Deputado oftalmologista oferece "tratamento precoce" em troca de "likes" no YouTube

O deputado estadual Albert Dickson (Pros-RN) recomenda medicamentos sem eficácia cientificamente comprovada para o tratamento da Covid-19

O deputado e médico oftalmologista Alberto Dickson (Pros-RN) tem utilizado seu canal nas redes sociais para atender pacientes que desejam obter prescrição de tratamento precoce contra a Covid-19, conjunto de medicamentos sem eficácia científica comprovada contra a doença. Ao invés de trabalhar em função de consultas pagas ou atendimento gratuito, o parlamentar se coloca à disposição dos pacientes após pedido de um "like" no YouTube.

O link para a página do médico aparece em aplicativos de mensagens, como o Telegram, com a seguinte legenda: "Para consultar com esse médico precisa se inscrever no seu canal do YouTube, printar a página, enviar o print da inscrição pelo WhatsApp, o nome completo do paciente, cidade/estado e sintomas".

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Ao enviar uma mensagem para Dickson e perguntar sobre uma consulta para a Covid-19, por meio do número de celular que ele mesmo divulga em seus vídeos, Dickson responde: "Olá querido amigo e paciente. Antes de tudo gostaria que seguisse passo a passo:

1. "cadastre esse meu número nos seus contatos (Dr Albert Dickson)

2. depois, entre no nosso canal do YouTube e se inscrevesse lá. Observe o link abaixo e click.

3. Em seguida, PRINT a foto da inscrição e nos envie pelo WhatsApp.

4. Depois disso, aguarde para contato. Grato."

O  texto acima corresponde à reprodução exata da mensagem recebida após contato do jornal CNN News Brasil. 

Em vídeo publicano no dia 7 de março, o parlamentar deixa claro sua orientação. "Como que vocês vão ter direito à consulta? Vocês vão se inscrever no nosso canal, ganhando uma etapa no atendimento. Vocês vão printar e mandar para o meu WhatsApp. Quando você mandar, você já vai começar a ter o acesso à consulta comigo. O segredo é mandar o print", afirma. 

Em outro material divulgado no Instagram no dia 15 de março, o médico diz: "Nós temos uma sequência no atendimento. Você precisa ir lá no canal do nosso YouTube, se inscrever lá, printar e mandar mensagem para mim. Essa é a chave, vamos dizer assim, para entrar no nosso atendimento". Na mesma rede social, ele compartilha vídeos e outros materiais com constantes orientações e defesas dos medicamentos do tratamento precoce. 

Procurado por email pela BBC, o deputado disse que "sugere" a inscrição em seu perfil de Instagram e canal do YouTube porque neles publica "pesquisas atualizadas" e "explica a doença de forma detalhada e nossa experiência com a mesma, além de tirar dúvidas ao vivo". Além disso, diz ele, não é obrigatório se inscrever no canal para ser atendido. 

Em sua resposta, Dickson defende sua autonomia médica concedida pelo Conselho Federal de Medicina na resolução 04/20. Ele diz ser "defensor do tratamento precoce desde o início da pandemia" e afirma que continuará nesta defesa, afirmando haver "várias pesquisas já preconizadas e publicadas". "Outro ponto chama-se observação clínica que tem sido resolutivo nessa pandemia para muitos médicos". 

O deputado ampliou o número de inscritos em seu canal do YouTube. Quando o canal atingiu 100 mil inscritos, recebeu uma placa comemorativa da empresa. Agora, Dickson tem 201 mil seguidores na rede. As recomendações  são vistas por seus 139 mil seguidores em dois perfis no Instagram. No Facebook, quase 50 mil pessoas o seguem, e há vídeos com mais de 200 mil visualizações. Ele afirmou atender "500 pessoas por dia" e um total, até julho, de "31 mil pessoas do mundo inteiro". 

Após ser procurado pela reportagem, o YouTube informou que, de acordo com uma nova regra da plataforma, o médico teve 12 vídeos deletados por disseminação de conteúdo com informações médicas incorretas, como afirmar que há uma cura garantida para a Covid-19 ou recomendar o uso de ivermectina ou hidroxicloroquina. O canal está no ar porque os vídeos deletados haviam sido publicados em um período anterior a essa nova regra. 

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