Bolsonaro "vai sair de mansinho" do governo, diz Lula em Natal de catadores
Lula participou nessa quarta-feira, 22, de mais uma edição do evento de Natal de catadores em São Paulo, tradição que realiza há 18 anos. Entre outros assuntos, ele comentou a atuação de Bolsonaro e pré-candidatura de Haddad ao governo de SP
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nessa quarta-feira, 22, de mais uma edição do evento de Natal de catadores em São Paulo, tradição que realiza há 18 anos. Enquanto dividia o palanque com catadores e líderes de associações, o petista comentou, entre outros assuntos, a atuação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia de Covid-19 e a disputa de Fernando Haddad (PT) pelo governo paulista.
Comentando sobre o atual presidente, Lula afirmou que ele é uma das diversas crises que acometem o Brasil. “Nós temos crise de tudo nesse País. Crise moral, ética e de um psicopata que está governando. Um cara que não tem sentimentos, que não chora pelas mais de 600 mil mortes [de Covid-19], que nunca visitou um hospital”, disse. Ele destacou ter 76 anos e nunca ter vivido “uma crise como essa” no Brasil.
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“É uma crise de falta de respeito, carinho, solidariedade, amor. É uma crise de transmissão de ódio, é ódio ventilando 24 horas por dia da boca dessa gente”, complementou. O petista supôs que Bolsonaro está “mentindo cinco vezes mais” com sua significativa queda em pesquisas de satisfação pública com o governo. “Ele acha que a mentira vai fazer ele crescer. A mentira vai fazer ele afundar. E não adianta dizer ‘não vou sair’. Vai sair de mansinho porque o povo brasileiro que vai dar um golpe nele e vai tirar ele da Presidência da República”.
“Precisamos humanizar o povo brasileiro”
Participante do Natal dos Catadores de São Paulo, Lula tem marcado presença desde 2003. Ele só deixou de participar em três ocasiões: em 2011, quando tratava câncer na laringe e enviou uma mensagem através da então presidente Dilma Rousseff (PT); em 2018, quando estava preso em Curitiba e enviou uma carta para os participantes; e em 2020, quando o evento não ocorreu em razão do coronavírus.
Ao falar para a plateia do evento deste ano, Lula criticou a violência policial e a ausência do poder público. “Você nunca viu um pelotão de choque invadir uma prefeitura para obrigar um prefeito ou secretário a cumprir aquilo que está num decreto. Você nunca viu a polícia entrar no Palácio dos Bandeirantes para fazer o governador cumprir um decreto. Eles só aparecem para bater no povo quando o povo está reivindicando seus direitos conquistados às duras penas. É esse País que não está certo, que precisa mudar”, discursou.
O ex-presidente também comentou a situação de fome no País. “Que mundo é esse, que você tem um país como o Brasil com 230 milhões de cabeças de gado — não estou falando de porco, cabrito, carneiro, só vaca — para 213 milhões de habitantes e a maioria do povo ainda não consegue comer um pedaço de carne?”, questionou o petista. Ele referenciou a doação de ossos com resto de carne a famílias de Cuiabá, em julho deste ano.
“Precisamos humanizar um pouco o povo brasileiro. Precisamos tirar o ódio que está implantado nesse País como se fosse um tumor maligno. A gente tem que colocar nesse País alguém para cuidar, e não para governar. Cuidar do povo, das crianças, da educação. Alguém que trate as pessoas com respeito. Alguém que enxergue nas pessoas um humano”, afirmou Lula.
“Você vai ganhar”, diz Lula a Haddad
Em certo momento de sua participação no evento dessa quarta, Lula olhou diretamente para Haddad e disparou: “Não sei se você está percebendo que você vai ganhar o governo do estado de São Paulo”. A pré-candidatura para o governo paulista tem sido conturbada devido às pressões para que Haddad abra mão da disputa em prol de articulação que possibilitaria Geraldo Alckmin (PSB) em chapa com Lula.
O ex-governador Márcio França (PSB) é pré-candidato ao governo de SP ao lado de Haddad. Um dos dois teria que desistir da candidatura. Integrantes do PSB afirmam que a aliança nacional com Lula será possibilitada por meio da candidatura de França, enquanto aliados de Haddad destacam não haver volta atrás para o ex-prefeito paulista.
Pesquisa Datafolha publicada no último sábado, 18, testou três cenários para as eleições do governo de SP. Foram ouvidos 2.034 eleitores de 13 a 16 de dezembro, em 70 municípios do Estado. No primeiro cenário, Alckmin, que segue sem uma sigla, lidera a pesquisa com 28% das intenções de voto para ocupar o lugar de seu antigo correligionário, o governador João Doria (PSDB), seguido por Haddad (19%), França (13%), e Guilherme Boulos, do Psol (10%).
Em um segundo cenário, considera-se que Alckmin deixa a corrida, mas França e Boulos permanecem. Nessas condições, o ex-prefeito petista lidera com 28%, acima dos 23% registrados há três meses. Já França permanece com 19% e Boulos oscila de 13% para 11%. Já no terceiro cenário testado pelo Datafolha, simula-se um acordo em que tanto Alckmin quanto Haddad deixam a corrida, supondo que o ex-prefeito concorra ao Senado. Nessa parte do levantamento, o ex-governador França assume a posição de liderança com os mesmos 28% dos rivais, seguido por Guilherme Boulos com 18%.
Assista à participação de Lula no Natal dos catadores
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