Prefeito "ciclista" de cidade moçambicana conhece infraestrutura de mobilidade de Fortaleza

O gestor de Quelimane, em Moçambique, visitou o bicicletário de Fortaleza e a infraestrutura de mobilidade urbana da cidade com objetivo de conhecer os resultados positivos e negativos do projeto

O prefeito da cidade de Quelimane, em Moçambique, Manuel de Araújo, visitou Fortaleza de 20 a 22 de novembro, como parte da programação da 39º Assembleia Geral da União das Cidades de Língua Portuguesa (UCCLA).

Em visita ao O POVO nesta quarta-feira, 22, Manuel afirmou que o objetivo da viagem, além da participação na Assembleia, foi conhecer a estrutura de ciclofaixas da cidade, uma vez que Fortaleza ficou em primeiro lugar na premiação Bloomberg Initiative for Cycling Infrastructure (BICI) — Iniciativa Bloomberg para Infraestrutura de Ciclismo — em 2023. Quelimane ficou em décimo lugar no mesmo ranking.

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“Eu vim para cá aprender um pouco, ver o que é que levou Fortaleza a ficar em primeiro lugar, porque nós também podemos”, explicou. “Tive uma reunião com o setor que lida com a mobilidade, e a Fundação Citinova (Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza) com o Luiz (Alberto Sabóia), que é o presidente, e a sua equipe, onde eles descreveram a trajetória que a cidade desde 2014, no período do prefeito Roberto Cláudio”, acrescentou.

Superintendente da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), Antônio Ferreira Silva, afirma que o objetivo da Prefeitura é chegar à marca de 500 km de ciclofaixas até o próximo ano na cidade.

Segundo Manuel, Quelimane é a capital da bicicleta em Moçambique e ele deseja estender o título para o continente africano. O prefeito também destacou o impacto positivo do transporte no meio ambiente.

“A minha cidade tem cerca de 500 mil a 600 mil habitantes. É conhecida como o pequeno Brasil, porque tem o maior Carnaval de Moçambique, e é a capital da bicicleta em Moçambique. Eu sou conhecido como o cycling mayor, ou seja, o prefeito que anda de bicicleta. E eu faço a minha campanha política para a reeleição sempre usando a bicicleta, ou então a pé. Portanto, não uso combustíveis fósseis”, explicou.

“A bicicleta tem duas vantagens: uma, contribui para o bem-estar da saúde, evita doenças cardiovasculares, por causa da física, mas também não polui o meio ambiente. Nós fomos a primeira cidade que construiu, por exemplo, a primeira ciclovia no meu país, e ganhei, no ano passado, o Prémio das Nações Unidas sobre a Bicicleta, a promoção dos transportes descarbonizados, que não usam combustíveis fósseis”, acrescentou.

Apesar de ter elogiado o turismo de Fortaleza e a paisagem natural da cidade, Manuel também destacou a evidente desigualdade social presente na capital e a necessidade de criação de políticas de inclusão.

“Eu penso que aqui poderia haver mais políticas de inclusão. Porque sente-se um diferencial. Um desnível. Parece que há duas cidades. Uma mais afluente que a outra. Deveria haver políticas mais inclusivas (...). Quando começa a haver muita diferenciação entre os mais pobres e os mais ricos, você acaba criando uma situação de instabilidade. Começa a haver mais crimes e isso leva a menos investimentos e outras questões que poderiam ser evitadas”, comentou.

A Assembleia Geral da União das Cidades de Língua Portuguesa (UCCLA) reuniu representantes de 31 cidades de nove países lusófonos em Fortaleza. Eles também participaram de visitas a microparques, areninhas, o Parque Rachel de Queiroz, o Cuca do Pici, e o Centro de Controle da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC).

O representantes das cidades também tiveram reuniões com o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), e o vice-prefeito, Élcio Batista (PSDB). 

Eleições em Moçambique

Manuel de Araújo também comentou as eleições municipais de Moçambique, que foram realizadas em 11 de outubro e até o momento não tiveram os resultados divulgados. Ele também lamentou a falta de reações do governo brasileiro sobre a situação do país.

“Nós tivemos eleições no dia 11 de outubro e foram as piores eleições do meu país. Porque o partido no poder usou a polícia, usou gás lacrimogêneo, usou violência para mudar o resultado. Imagina, eu fiquei muito impressionado que, por exemplo, em Buenos Aires, tiveram uma eleição e no mesmo dia já tiveram os resultados. No meu país foram eleições em 65 autarquias apenas, 65 cidades, e já passaram 40 dias e o resultado ainda não saiu.”

A ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Verónica Macamo, se reuniu nesta semana com missões diplomáticas do Brasil, Itália, Angola, África do Sul, França, Quénia, Rússia, Japão e China. Ela pede que a comunidade internacional confie no processo eleitoral do país e na resolução de conflitos.

“É estranho dizer. O país fica parado durante 40 dias, quase dois meses, à espera dos resultados. E os resultados estão cheios de irregularidades. Algumas embaixadas, como por exemplo, a embaixada dos Estados Unidos, a embaixada da Inglaterra, a embaixada da União Europeia, a embaixada do Canadá, a embaixada da Suíça, a embaixada da Noruega, emitiram comunicados mostrando preocupação sobre as irregularidades que ocorreram nas eleições. Mas, por exemplo, países que nós consideramos países irmãos, como a língua portuguesa, como Portugal, como o Brasil, estão em um silêncio absoluto”, criticou Manuel.

“E isso levanta questões sobre, afinal, as amizades são entre governos, são entre partidos, são entre países, ou são entre povos? Portanto, nós esperávamos uma atitude da parte do governo do Brasil”, apontou.

Em comunicado durante o período de apuração do processo eleitoral, os EUA solicitaram que as autoridades eleitorais moçambicanos, os tribunais locais e o Conselho Constitucional de Moçambique considerem todas as denúncias de irregularidades e que atuem com imparcialidade.

Relação entre o Brasil e países africanos

Manuel também diz acreditar que o Brasil deve cooperar mais com os países africanos de forma direta, ao invés de usar Portugal como ponte entre as nações.

“A segunda questão é que eu acho que deveria haver mais cooperação entre os países africanos e o Brasil. Agora parece-me que o Brasil fala com os países africanos em língua portuguesa via Portugal. Portanto, há mais relação entre o Brasil e Portugal e há mais relação entre Moçambique, por exemplo, e Portugal”, lamentou.

“Eu acho que há muito mais questões comuns entre o Brasil e Moçambique do que, por exemplo, entre Portugal e Moçambique ou entre Portugal e Angola. Também há uma outra questão que me preocupa que é o fato de, por exemplo, eu com o meu passaporte de serviço posso ir a Portugal sem visto, mas para o Brasil não”, finalizou.

 

 

 

 

 

 

 

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