Economista da equipe de transição de Lula fala em "tirar sem-vergonhas do Bolsa Família"
A economista citou a má gestão da equipe de Bolsonaro e a movimentação de cadastros irregulares durante o período eleitoralA economista Tereza Campello, que faz parte do grupo de transição do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acredita que é preciso uma reformulação nos cadastros de beneficiários do Auxílio Brasil, que deve voltar a se chamar Bolsa Família ano que vem. Segundo ela, no período eleitoral, houve um movimento para ampliar o número de pessoas beneficiadas, entre elas, quem não faz parte da população em situação de pobreza e de extrema pobreza, público-alvo do programa.
Ela ressalta que a parcela mais pobre da população não será afetada, mas, sim, quem está agindo de "má-fé"."A legislação é clara: as pessoas não podiam estar recebendo. Estamos conversando com os municípios. Esse povo vai bater na porta da prefeitura quando o recurso for bloqueado. Serão filas enormes no início do governo Lula com muita gente pobre, mas também muita gente sem-vergonha. Queremos tirar os sem-vergonha", disse ela em entrevista ao Estadão.
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A economista é ex-ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo Dilma Rousseff (PT), quando coordenou o Plano Brasil Sem Miséria. Campello foi anunciada no Gabinete de Transição Governamental como uma das coordenadoras do Grupo de Trabalho de Assistência Social, junto da senadora Simone Tebet (MDB-MS).
A ex-gestora fala em duas situações "muito graves" que geram distorções nos cadastros de beneficiários. A primeira seria a gestão da equipe do presidente Jair Bolsonaro (PL) por não prestar esclarecimentos sobre o cadastro."Não é que as pessoas tentaram fraudar, mas o modelo que eles implantaram induz as famílias a se cadastrarem por adulto. Se tem dois adultos na mesma casa, se cadastram os dois. O certo seria uma família, como era no Bolsa Família", explica.
Campello tece críticas também à falta de diálogo do Governo Federal com os municípios, por não treinarem as equipes na rede de assistência social. E acrescenta: "Criaram um aplicativo que quando você entra já puxa o CPF e induz (o beneficiário) a fazer o cadastro individualmente."
A economista ressaltou, na entrevista, o movimento pré-eleitoral para ampliar o número de pessoas beneficiadas, que chamou de "abuso de poder econômico e político". "Por que explode o cadastro? Porque botaram dentro do Auxílio Brasil na última hora e véspera da eleição milhões de pessoas. Tem um monte de gente que entrou que não faz parte da população pobre, ou desinformada. Tem gente com má-fé", disse.
Segundo ela, é preciso que as fraudes sejam identificadas e apuradas. "Foram 79 mil militares que receberam o benefício. Temos que ir atrás do dinheiro", citando dados encontrados em relatórios do Tribunal Contas da União (TCU).
"É uma crise conhecida porque estamos atuando. Somos transição. Não somos governo. Na quinta, fizemos uma reunião que o governo atual devia ter feito. Chamamos as prefeituras e as organizações dos municípios que fazem a gestão do Bolsa Família para tentar construir uma trajetória comum com o setor público que, na ponta, vai administrar essa filas", pontuou ainda.