Entenda greve geral na Argentina e como o Brasil será afetado por ela

Paralisação dos trabalhadores argentinos terá a duração de 12 horas. Brasil deve ser afetado nas viagens aéreas e, posteriormente, no comércio de importações

A Argentina passará por uma greve geral dos trabalhadores, entre meio-dia e meia-noite desta quarta-feira, 24. A paralisação é uma reação direta a duas medidas do presidente Javier Milei, que envolvem, dentre outras coisas, revogação de leis e modificação do código civil. Organizada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), o protesto deve envolver ferroviários, taxistas, trabalhadores de portos, do setor aeronáutico, além de funcionários de estatais.

Mais informações ao vivo:

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

O protesto consiste em uma marcha dos trabalhadores em direção ao Congresso, visando apoio de legisladores contra os decretos. Organizações internacionais de cidadãos e sindicais convocaram a mobilização em favor dos manifestantes argentinos. São esperados atos em Montevidéu, Madri, Londres, Paris e Berlim, entre outras cidades.

A marcha foi convocada em 28 de dezembro e tem caráter peronista, ou seja, de oposição ao governo de Milei. O anúncio veio um dia após o "decretaço" entrar em vigor, medida que altera 350 normas em diferentes áreas, revoga leis e modifica o Código Civil argentino. A norma foi revogada pela Justiça e deve ter sua constitucionalidade julgada em fevereiro pela Suprema Corte.

Além disso, os sindicalistas se opõem à Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, ou "Lei Ônibus", que inclui 600 artigos, como reformas, privatizações, mudanças econômicas e contratuais. Esta medida está em discussão no Congresso e teve alguns pontos alterados, nesta segunda-feira, 22, por Milei. Às vésperas da greve, foram excluídos 141 dos 664 artigos originais, porém mantidas as reformas liberais de base.

Como reação, o governo argentino criticou a manifestação. Dentre as declarações, o porta-voz de Milei, Manuel Adorni, disse que os sindicalistas “claramente estão do lado da história, contra as pessoas que trabalham” e que “a marcha não tem sentido”.

O próprio Javier Milei afirmou que irá descontar o dia de trabalho dos funcionários federais. O ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, ameaçou processar os grevistas. A ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, criou uma linha para denúncias de trabalhadores que se sintam ameaçados por piquetes.

Em defesa da movimentação, Facundo Moyano, vice-secretário-geral da CGT afirmou: "Nenhum sindicato está em posição de ceder nem um centímetro do que foi conquistado".

Consequências para o Brasil

Segundo o analista político Leonardo Bayma, a greve argentina deve provocar alguns impactos para o Brasil. O primeiro deles, já em vigor, é o cancelamento de viagens aéreas para o país vizinho, durante essa quarta-feira. “Isso porque pilotos, comissários de bordo, pessoal de terra e carregadores de malas nos aeroportos deverão aderir à greve”, explicou.

De fato, as companhias aéreas Gol e Latam anunciaram o cancelamento de todos os voos com destino a Argentina na data em questão, em função da greve. As empresas ainda esclareceram que as viagens poderão ser remarcadas sem qualquer taxa.

Para Leonardo Bayma, no entanto, o Brasil poderá ser atingido pela greve de outras formas, a depender de como a paralisação se desenrolar. Dentre os setores que podem ser impactados, o especialista cita as importações de automóveis fabricados na Argentina.

“Caso tenha maciça adesão dos trabalhadores sindicalizados à greve geral no dia de hoje, a mesma poderá vir a ser estendida tornando-se permanente, vindo assim a atingir o Brasil em outros setores, principalmente com relação às importações de automóveis fabricados na Argentina, assim como bens primários importados daquele país pelo Brasil, podendo provocar atraso nas entregas”, disse.

 

Inflação e decretos

Toda essa movimentação do governo argentino vem em um contexto de alta inflação, que chegou a atingir 211% em 12 meses, sendo a maior em 30 anos. Em dezembro, o consumo diminuiu 13,7% no mesmo período e a produção das pequenas indústrias caiu 26,9%, segundo a câmara empresarial Came, conforme a AFP.

A desvalorização da moeda em 50% e a liberação dos preços dos combustíveis, entre outras decisões de Milei, também reduziram drasticamente o poder aquisitivo dos assalariados e aposentados, e o descontentamento se refletiu nas ruas. Ainda assim, pesquisas mostram que o presidente mantém uma imagem positiva entre 47% e 55% dos entrevistados.

Assim, veio o “decretaço”, em 27 de dezembro, cujos pontos mais polêmicos envolvem a transformação de estatais em sociedades anônimas para que possam ser posteriormente privatizadas, assim como uma "modernização" do regime trabalhista. Além disso, a medida revogou a lei do aluguel, abrindo espaço para que inquilinos e proprietários negociem contratos sem taxa fixa para aumentos.

Já a Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, ou "Lei Ómnibus", conta com 664 artigos. Dentre as medidas, inclui-se uma pena de até 6 anos para organizadores de protestos, “com a promessa de remuneração ou ameaça de perda de benefícios, programas sociais ou subsídios”. Além disso, há uma proposta de eliminação da taxa de 50% em cima de compras no exterior de mais de US$ 500. Por fim, a lei prevê que, caso três argentinos ou mais estejam em reunião em espaço público, eles deverão solicitar uma autorização para o Governo.

Com AFP e Agência Estado

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

argentina greve argentina milei protestos brasil internacional

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar