Com apoio do Exército, servidores da Abin furaram fila de vacinação

Ministério Público Federal (MPF) investiga caso de vacinação sem o aval do Plano Nacional de Imunizações (PNI) de servidores das Forças Armadas

O Ministério Público Federal (MPF) constatou que 130 servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foram vacinados secretamente contra a Covid-19 no Brasil. Segundo as investigações, o esquema teve participação do Exército, que atuou diretamente para que a imunização, que não tinha o aval do Plano Nacional de Imunizações (PNI), fosse realizado.

Segundo reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, uma lista secreta foi enviada ao Exército com nomes de servidores da Abin que deveriam ser vacinados de forma sigilosa junto com todos os militares da ativa das três Forças Armadas, grupo que teve prioridade na imunização.

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O MPF reuniu documentos que supostamente provam que os servidores realmente receberam as doses do imunizante. A apuração faz parte de inquérito que investiga o privilégio dado aos militares das Forças Armadas, a forças de segurança e aos agentes da Abin em Brasília.

Em uma reunião organizada pela procuradora da República Ana Carolina Roman, responsável pelas investigações, a técnica do PNI Caroline Gava alegou ser inviável responder se a vacinação teria acontecido.

“Tivemos esclarecimento com o GDF [governo do Distrito Federal]. A coordenação de imunização entrou em contato conosco, perguntando sobre esses profissionais [da Abin]. No PNI, esses profissionais não estariam contemplados, por não disporem de ações diretas [relacionadas à atuação em segurança]”, disse. “Se ocorreu a vacinação prioritária, a gente não tem como responder.”

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Logo na semana seguinte, o então diretor do Departamento de Imunização do Ministério da Saúde, Laurício Monteiro Cruz, que também estava presente na reunião, foi demitido. O servidor é suspeito de participar de um mercado paralelo de vacinas junto à pasta.

Em um ofício enviado ao MPF duas semanas antes, o secretário de Saúde do Distrito Federal, Osnei Okumoto, alegou que “houve o pleito de vacinação por parte da associação dos servidores da Abin para vacinação de 130 profissionais a serem contemplados, considerando o critério de exposição de risco epidemiológico decorrente do trabalho por parte desses servidores”.

Segundo o documento, a vacinação aconteceu na Praça dos Cristais, em Brasília, em uma parceria entre a secretaria e o Comando Militar do Planalto, do Exército. O material revela que a escolha dos 130 vacinados foi feita considerando “a importância da discrição quanto ao sigilo das atividades e nomes desses servidores”.

O MPF também reuniu provas que mostram que o Ministério da Defesa atuou para que todos os militares da ativa do Exército, Marinha e Aeronáutica fossem vacinados contra a Covid-19 como grupo prioritário no Distrito Federal. A iniciativa do governo de dar prioridade para os 29,6 mil homens e mulheres da ativa burlava notas técnicas do Ministério da Saúde.

O diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, alegou ao MPF que a vacinação dos agentes atendeu a uma “iniciativa exclusiva” da Associação Nacional dos Oficiais de Inteligência. Ele e a associação dos servidores da Abin defendem que grupo continuou a trabalhar presencialmente durante o período de calamidade pública.

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