Migração de milhares de marroquinos no enclave espanhol de Ceuta ganha holofotes do mundo; entenda o contexto
Ao menos oito mil pessoas, valor equivalente a cerca de 10% da população de Ceuta, alcançaram num só dia as praias, desencadeando uma das mais graves crises diplomáticas recentes entre Espanha e MarrocosNesta semana, o mundo assistiu cenas impressionantes - e repetidas -, de uma migração em massa de cidadãos de países africanos em busca do solo europeu. Desta vez, a maioria dos migrantes veio do Marrocos na tentativa de alcançar, a nado e a pé, a cidade portuária de Ceuta, um dos enclaves espanhóis (o outro é Melilla) no norte da África. O resultado, como de costume, foram cenas de desespero, com jovens e crianças no mar ou exauridos nas areias da praia e posteriores deportações.
Enclave é definido como um território de um Estado com distinções políticas e socioculturais cujas fronteiras ficam, geograficamente, dentro dos limites de um outro território ou região, dominado por outro Estado. Portanto, Ceuta e Melilla formam as únicas fronteiras terrestres entre um país membro da União Europeia e o continente africano, sendo assim conhecidas como tradicionais rotas de imigração.
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Mas se a migração é comum na região, por que ganhou os holofotes mundiais desta vez? A resposta está na dimensão do êxodo. Ao menos oito mil pessoas, valor equivalente a cerca de 10% da população de Ceuta, alcançaram num só dia as praias, desencadeando uma das mais graves crises diplomáticas recentes entre Espanha e Marrocos. Em Fnideq, cidade de 77 mil habitantes no Marrocos (a 15 minutos de Ceuta), foi possível ver de perto o início da caminhada de famílias marroquinas para iniciar a tentativa de migração.
No último dia 18, a Guarda Civil espanhola divulgou fotos que mostravam um socorrista resgatando um bebê e outras crianças no mar. O resgate foi parte da operação hispânica para enviar de volta ao Marrocos as milhares de pessoas que chegaram a nado a Ceuta.
A migração massiva fez com que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, cancelasse uma viagem programada a Paris para ir aos enclaves controlar a situação. “Vamos restabelecer a ordem em nossas cidades e nossas fronteiras com a máxima rapidez”, disse na última terça-feira, 18. Ao menos duas pessoas morreram durante o episódio.
A cruz vermelha esteve no local para auxiliar no resgaste de pessoas. Números atualizados do governo espanhol dão conta de que mais de cinco mil pessoas já foram levadas de volta ao Marrocos. O Exército foi acionado para apoiar a operação de deportação que não parecia seguir formalidades comuns em casos desse tipo.
Contexto da migração
No entanto, o motivo do sucesso - ao menos parcial -, da migração não está claro. Geralmente, forças de Rabat, capital do Marrocos, e de Madri trabalham conjuntamente, nas respectivas fronteiras, para impedir esse tipo de ação. A informação que circula é de que autoridades marroquinas teriam feito vista grossa, permitindo que migrantes cruzassem a fronteira.
A suposta negligência seria uma resposta ao ato dos espanhóis terem permitido que Brahim Ghali, líder do movimento de independência do Saara Ocidental intitulado Frente Polisário, fosse hospitalizado na Espanha no início deste ano para tratamento de Covid-19.
O ministro marroquino de Direitos Humanos, Mostafa Ramid, criticou a ação de Madri ao oferecer asilo ao responsável por um grupo que trava luta armada com o governo do Marrocos; que teme que o tratamento médico dado a Ghali possa levantar questões sobre sua soberania no Saara Ocidental.
Arancha González Laya, chanceler da Espanha, afirmou na quarta-feira que o país sempre foi "prudente" em relação às questões que envolvem a disputa no Saara Ocidental, e que a Espanha nunca teve a intenção de dar à hospitalização de Ghali "um caráter agressivo".
Historicamente conhecidas como pontos de tensão entre Espanha e Marrocos, Ceuta desemboca no Estreito de Gibraltar, enquanto Melilla está a leste da costa mediterrânea do Marrocos. Os enclaves foram conquistados por europeus ainda no fim do século XV.
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