do Nordeste (RNEST), emblemático empreendimento da Petrobras que sofreu com superfaturamento e desvios, em Abreu e Lima, Pernambuco. O engenheiro foi gerente da Refinaria e ocupou o cargo na Abreu e Lima durante seis anos, entre 2008 e 2014 - foi afastado oito meses depois da deflagração da fase ostensiva da Lava Jato.

"Já em 2007, quando assumiu o projeto da RNEST (gerente-geral), Rogério (Araújo) disse ao declarante que seria bom "reativar" sua conta no exterior; que na época, Bernardo não estava mais no Credit Suisse; que então foi com o Rogério no escritório do Bernardo; abrir uma conta no Julius Bär, de nome Kalvaz; que transferiu todo o saldo da Moet Chandon para essa nova conta", declarou.

"Passou a receber pagamentos indevidos nessa conta, por meio de Rogério; que os pagamentos se iniciaram em 2007 e foram até 2011; que nessa conta restaram cerca de US$ 5 milhões."

Por orientação de Bernardo Freiburghaus, declarou o engenheiro, abriu uma outra conta - a Dropjack - em 2011, no Pictet, pela qual também recebeu propina da Odebrecht. Segundo Legatti, o repasse se estendeu até 2014 e, no mesmo ano, as contas foram bloqueadas.

"Na conta Dropjack, havia um saldo final de cerca de US$ 8 milhões", contou. "O declarante não se importava muito com quanto era depositado pela Odebrecht, e só era informado periodicamente sobre o saldo das contas por Bernardo; que os pagamentos cessaram por ocasião do início da Operação Lava Jato."

A Federal questionou Glauco Legatti sobre a contrapartida dada por ele à empreiteira em troca da propina. O engenheiro declarou que disponibilizou �um canal diferenciado para Rogério Araújo no âmbito da RNEST, ainda de talvez de forma inconsciente�.

"Sempre estava disponível para Rogério, talvez em um grau muito maior do que para qualquer outra fornecedora da RNEST; que as vantagens indevidas recebidas não estavam vinculadas a atos específicos e não eram quantificadas a partir de critérios como "medição", etc, mas que acredita que recebeu para garantir um bom trânsito da Odebrecht no empreendimento", declarou.

Procurada, a Odebrecht informou que não vai se manifestar.

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